Herói do filme 'Hotel Ruanda' será sentenciado por 'terrorismo'
Ex-gerente de hotel que ajudou a salvar a vida de mais de mil pessoas durante genocídio em 94 é acusado pelo governo de ter colaborado com grupos rebeldes do país
GabrielJusto
Publicado em 17 de agosto de 2021 às 13h08.
Última atualização em 18 de agosto de 2021 às 00h03.
Paul Rusesabagina, que viu sua história inspirar o filme "Hotel Ruanda" e que é um crítico do presidente Paul Kagame, receberá na próxima sexta-feira a sentença por "terrorismo", após um julgamento impregnado pela polêmica e que durou meses.O ex-gerente do Hotel Mil Colinas de Kigali se tornou famoso graças ao filme de 2004 que contou como este hutu moderado salvou a vida de mais de 1.000 pessoas durante o genocídio que deixou 800.000 mortos, principalmente da etnia tutsi, em 1994.
Rusesabagina tem 67 anos e foi julgado em Kigali de fevereiro a julho, ao lado de outras 20 pessoas, por suposto apoio à Frente de Libertação Nacional (FLN), grupo rebelde acusado de ter executado ataques violentos em Ruanda. Ele recebeu nove acusações, incluindo "terrorismo". A Promotoria solicitou pena de prisão perpétua. Rusesabagina e seus advogados denunciaram um julgamento "político", que aconteceu após um "sequestro",
Paul Rusesabagina morava no exílio desde 1996 nos Estados Unidos e na Bélgica. Ele foi detido em agosto de 2020 em circunstâncias particulares, ao desembarcar de um avião que imaginava seguir para o Burundi, um país ao sul de Ruanda, mas que pousou na capital Kigali. As autoridades de Ruanda afirmam que sua detenção foi "legal" e que os direitos de Rusesabagina não foram violados na prisão.
Há vários anos, Paul Rusesabagina acusa Kagame de autoritarismo e de favorecer um sentimento anti-hutu. Em 2017, ele participou na criação do Movimento pela Mudança Democrática em Ruanda (MRCD), do qual a FLN é apontada como braço armado.
O acusado nega qualquer envolvimento nos ataques executados por este grupo em 2018 e 2019, que deixaram nove mortos.