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Fernanda Feitosa fala sobre edição histórica da SP-Arte e futuro do setor

Em entrevista à EXAME, criadora da SP-Arte fala sobre a retomada presencial do evento, o mercado da arte no pós-pandemia e sobre os compradores brasileiros

Fernanda Feitosa: curadora realiza a SP-Arte há 18 anos.  (Divulgação/Divulgação)

Fernanda Feitosa: curadora realiza a SP-Arte há 18 anos. (Divulgação/Divulgação)

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Matheus Doliveira

Publicado em 27 de março de 2022 às 07h00.

Às vésperas da 18ª edição da SP–Arte (Festival Internacional de Arte de São Paulo), Fernanda Feitosa, diretora e idealizadora do evento que é um dos maiores e mais relevantes da América Latina, está otimista. Segundo ela, a ode às artes que acontecerá no pavilhão da Bienal entre os dias 6 e 10 de abril será histórica e vanguardista.

Com 100 galerias de arte, 30 galerias de design e 14 editoras confirmadas, a edição 2022 da SP-Arte marcará a retomada presencial de um setor onde a interação do público com as obras é indispensável. A feira que se propõe a ser um catalisador do mercado nacional das artes visuais, impulsionando a economia criativa no país, trará à luz pela primeira vez projetos como o Radar SP-Arte, que abrirá espaço para que artistas autogeridos e sem representação em galerias tradicionais exponham seus trabalhos. 

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Outra novidade dessa edição é que já a partir do dia 2 de abril, as galerias participantes da SP-Arte abrirão as portas ao público no Art Weekend São Paulo, com uma programação esquenta antes do início da feira.

Entre as galerias brasileiras confirmadas, estarão presentes nomes de peso como Galeria Luisa Strina (SP), Fortes D’Aloia & Gabriel (SP – RJ), A Gentil Carioca (RJ – SP), Mendes Wood DM (SP – NY – Bruxelas), Nara Roesler (SP – NY – RJ) e Galeria Jaqueline Martins (SP – Bruxelas).

Já entre os expositores internacionais, 8 no total, a SP-Arte receberá a Galleria Continua (Brasil, Itália, China, Canadá, Cuba e França); a Galería SUR e a Galeria de las Misiones (Uruguai), a Buenos Aires Fine Arts (Argentina); a Zielinsky (Espanha), a Lamb Arts (Reino Unido) e a Opera Gallery e Piero Atchugarry Gallery (Estados Unidos).

Em entrevista à EXAME, Fernanda Feitosa falou sobre a edição de retomada da SP-Arte, sobre o mercado da arte no pós-pandemia e sobre os compradores brasileiros. Confira:

O que podemos esperar da edição 2022 da SP-Arte? 

A edição da SP-Arte 2022 é histórica porque é a primeira vez que acontecerá presencial desde o início da pandemia. Todas as maiores galerias estão de volta e também apresentaremos algumas galerias e artistas presencialmente pela primeira vez. Através do projeto Radar SP-Arte, iremos lançar artistas sem representação em galerias de forma inédita. Teremos a presença de colecionadores de todo o mundo. 

Quais mudanças a pandemia trouxe para o mercado da arte? 

A digitalização do setor foi sem dúvida a maior mudança. Dos grandes centros, como Londres e Nova York, até os mais locais, como Brasil, Argentina e México, o mercado de arte global era fundamentalmente baseado em encontros presenciais. Tudo acontecia no mundo físico. Na música, no cinema e na economia criativa, a digitalização já era empregada, mas isso não acontecia no mesmo nível com museus, galerias de arte e instituições culturais. O presencial era um elemento muito forte quando falamos das artes visuais. Você não via uma exposição ou apreciava as obras de um artista pela internet. Quando tudo parou, o mundo da arte passou a adotar a digitalização. Saiu mais forte.

Como as galerias de arte se favorecem com o digital? 

A adoção de um posicionamento digital foi o efeito mais positivo da pandemia. As galerias passaram a dar mais atenção a detalhes básicos de como elas se mostram digitalmente, desde a qualidade das fotos até a interação por chat com clientes e potenciais compradores. Vários artistas já faziam isso, mas no circuito comercial de galerias, as vendas através da internet não era uma prática comum que representasse grandes fatias. Se você pensa que o Brasil está muito distante dos grandes produtores e compradores de arte, que estão basicamente no hemisfério norte, para a gente é um ganho enorme quando o mundo da arte passa a adotar o digital como ferramenta de trabalho. Para as galerias brasileiras, passamos a vender para clientes de Istambul, Austrália, China, Estados Unidos e América Latina como um todo. Esses negócios foram fechados sem necessidade de se pegar um avião. 

O posicionamento digital das galerias não enfraquece o contato presencial do comprador com a obra?

O contato direto do comprador com as obras de arte esfriou durante a pandemia, mas assim como em outros setores, esse distanciamento está acabando. As galerias justificavam a necessidade desse contato presencial para não ter um marketplace, por exemplo. Mas mesmo com o digital, os compradores que têm a oportunidade querem ver a obra frente a frente antes de levá-la para casa. Ou seja, quem está próximo às galerias continuou comprando e mantendo contato com as obras, só que quem está longe, fora do Brasil, passou a ter a oportunidade de comprar também. Nos eventos digitais da SP-Arte em 2020, mais de 10% do público era de fora do Brasil. Isso nunca aconteceu no presencial.

Quais tendências ficaram mais fortes no universo das artes?

O mundo da arte é feito de fases. Em alguns momentos, se fortalece a fotografia, as instalações, as performances. O que estamos observando hoje é o fortalecimento do fazer manual, especialmente de pinturas. Isso vem desde antes da pandemia, quando tapeçarias, esculturas e cerâmicas já estavam em alta entre o público e os artistas. Nos momentos de isolamento, o artista deixou de lado uma rotina de ir de um lado para o outro e passou a ficar a sós com o ateliê. Com isso, telas pintadas a mão, por exemplo, ficaram em alta. Outra tendência foi a arte digital, que também não é obra da pandemia, mas foi favorecida no período. Plataformas de negociação de artes digitais em NFT como a Tropix ganharam tração. Muitos artistas gráficos sem representação em galerias tradicionais também ganharam espaço.

O interesse do público pelas artes plásticas cresceu?

A procura por parte do público aumentou sim. Que têm recursos financeiros, na impossibilidade de viajar, se dedicou a reformar a casa, decorar melhor os ambientes e investir mais em obras de arte. Em 2020, esperávamos que as perdas do mercado de arte fossem enormes dado que tudo parou ao mesmo tempo. A perda de negócios no mundo inteiro foi de apenas 22%, menos do que em crises como a de 2008. Talvez tenha entrado menos gente no mercado de arte do que costumava entrar, mas continuou entrando. Não houve um retrocesso. Os colecionadores, claro, não deixaram de colecionar.

Obras de arte são um bom investimento?

Tem uma frase de um colecionador que eu gosto muito. "Eu nunca comprei arte como investimento, mas foi o melhor investimento que eu fiz". Quem compra arte, não compra porque é um investimento, mas sim porque gosta. Para a arte ser investimento, é como investir na bolsa: você precisa ter um profundo conhecimento do mercado e saber tudo o que está acontecendo. Em todos os setores existem especuladores. Na arte, há sim os que compram e vendem todo mês para lucrar. Mas o que nós fomentamos são pessoas dispostas a apoiar artistas jovens que estão trazendo questões relevantes. O prazer de investir em um artista e vê-lo decolar é impagável. 

Quais artistas devemos ficar de olho? 

Em um universo com milhares de artistas produzindo, falar de alguns é deixar outros de fora. Acredito que devemos estar de olho nos trabalhos de artistas que dizem a você alguma coisa. O foco de hoje são artistas jovens que estão começando suas carreiras. Quem gosta de arte não apoia só quem já morreu e já é valorizado. Essa é a parte mais fácil. Apostar em mulheres é uma reparação de gênero, comprar obras de artistas pretos, indígenas, grupos que sempre produziram arte que não eram vistos, é fundamental. A última Bienal, por exemplo, jogou luz na produção de artistas indígenas. Muitas galerias estão atentas nessas mudanças de paradigmas no mercado da arte.

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