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Morre o escritor Andrea Camilleri, mestre do romance noir italiano

Criador do comissário Montalbano, Camilleri tinha 93 anos e morreu em decorrência de uma parada cardíaca que havia sofrido no mês de junho

Andrea Camilleri: criador do comissário Salvo Montalbano, era considerado o mestre do romance noir italiano (Press Office Sellerio/Reuters)

Andrea Camilleri: criador do comissário Salvo Montalbano, era considerado o mestre do romance noir italiano (Press Office Sellerio/Reuters)

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AFP

Publicado em 17 de julho de 2019 às 16h56.

O escritor italiano Andrea Camilleri, criador do do emblemático comissário Montalbano, morreu aos 93 anos, nesta quarta-feira (17). A informação foi dada pelo hospital onde ele estava internado em estado crítico desde uma parada cardíaca em junho.

"Seu estado, ainda crítico nos últimos dias, piorou nas últimas horas, comprometendo suas funções vitais", informou o hospital de Roma em um comunicado, acrescentando que o funeral será realizado de forma privada.

A Itália espera, porém, poder prestar uma última homenagem a esse mestre do romance policial.

Foi sob sua caneta que nasceu, em 1994, o famoso comissário Montalbano, apreciador da boa mesa e uma das principais figuras do romance policial europeu.

Diretor de teatro e de televisão e roteirista, Andrea Camilleri, tornou-se conhecido como romancista tardiamente, mas o sucesso foi avassalador.

O anúncio da morte deste ex-militante comunista provocou uma chuva de homenagens unânimes em toda Itália e nas redes sociais, onde a mensagem "Ciao Maestro" ("Adeus, Mestre") estava em alta.

"Esta é uma triste notícia para a Sicília, que perde seu filho, e para a Itália, que vê partir um magnífico mestre da vida. Adeus Andrea Camilleri, vamos sentir sua falta", declarou o vice-primeiro-ministro Luigi Di Maio (M5S, antissistema).

O outro vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini (extrema direita), elogiou "o incansável narrador de sua Sicília".

"Uma única e maravilhosa voz desaparece", escreveu Nicola Zingaretti, líder do Partido Democrata (centro esquerda) e irmão de Luca Zingaretti, o ator que interpreta o comissário Montalbano na televisão.

"Perdemos muito mais do que um grande escritor. Restará para nós a beleza de suas histórias", completou.

"Ele ofereceu a Sicília ao mundo", disse o ministro da Justiça, Alfonso Bonafede, ele próprio um siciliano.

O escritor deixa esposa, três filhas e quatro netos.

Fenômeno editorial

Camilleri foi protagonista de um verdadeiro fenômeno editorial ao ganhar os leitores com o comissário Salvo Montalbano e suas intrigas policiais.

Nascido em Porto Empedocle, na Sicília, em 6 de setembro de 1925, o escritor conseguiu um sucesso internacional espetacular com os romances policiais do comissário de Vigata, uma pequena cidade imaginária siciliana.

Com Montalbano, nome escolhido em homenagem ao escritor espanhol Manuel Vázquez Montalbán, ele se tornou um dos escritores mais bem-sucedidos na Itália. Seu personagem é protagonista de uma popular série de televisão, supervisionada por seu criador e distribuída em muitos países, particularmente na América Latina.

Mesmo com toda fama, Camilleri viveu com a mulher, por mais de 50 anos, em uma modesta casa de Roma.

Refratário a escrever sobre a máfia, algo muito comum em seu país, Camilleri sempre se definiu como um homem de esquerda, e sua visão política estava implícita em todas as suas obras.

"Não lamento nada. Tive sorte na vida. Ganhei meu pão, fazendo o que gosto de fazer", declarou recentemente em uma entrevista.

Com mais de 100 títulos de sua autoria e 30 milhões de exemplares vendidos, sua obra é impregnada da complexa e refinada mentalidade siciliana, como acontece com outro renomados autores da região, como Leonardo Sciacia, Giuseppe Tomassi di Lampedusa e Luigi Pirandello.

Em 2016, quando perdeu a visão, Camilleri publicou "L'altro capo del filo", uma nova investigação de Montalbano que ele disse ter ditado a sua assistente.

Entre seus muitos livros, reconheceu preferir "O rei de Girgenti" sobre um camponês que se tornou o efêmero rei de Girgenti, a antiga Agrigento, ainda sob domínio espanhol no século XVII.

O escritor, que estava preparando uma peça sobre Caim para a temporada de verão nos Banhos Romanos de Caracalla, confessou recentemente em tom jocoso que gostaria de terminar sua carreira, "contando histórias em uma praça para depois passar o chapéu entre o público".

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