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Brasileiro assina direção de fotografia de Tartarugas Ninja

O desafio de fotografar e transformá-los em tartarugas mutantes foi encarado por um brasileiro, o diretor de fotografia Lula Carvalho

Tartarugas Ninja: Lula, diretor de fotografia, teve de aprender a desenhar uma nova fotografia (Divulgação/Paramount)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2014 às 13h45.

São Paulo - "Cowabunga!" Quem cresceu nos anos 80 e 90 sabe que este brado improvável anuncia a chegada de quatro heróis (quase) renascentistas: Leonardo, Michelangelo, Donatello e Rafael.

Mais conhecidos como as Tartarugas Ninja, o quarteto que nasceu como história em quadrinhos pelas mãos de Peter Laird e Kevin Eastman no início dos anos 80, virou uma das mais longas séries de desenho animado no final da mesma década, rendeu um longa-metragem em live action de sucesso, série em episódios para a TV, brinquedo, entre outros feitos.

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Pois a série que já parecia não render mais novidades surge agora repaginada.

Com produção de Michael Bay (de Transformers) e direção de Jonathan Liebesman (Fúria de Titãs, Invasão do Mundo - Batalha de Los Angeles), o novo longa das Tartarugas narra a saga dos heróis teenagers (em inglês eles são chamados de Teenage Mutant Ninja Turtles, ou Tartarugas Ninja Mutantes Adolescentes) para salvar Nova York do vilão Shredder.

Assim como nas tramas originais, contam com a ajuda da repórter April O'Neil e de seu cinegrafista Vern. A jornalista é vivida por Megan Fox (que ganhou fama mundial, aliás, com Transformers) e o elenco conta ainda com Will Arnett, Whoopi Goldberg e William Fichtner.

Apesar de ninguém ver de fato seus rostos reais, vale citar ainda os atores que interpretam os heróis que vivem no esgoto: Pete Ploszek, Alan Ritchson, Noel Fisher e Jeremy Howard.

A propósito, o desafio de se fotografar atores reais que, no processo de pós-produção, têm os rostos substituídos pela animação que dá vida aos personagens dos quadrinhos, foi encarado por um brasileiro: o diretor de fotografia Lula Carvalho.

Um dos mais tarimbados nomes da atual direção de fotografia brasileira, Lula, que é filho do também fotógrafo consagrado Walter Carvalho, tem no currículo longas rodados na Argentina, na Espanha, no México, além dos brasileiros Budapeste,Feliz Natal, Tropa de Elite (1 e 2, ambos de José Padilha), O Lobo Atrás da Porta, e o americano Robocop.

Foi este último, também fruto da parceria com José Padilha, que marcou sua entrada no mercado de Hollywood. O convite para assinar a fotografia de Tartarugas surgiu quando Lula ainda rodava Robocop, entre setembro de 2012 e janeiro de 2013.

"Os filmes têm estúdios diferentes. Robocop é MGM/Sony. Tartarugas Ninja é Paramount. Mas mesmo que o filme não tivesse ficado pronto, como as pessoas sempre se conversam, os assuntos se espalham entre os estúdios. E acabou acontecendo uma referência do meu nome para os produtores de Tartarugas. No primeiro semestre de 2013, já estava filmando o longa. E nem pude voltar pra o Brasil para descansar das filmagens de Robocop", contou Lula por telefone ao jornal O Estado de S.Paulo.

O fotógrafo, que se prepara para rodar mais um projeto em parceria com Padilha, está há quatro semanas na Colômbia, onde trabalha na pré-produção da série Narcos, que o diretor brasileiro vai rodar sobre Pablo Escobar para o Netflix. Estrelada por Wagner Moura (Escobar) que também já está em Bogotá, a série e vai contar a saga do narcotraficante em dez episódios que devem estrear no primeiro semestre de 2015.

De volta a Tartarugas, Lula conta que teve de aprender a desenhar uma nova fotografia para o longa, pois foi a primeira vez que não filmou diretamente o objeto real da ação.

"É até engraçado. Foi coisa do destino mesmo filmar dois clássicos da década de 80, logo eu que cresci neste período. Mas em Tartarugas tudo é diferente de Robocop. Da luz à ação. EmRobocop, ainda que haja alguns ajustes feitos pós filmagens em computação gráfica, existia um ator com seu rosto como referência da fotografia. Já em Tartarugas, existem os atores, que dão as vozes e até mesmo as feições às tartarugas, mas seus rostos não aparecem na versão final. Eles são matéria-prima para o face capture (técnica que marca pontos nos rostos dos atores, que servem de referência para a pós-produção em computação gráfica), mas não há uma fotografia direta no rosto", explica Lula.

"É muito diverso do que se faz no Brasil. Nunca tinha feito algo tão especializado e complexo. Mas os americanos já criaram um mecanismo de produção que trabalha este tipo de efeito com frequência", completa o diretor.

Apesar das dificuldades, Lula aprovou o desafio e embarcou na viagem. "Foi mais uma técnica que aprendi. Este trabalho exigiu muita imaginação e muita participação do supervisor de efeitos visuais, pois é ele quem faz a ponte entre o real e o que vai ser criado depois. Sua figura é fundamental. Este processo de filmar o real e, ao mesmo tempo, trabalhar com personagens virtuais foi interessante. Por mais que se criasse algo artificial em computador, a ligação com o objeto verdadeiro era crucial", explica o diretor.

"Em Avatar, por exemplo, mesmo quando se criava ambientes, rostos etc, era preciso ter a conexão com o que o diretor de arte havia desenhado para a cena, com o que o diretor de fotografia havia também idealizado e filmado, da textura de cores às sombras e luzes. Assim também foi em Tartarugas. O que importa é o trabalho de uma equipe bem conectada", completa ele.

Para Lula, seu grande aprendizado foi construir uma ponte entre o real e o virtual. "Estávamos filmando em Nova York, um cenário maravilhoso. Da Times Square a China Town, passando pelo metrô, procurei retratar a cidade da forma mais fiel possível. E o pessoal da pós-produção e de efeitos visuais tinha sempre esta base real para trabalhar. Isso me deu responsabilidade, mas também motivação", explica Lula, que também dirigiu cenas com atores reais.

Entre eles, um nome como Megan Fox sempre desperta curiosidade. "Ela foi ótima no set. É mais uma atriz com quem tive oportunidade de trabalhar. Foi muito bom."

Para Lula, ainda que Tartarugas seja seu primeiro filme totalmente americano, ele não se sentiu em momento algum um estrangeiro. "Aprendi isso com o tempo. No set, enquanto estamos trabalhando, nos sentimos pertencentes a um único país, o do cinema. Só me sentia estrangeiro quando saía do set e ia andar na rua. No cinema, não importa em que país estamos, nem a língua, mas sim o trabalho de se construir um filme", observa ele.

É importante observar que Lula Carvalho é mais um dos diretores de fotografia brasileiros que conquistaram seu espaço no mercado internacional. Outros nomes, como Affonso Beato, Lauro Escorel, Adriano Goldman, já consquistaram espaço significativo no mercado estrangeiro.

"O mundo está cada vez menor com as novas tecnologias. As pessoas circulam mais também, viajam, podem se falar em qualquer parte do mundo", analisa. "Sem contar que Hollywood historicamente sempre absorveu talentos, sem importar de onde são. É isso que faz da indústria cinematográfica americana tão rica. Se vêem que a pessoa tem algo a acrescentar para eles, levam para lá."

Lula conta que para ele a grande diferença entre filmar no país e em Hollywood é o grau de maturidade da indústria americana. "Nós temos tão bons talentos quanto o cinema americano, mas eles têm uma indústria estabelecida há décadas.

E lá há um mecanismo que caminha por si próprio. Há uma linha de montagem do cinema, com profissionais que já estão na terceira geração em determinadas funções , analisa.

"Eu, que sou da segunda geração, pois meu pai também era fotógrafo, sei o quanto o cinema nacional já foi instável, já sofreu altos e baixos. Ver uma cadeia produtiva levada tão a sério, que gera divisas de forma independente, que emprega e forma tanta gente, é muito gratificante."

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