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Como ela driblou o desemprego? Vendendo nudes on-line

Com milhões de americanos desempregados, alguns deles, como Benavidez e Eixenberger, estão recorrendo à OnlyFans na tentativa de sustentar a família

Lexi Eixenberger passou a participar do OnlyFans (Janie Osborne/The New York Times)
DS

Daniel Salles

Publicado em 22 de janeiro de 2021 às 15h48.

Última atualização em 12 de abril de 2021 às 09h05.

Savannah Benavidez largou seu trabalho com cobrança de contas médicas em junho para cuidar de seu filho de dois anos depois que a creche fechou. Precisando de uma maneira de pagar suas contas, ela entrou na OnlyFans – plataforma de mídia social na qual os usuários vendem conteúdo original para assinantes mensais – e começou a postar fotos de si mesma nua ou de lingerie.

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Benavidez, de 23 anos, ganhou US$ 64 mil desde julho, o suficiente não apenas para pagar as próprias contas, mas para ajudar a família e amigos com o pagamento do aluguel e do carro. "É mais dinheiro do que já ganhei em qualquer trabalho. Tenho mais do que consigo gastar."

Lexi Eixenberger esperava algo semelhante quando abriu uma conta no OnlyFans em novembro. Funcionária de um restaurante em Billings, Montana, Eixenberger, de 22 anos, foi demitida três vezes durante a pandemia e estava tão necessitada de dinheiro em outubro que teve de abandonar seu curso de higiene dental. Depois de doar plasma e conseguir um ou outro bico, ela ainda não tinha o suficiente para pagar suas contas, de modo que, por sugestão de alguns amigos, recorreu aos OnlyFans. Ganhou apenas cerca de US$ 500 até agora. "As pessoas pensam que tirar fotos nua e postá-las on-line é fácil, mas é um trabalho duro; é um trabalho em tempo integral", disse Eixenberger, que diz que postar às vezes a faz "se sentir mal".

A OnlyFans, fundada em 2016 e sediada no Reino Unido, cresceu em popularidade durante a pandemia. Até dezembro, tinha mais de 90 milhões de usuários e mais de um milhão de criadores de conteúdo, contra 120 mil em 2019. A empresa não quis comentar para este artigo.

Com milhões de americanos desempregados, alguns deles, como Benavidez e Eixenberger, estão recorrendo à OnlyFans na tentativa de sustentar a família. A pandemia vem afetando mulheres e mães em particular, eliminando partes da economia que elas dominam: empresas de varejo, restaurantes e cuidados de saúde.

"Muita gente está migrando para a OnlyFans por desespero, preocupada em comer, em manter as luzes acesas, em não ser despejada", afirmou Angela Jones, professora associada de Sociologia da Universidade Estadual de Nova York, em Farmingdale.

Savannah Benavidez, que virou criadora de conteúdo do OnlyFans (Adria Malcolm/The New York Times)

Mas para cada pessoa como Benavidez, que é capaz de contar com o OnlyFans como sua principal fonte de renda, há dezenas mais, como Eixenberger, que esperam muito e acabam com pouco mais do que algumas centenas de dólares, e ainda por cima temem que as fotos possam dificultar sua capacidade de conseguir um emprego no futuro.

"Já é um mercado incrivelmente saturado. A ideia de que as pessoas vão apenas abrir uma conta no OnlyFans e começar a ganhar muito dinheiro é realmente equivocada", disse Jones sobre o conteúdo explícito on-line.

Os criadores de conteúdo mais bem-sucedidos são em geral modelos, estrelas pornô e celebridades que já têm grandes seguidores nas redes sociais e que podem usar suas outras plataformas on-line para levar seguidores às suas contas na OnlyFans, em que oferecem conteúdo exclusivo para aqueles dispostos a pagar uma mensalidade – até mesmo conteúdo personalizado em troca de dinheiro. O OnlyFans fica com 20 por cento de qualquer pagamento. Alguns criadores recebem mediante aplicativos de pagamento móvel, que não estão sujeitos a essa taxa; Benavidez ganha a maior parte do dinheiro assim.

Mas muitos dos criadores que se juntaram à plataforma por extrema necessidade financeira não têm um grande número de seguidores nas redes sociais, nem maneiras de aprimorar seus negócios.

Elle Morocco, de West Palm Beach, na Flórida, foi demitida de seu trabalho como gerente de escritório em julho. Seu seguro-desemprego não cobre seu aluguel mensal de US$ 1.600, as contas de luz e água e os custos de alimentação, por isso ela se juntou ao OnlyFans em novembro.

Mas Morocco, de 36 anos, não tinha presença nas redes sociais quando entrou na plataforma, e teve de conquistar assinantes um a um – postando fotos de si mesma no Instagram e no Twitter, e respondendo a pessoas que gostam de suas postagens e as comentam, incentivando cada uma a assinar a OnlyFans. É mais desafiador e demorado do que ela esperava, e menos recompensador financeiramente: "É um trabalho em tempo integral além do trabalho em tempo integral de procurar emprego. Os fãs querem que você poste diariamente. Você tenta se virar. Tira fotos toda hora para postar."

Ela conseguiu apenas US$ 250 na plataforma até agora, apesar de às vezes passar mais de oito horas por dia criando, postando e promovendo seu conteúdo.

Lexi Eixenberger, encontrada no OnlyFans (Janie Osborne/The New York Times)

Morocco também teme que sua presença na plataforma dificulte sua contratação para trabalhos tradicionais no futuro: "Se você está procurando um emprego, podem não te contratar se descobrirem que você tem um OnlyFans. Podem não te querer se souberem que você é uma profissional do sexo."

O trabalho sexual digital pode dar a ilusão de segurança e privacidade – os criadores de conteúdo podem ser pagos sem precisar interagir com os clientes pessoalmente. Isso, porém, não significa que não haja riscos.

"O trabalho sexual on-line é uma alternativa muito mais atraente para muitas pessoas do que ir às ruas ou vender serviços sexuais diretos. Por isso, qualquer um que entre nesse tipo de trabalho precisa estar ciente de que há perigos", ressaltou Barb Brents, professora de Sociologia da Universidade de Nevada, em Las Vegas.

Em abril passado, uma mecânica em Indiana perdeu o emprego em uma concessionária da Honda depois que a gerência descobriu que ela tinha uma conta na OnlyFans. Os criadores podem ser alvo de "doxxing" – forma de assédio on-line na qual pessoas publicam informações privadas ou confidenciais de alguém sem permissão. Em dezembro, o "New York Post" publicou um artigo sobre uma médica de Nova York que estava usando a OnlyFans para complementar sua renda. A médica acreditava que o artigo, publicado sem o consentimento dela, prejudicaria sua reputação e causaria sua demissão.

Os criadores também podem estar sujeitos ao "capping", prática na qual os usuários pegam capturas de tela ou gravações não autorizadas e depois as compartilham em outros lugares da internet. Os criadores da OnlyFans também receberam ameaças de morte e estupro nas redes sociais.

Esses criadores de conteúdo podem enfrentar não apenas consequências profissionais, mas também pessoais. Eixenberger esconde a conta de seu pai, mas sabe que ele vai descobrir, agora que ela se tornou pública. "Não quero ser humilhada ou renegada", afirmou.

Outros dizem que a experiência é empoderadora. Melany Hall, mãe solteira de três filhos, ganha US$ 13,30 por hora como paramédica no norte de Ohio, o que mal dá para pagar suas contas. Ela entrou na OnlyFans em dezembro. "Sou mãe de três filhos. Nunca pensei que alguém pagaria para me ver nua. Isso aumentou minha autoestima", contou Hall, de 27 anos.

Ela ganhou cerca de US$ 700 até agora – não o suficiente para mudar sua vida, mas ajudou nos presentes de Natal. "Foi o primeiro ano que não tive de escolher entre a conta de luz e os presentes para meus filhos. Foi o primeiro ano em que consegui fazer tudo sozinha."

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