Interceptor 650 e Continental GT 650: arte de uma estratégia global de atingir um público mais exigente e de maior poder aquisitivo (Divulgação/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2020 às 07h00.
Última atualização em 22 de janeiro de 2020 às 07h03.
São Paulo — Uma viagem pela Rio-Santos, uma das estradas mais charmosas do país, entre São Paulo e a cidade histórica de Paraty.
Esse será o percurso da road trip de estreia oficial das duas novas motos que a Royal Enfield traz ao Brasil, a Continental GT 650 cc e a Interceptor 650 cc. O passeio acontece entre hoje e amanhã, para um privilegiado grupo de convidados.
A chegada dos dois novos modelos sinaliza uma mudança na trajetória da marca no Brasil. Até agora, a Royal Enfield oferecia no mercado brasileiro a Himalayan, de 411 cilindradas, e a Classic e a Bullet, de 500. Os dois tipos de motor são monocilíndricos, mais simples, que tremem bastante na hora da condução. Tanto a Interceptor como a Continental chegam com o mesmo motor bicilíndrico e de 650 cc, mais potente e mais estável.
As duas motos estão sendo chamadas de Twins pela marca e fazem parte de uma estratégia global de atingir um público mais exigente e de maior poder aquisitivo. A meta é aumentar a presença internacional e se tornar líder no segmento de motos de média cilindrada.
“Crescemos muito nos últimos anos com nossos modelos simples, divertidos e acessíveis”, afirmou Rod Copes, presidente da Royal Enfield para as Américas. “Com a Continental e a Interceptor, oferecemos produtos verdadeiramente globais, capazes de atender as expectativas de motociclistas mais experientes, combinando design clássico e engenharia moderna.”
A Continental é um modelo café racer, inspirada nas motos adaptadas para rachas nas estradas da Califórnia nos anos 60. Para ganhar agilidade e velocidade, o guidão ficava rebaixado, as pedaleiras eram recuadas e os acessórios despareciam. A Interceptor segue uma linha roadster, mais clássica, bem vintage. Os dois novos modelos estão hoje em pré-venda no site. A Continental sai 25.990 reais, e a Interceptor por 24.990 reais.
A Royal Enfield se autodenomina “a marca de motos de produção contínua mais antiga do mundo.” Fundada na Inglaterra em 1901, passou para a ser produzida na Índia em 1956. Em 1994, foi comprada pelo grupo Eicher. A subsidiária brasileira começou a funcionar em 2017.
Por aqui, A Royal Enfield é um produto de nicho, voltado para um consumidor urbano e disposto a pagar relativamente caro por uma motocicleta recreativa. O modelo mais vendido no Brasil, a Himalayan, foi apenas a 47ª moto mais vendida no país em 2019, com 805 emplacamentos. Custa em torno de 20 mil reais.
Se no Brasil a Royal Enfield é uma marca para poucos, em seu país de fabricação é um produto massificado. Desde 2016, quando passou a China, a Índia é o maior mercado de motos do mundo.
De 2012 a 2018, o aumento nas vendas foi de 8% ao ano. Culturalmente, é o principal meio de locomoção da população, inclusive para uso familiar. É comum, por lá, ver três, quatro e até cinco pessoas se equilibrando em uma motocicleta pelas ruas e estradas precárias do país.
Mas esse mercado vem diminuindo. Em 2019, foram vendidas 19,1 milhões de motos na Índia. Isso representa uma queda de 14,4% em relação ao ano anterior, quando foram emplacadas 22,4 milhões de unidades.
A líder de mercado é a indiana Hero, com 6,8 milhões de motocicletas comercializadas. Na sequência vem a japonesa Honda, com 4,9 milhões, e as indianas TVS, com 2,8 milhões, e a Bajaj Auto, com 2,5 milhões. A Royal aparece em sexta posição, com 693 mil motos vendidas.
O decréscimo do número de vendas se deve a novas normas para de combate à poluição, um problema grave das metrópoles indianas. O governo indiano pretende substituir os modelos à combustão por outros movidos a fontes renováveis. Até 2025, a meta é que todas as motos novas de até 125 cc sejam elétricas. A nova norma deve beneficiar muito novas marcas de scooters elétricas.
E quanto às boas e velhas motocicletas, aquelas que queimam gasolina, como a Royal Enfield? Bem, essas deverão continuar no mercado por um bom tempo, principalmente as de maior cilindrada, mais como diversão do que locomoção. Novos tempos, velhos hábitos.