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Buenos Aires convida público a desfrutar do teatro às cegas

Buenos Aires possui o primeiro e único palco do mundo onde as histórias são narradas às cegas e os atores guiam o espectador


	Teatro: trata-se do Centro Argentino de Teatro Cego, onde a escuridão envolve a encenação de obras destinadas a despertar os cinco sentidos do público
 (Getty Images)

Teatro: trata-se do Centro Argentino de Teatro Cego, onde a escuridão envolve a encenação de obras destinadas a despertar os cinco sentidos do público (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2013 às 08h36.

Buenos Aires - Buenos Aires possui o primeiro e único palco do mundo onde as histórias são narradas "às cegas" e os atores guiam o espectador por meio de um universo de sabores, cheiros e sensações difíceis de imaginar sem os olhos abertos.

Trata-se do Centro Argentino de Teatro Cego, onde a escuridão envolve a encenação de obras destinadas a despertar os cinco sentidos do público.

"A ciegas gourmet" é um espetáculo musical para os amantes do teatro e da gastronomia, já que o espectador pode saborear um delicioso jantar servido em um espeto para que possa comê-lo com as mãos na ausência de luz.

"Conta uma história que se passa em um típico bar de Buenos Aires da área de Abasto. Tem muito a ver com a história da cidade e por isso muitos turistas vêm assistir", disse à Agência Efe Martín Bondone, diretor e um dos fundadores do Centro Argentino de Teatro Cego.

Mas quem quiser viajar para outra época pode optar por "Luces de libertad", uma das mais renomadas obras da cidade, que está ambientada em 1810, no contexto histórico da iminente queda do vice-reinado do Rio da Prata e a renúncia do vice-rei Cisneros.

A particularidade é que, apesar de desenvolvida no século 19, são importantes personagens argentinos do século 20, como o revolucionário Ernesto Che Guevara, o ex-presidente Juan Domingo Perón e o escritor Rodolfo Walsh, entre outros, que aparecem refletidos indiretamente nos textos.

"Há uma cena entre Juan Manuel Belgrano, em que ele não é nomeado, e Cornelio Saavedra. O texto falado por Saavedra é de Juan Domingo Perón e o texto narrado por Belgrano é de Che Guevara, mas não é dito que são deles, eles não são nomeados", explicou Bondone.


A obra foi escrita em 2010 para marcar o bicentenário da independência da Argentina, mas, o diretor do teatro, afirmou que apesar das contínuas referências históricas, as pessoas que vem para descobrir o seu significado como um todo são poucas.

"A maioria fica com a história superficial e ainda assim lhes encanta, mas os poucos que a compreendem desfrutam ainda mais", acrescentou.

O elenco da peça também é diferente das outras, já que é composto por atores que enxergam e não enxergam, "embora eles prefiram ser chamados de cegos", ressaltou Bondone.

"Não se diz que "não enxerga", se diz cego", porque "que não enxerga é uma definição pela negativa e não por uma característica", explicou.

No teatro funciona também uma escola que tem como objetivo desenvolver a técnica do teatro cego e fornecer trabalho às pessoas com deficiência visual.

Uma das aulas mais populares são as de tango às escuras, que, como todas as atividades da escola, são gratuitas para cegos e amblíopes.

"Dentro da turma há pessoas que dançaram e querem viver essa experiência de outra forma e outras que nunca dançaram e se animam a vir aqui, porque quando não o veem funciona de uma outra forma, é como um empurrão para se soltarem", disse à Agência Efe Giuliana Fernandez, uma das professoras.

Giuliana explicou que as aulas são "muito mais fáceis para os que não veem porque estão acostumados a se movimentar na escuridão".

De acordo com Martin Bondone, a escola surgiu como uma necessidade de capacitar os atores, porque no início, não havia atores cegos.

"As escolas de teatro em geral não admitem pessoas cegas porque o professor não está capacitado para lhes ensinar", acrescentou.

O Centro Argentino de Teatro Cego foi fundado em 4 de julho de 2008 por Martin Bondone e Gerardo Bentatti. Em 2008 havia apenas uma obra, em 2009, três, em 2010, quatro e agora há dez obras e trabalham quase 70 pessoas, das quais mais da metade são cegas.

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