Casual

Como uma sensação vira um perfume? Responsável pela criação de fragrâncias famosas explica

Com mais de duas décadas no mercado Clément Gavarry assina fragrâncias para a Dolce & Gabbana, Vera Wang, Roberto Cavalli e Sarah Jessica Parker e Ariana Grande

Clément Gavarry, perfumista da Firmenich. (Divulgação/Divulgação)

Clément Gavarry, perfumista da Firmenich. (Divulgação/Divulgação)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 3 de junho de 2024 às 15h01.

Tudo sobrePerfumes
Saiba mais

Quando se fala sobre aromas é fácil identificar notas como rosa, lavanda ou baunilha. No entanto, a dificuldade aumenta quando os aromas se misturam. Mas não para um perfumista, ou nariz, como são conhecidos no meio, que são capazes não apenas de criar fragrâncias, mas definir cores, imagens e personalidades com perfumes. Clément Gavarry é uma destas pessoas.

Nascido em Paris, Gavarry é a quarta geração de sua família a mergulhar na arte da perfumaria. Seu pai, renomado perfumista Max Gavarry, o introduziu ao mundo das fragrâncias e foi responsável por criar perfumes como Dior Dioressence, Prada Prada, Estée Lauder Beautiful. Já Clément, com mais de duas décadas no mercado assina fragrâncias para a Dolce & Gabbana, Vera Wang, Roberto Cavalli e Sarah Jessica Parker e Ariana Grande através da empresa suíça Firmenich.

Em passagem pelo Brasil, o francês baseado em Nova York conta à Casual EXAME sobre tendências da perfumaria, inspirações para criar e projetos.

Como foi crescer em uma família de perfumistas?

Meu pai nunca me pressionou para seguir nesta carreira, ele apenas me mostrou como era o seu ofício. Nasci e cresci em Paris. Tínhamos um quintal, meu pai fazia jardinagem e eu o ajudava. Meu avô paterno era jardineiro e cultivava flores para extração de essências para perfumaria e meu bisavô tinha um campo de lavanda na Provença. Estudei química, queria fazer mais pesquisas. O meu trabalho dos sonhos no início era viajar e explorar.

Como é a sua rotina no trabalho?

Não há uma rotina. A maior parte dos dias sinto o cheiro das amostras das fragrâncias do dia anterior que deixei na mesa para entender como desenvolveram.

Como é o processo de criação de uma nova fragrância?

Primeiro recebo o briefing da marca e daí já tenho uma ideia de como poderá ser, já que cada marca, principalmente as de moda, tem um DNA. Então, já tenho uma imagem na mente que precisa responder algumas perguntas, se tem ou não gênero, qual sensação o perfume quer transmitir. Também preciso comparar com o que já foi feito antes, para não fazer o mesmo, obviamente. Tento criar uma assinatura com poucos ingredientes e naturais. No início é uma ideia bastante simples, bastante direta. Depois a ideia é realmente chamar a atenção e fazer com que o cliente se apaixone. São muitos, muitos meses de trabalho, talvez anos, até chegar no produto final, porque tem muitas etapas diferentes. Sou criador, artista, um pouco químico pela minha formação e vendedor.

Quais são as tendências atualmente na perfumaria?

São as fragrâncias sem gênero. Posso começar a fazer uma fragrância para mulheres começando com ingredientes que geralmente são usados em fragrâncias masculinas como lavanda e algumas notas aromáticas, especiarias, madeira ou couro. A partir disso, tento trazer feminilidade. E o contrário também. Você pode usar um jasmim ou rosa para criar uma fragrância masculina. Mas, novamente, no final você precisa agradar o consumidor.

Uma vez ouvi que todos os perfumes não têm gênero. Como as fragrâncias funcionam na pele?

Os perfumes reagem às moléculas, como o suor e ao tipo sanguíneo. Então sim, todos os perfumes não têm gênero.

Quais perfumes você gosta?

Existem alguns. Um dos primeiros que gostei foi uma amostra que meu pai me trouxe do trabalho, era uma fragrância para Dolce & Gabbana, outro também foi um projeto dele para a Calvin Klein, um protótipo para o CK One. Gosto de perfumes clássicos como Fahrenheit, de Christian Dior. Vetiver é um dos materiais lindos que tenho amado mais.

O que te inspira no seu dia a dia?

Bem, com certeza viajar, conversar com pessoas que conheci, que encontro pela primeira vez, que têm uma formação diferente da minha, como artistas de indústrias diferentes, são sempre uma fonte de inspiração. Moro na cidade de Nova York, então há muita coisa acontecendo. Você nunca sabe o que vai encontrar, uma nova exposição, um show, um novo restaurante. O inesperado me inspira.

E como é traduzir o sentido da visão para o olfato?

Não sei, tenho tantos cheiros na minha cabeça, na minha biblioteca mental. Para mim tudo tem um cheiro. Mesmo que isso realmente não chegue ao seu nariz.

Como a inteligência artificial está impactando o seu trabalho?

Para ser honesto, acho que sempre tivemos inteligência artificial conosco porque, no final das contas, a IA é praticamente uma ferramenta. Pode ser um programa, um computador, e agora há cada vez mais ferramentas precisas que coletam mais dados. Tudo isso é super útil para nós e nos ajuda a atingir o objetivo mais rápido. Costumamos dizer que os perfumes nunca ficam prontos, mas que nós é que ficamos sem tempo para terminá-los. É como uma pintura, deve ser difícil para um pintor dizer, ‘ok, terminei’. Mas a IA é uma ferramenta que nunca substituirá o perfumista, pois as máquinas não têm emoção.

Acompanhe tudo sobre:PerfumesLuxo

Mais de Casual

Os melhores hotéis de São Paulo segundo ranking EXAME 2024

Arte nacional: 3ª edição da feira Rotas Brasileiras começa amanhã em São Paulo

Lounge VIP da Visa em Guarulhos fica maior e ganha menu com pratos à la carte

A F-150 já domina o mercado dos EUA. Qual a estratégia para o Brasil?

Mais na Exame