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Nelson Pereira lança filme sobre Tom Jobim

Documentário A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, estreia neste mês

Suas canções viajaram para os Estados Unidos e, depois, cruzaram o mundo, como demonstra o novo filme de Nelson Pereira dos Santos (Divulgação)

Suas canções viajaram para os Estados Unidos e, depois, cruzaram o mundo, como demonstra o novo filme de Nelson Pereira dos Santos (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2012 às 11h33.

São Paulo - A trajetória internacional do autor de Garota de Ipanema – retratada no documentário A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, que estreia neste mês – teve início em 1961. Foi quando, involuntariamente, o maestro e pianista carioca virou pelo avesso a política de divulgação das produções musicais norte-americanas, implantada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Naquela época, o governo de lá patrocinava excursões de renomados instrumentistas do jazz pelo mundo, e o Brasil os recebeu em grande número. Eles rapidamente se apaixonaram por nossa música e saíram daqui com as malas repletas de discos. Assim, as criações de Antonio Carlos Jobim (1927-1994) acabaram conquistando tanto êxito na América que, dali a pouco tempo, o brasileiro seria considerado pela crítica e pelos músicos locais um compositor tão importante quanto George Gershwin e Cole Porter.

A isca foi o Samba de Uma Nota Só, canção de Tom e Newton Mendonça, que o trompetista Shorty Rogers e o trombonista Curtis Fuller gravaram em 1961. Logo depois, o genial trompetista Dizzy Gillespie ouviu o disco de João Gilberto lançado nos Estados Unidos e incluiu Desafinado (também da dupla Tom e Newton Mendonça) nas apresentações que fazia em Chicago, no Sutherland Lounge. Mas o sucesso mesmo só chegou quando o guitarrista Charlie Byrd, após se apresentar no Brasil, telefonou para Creed Taylor, produtor da gravadora Verve, e sugeriu realizar um disco apenas com músicas da bossa nova.

Taylor lhe propôs dividir o álbum com o saxofonista Stan Getz. A gravação ocorreu no dia 13 de fevereiro de 1962, data em que o produtor, os dois músicos e mais alguns instrumentistas se reuniram num estúdio improvisado, na Sala Pierce, da Igreja Unitária de Todas as Almas, em Washington. Com um equipamento paupérrimo – um modesto gravador Ampex, cuja fita rodava na velocidade nada recomendada de 7 ½ –, conceberam o long play Jazz Samba. O disco vendeu mais de 1 milhão de cópias, número espantoso para a Verve na época (e ainda hoje).


Quatro contra um

Em julho de 1962, outro motivo fez com que as composições de Tom Jobim ficassem ainda mais conhecidas nos Estados Unidos: a exibição por lá do filme ítalo-franco-brasileiro Orfeu Negro, adaptação da peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes. Tom assinava tanto a trilha do espetáculo quanto a do longa. Em agosto do mesmo ano, ele, Vinicius, João Gilberto e Os Cariocas protagonizaram um show no restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana, que chamou a atenção de empresários norte-americanos. Resultado: em novembro, parte da turma se apresentaria no Carnegie Hall, principal casa de espetáculos de Nova York.

Também em agosto daquele ano, Stan Getz gravou o disco Big Band Bossa Nova, incluindo nele Chega de Saudade (de Tom e Vinicius), que logo seria registrada por diversos cantores norte-americanos. No entanto, a versão criada pela dupla Hendricks-Cavanaugh provocou em Tom o primeiro de muitos desgostos com as transposições para o inglês das letras de suas músicas.

Ele quase brigou, por exemplo, com o amigo Norman Gimbel porque o parceiro não queria colocar o nome da praia ao traduzir Garota de Ipanema. O pretexto era que o norte-americano comum não tinha a menor ideia do significado dessa palavra. Tom venceu a discussão e o planeta inteiro aprendeu que existe um lugar chamado Ipanema. A música, aliás, se tornou uma das mais gravadas e tocadas em todo o século 20.

O medo de avião quase impediu Tom de participar do espetáculo no Carnegie Hall. Na véspera da viagem, o artista acabou convencido a embarcar pelo escritor Fernando Sabino, que foi à casa dele especialmente para tratar do assunto. “Você garante que o avião não vai cair, Fernando?”, perguntou. “Garanto”, respondeu o cronista. “Então eu vou.” O fato é que ele driblou a fobia e permaneceu vários meses nos Estados Unidos, onde fez diversos amigos entre os nomes mais famosos do jazz, além de gravar o álbum instrumental The Composer of Desafinado, Plays, considerado por muitos o melhor de sua carreira. Em 1967, retornou à América especialmente para dividir um disco com o mito Frank Sinatra.

Converteu-se, assim, num dos músicos mais executados naquele país durante a década de 1960. A partir de 1964, só perdia para os Beatles, desvantagem que encarava com realismo e bom humor: “Eu sou apenas um. Eles são quatro”.

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