(Divulgação/Divulgação)
Julia Storch
Publicado em 16 de julho de 2021 às 06h00.
Última atualização em 16 de julho de 2021 às 08h31.
Nas águas da não tão famosa praia de Tsurigasaki, 40 atletas cairão ao mar nas próximas semanas. Após cinco anos desde o anúncio do surfe como modalidade olímpica, sendo um ano de adiamento dos Jogos de Tóquio, atletas de 18 países poderão apresentar suas manobras nas ondas japonesas.
Enquanto o surfe tem tradição norte-americana, a Austrália também se destaca na elite do esporte. Recentemente a América Latina vem estabelecendo seu lugar ao sol com a “Brazilian Storm”, ou tempestade brasileira, como é conhecida geração atual que vem transformando as competições mundiais.
A tempestade brasileira na Olimpíada terá quatro representantes. Do lado masculino os campeões mundiais Italo Ferreira e Gabriel Medina; do lado feminino, Tatiana Weston-Webb e Silvana Lima. Os atletas brasileiros irão representar os mais de três milhões de praticantes no país, segundo o Instituto Brasileiro de Surf. O estudo da organização expõe ainda que o país emprega 140 mil pessoas e movimenta 2 bilhões de reais ao ano.
Em conversa com a EXAME, Tatiana Weston-Webb e Italo Ferreira falam sobre suas expectativas para os Jogos e sobre o surfe nacional.
Italo Ferreira transformava as tampas das caixas de isopor, que abrigavam os peixes capturados pelo pai, em pranchas de surfe. Ainda aos oito anos de idade, o potiguar da pequena Baía Formosa começou a pegar suas primeiras ondas.
A 90 quilômetros de Natal, a cidade ganhou notoriedade em pouco tempo, através das conquistas de Italo. Aos 12 anos, o jovem conseguiu seu primeiro patrocínio, e aos 21 anos, em 2015, foi eleito o “estreante do ano” ao conquistar a 7ª posição no ranking no campeonato mundial. Após quatro anos, se sagrava campeão mundial no World Surf League. Por vídeo de sua cidade natal, Italo contou sobre seus projetos com o surfe.
Com muitas vitórias ainda à vista, “uma mesa cheia de troféus” é um dos sonhos de Italo para sua carreira. Outro sonho, que em breve se tornará realidade, é a criação de seu instituto.
Para incentivar as crianças de Baía Formosa, o surfista está construindo o Instituto Italo Ferreira. Com previsão de abertura até o final do ano, o espaço será um local de ensino e incentivo ao esporte. “O Instituto será onde era a casa da minha avó. É um local especial, com muita história por trás”, conta.
Para além dos limites da cidade, Italo pretende também alcançar crianças da região nordeste. “Será incrível poder dar essa oportunidade às crianças e poder vê-las crescendo. Sei que nem todas vão seguir a carreira, mas daremos uma luz pra cada uma delas”, diz.
“Quando eu ganho, é bom não só para mim, mas para os outros, pois posso estender a minha mão e ajudar o próximo”, comenta.
Em breve, a história do surfista será contada através de um documentário gravado pela Billabong. Com imagens de quando ainda era garoto, as gravações trazem ainda relatos dos pais e amigos do surfista que o acompanham por diversas viagens - para surfar, é claro.
Diferente de Italo, Tatiana Weston-Webb é filha de surfistas, o pai inglês e a mãe brasileira. Tati nasceu em Porto Alegre e se mudou com apenas um mês de vida para o Havaí com a família. Falando português, com um leve sotaque inglês em algumas palavras, Tati conversou por vídeo da Austrália, enquanto se preparava para a competição em Narrabeen.
Criada na meca do surfe, Tati se viu dividida entre o esporte aquático e o futebol. Desde os 8 anos de idade na água, aos 14 anos, decidiu levar o surfe como carreira. “Minha mãe me disse, ‘se você quer ser profissional em um esporte, precisa escolher qual será’. Como eu jogava futebol de óculos, e me incomodava de ficar na reserva, escolhi o surfe, pois não precisava esperar ninguém me escolher”, conta rindo.
A escolha foi certeira, hoje, aos 25 anos, é uma das melhores surfistas da atualidade, está na liga de elite do surfe feminino mundial e é uma das fortes concorrentes à medalha nos Jogos Olímpicos.
Para além da medalha de ouro em Tóquio, a entrada do esporte nos Jogos já é um grande passo para os atletas, principalmente para as mulheres, comenta Tati. “O surfe sempre foi um esporte dominado por homens. No Havaí, cresci vendo mulheres pegando onda. Quando viajei para fora pela primeira vez, comecei a sentir o preconceito. Agora o surfe é olímpico e isso faz com que o respeito por nós, mulheres, aumente ainda mais. Isso me deixa mais motivada para chegar na competição e buscar o ouro”, diz.
O reconhecimento delas no esporte já vem trazendo frutos, como a participação feminina em uma etapa do World Surf League, a maior competição do esporte, em Pipeline, no Havaí. A disputa ocorreu no final do ano passado. Tati foi a única brasileira na disputa feminina, e a primeira surfista mulher a abrir a etapa nas águas havaianas.
Além da conquista de Pipeline, o bolso também sentiu o reconhecimento delas, visto que o pagamento passou a ser igualitário para ambos os gêneros. “Eu acho que para as novas gerações [a igualdade salarial] deu uma levantada nos ânimos. Agora é possível fazer esse esporte e criar uma vida. Antigamente era muito difícil criar uma carreira no surfe feminino”, comenta.
Com dupla cidadania, Tatiana optou por representar o Brasil nas competições mundiais e olimpíadas. “Meu treinador é brasileiro, meu namorado é brasileiro, e eu me sinto muito mais brasileira do que americana", conta a surfista que antes competia pelo Havaí.
O surfe nasceu dos polinésios que viviam no Havaí e Taiti, mas foi popularizado no início do século XX pelo havaiano Duke Kahanamoku. Nos Jogos de Estocolmo (1912) e da Antuérpia (1920), o atleta conquistou três medalhas de ouro na natação e trouxe a popularidade ao surfe. Considerado 'o pai do surfe moderno' após mais de 100 anos desde a conquista de Duke nos Jogos, o surfe se tornou um esporte olímpico.
Dentro de uma semana, no mesmo Oceano Pacífico onde foi criado, as ondas do Japão receberão o esporte. Nas competições olímpicas, as rodadas serão divididas entre iniciais e principais. As rodadas iniciais terão baterias de quatro e cinco pessoas, e as rodadas principais terão baterias de duas pessoas, onde o vencedor avança para a próxima rodada e o perdedor é eliminado.
Com duração média de 30 minutos por bateria, cada atleta poderá surfar no máximo 25 ondas, e as duas ondas de maior pontuação serão contabilizadas. As manobras não têm pontuações prescritas.
Segundo o site oficial da Olimpíada de Tóquio, um dos desafios do surfe é a imprevisibilidade do mar. “Não há duas ondas iguais, tornando o surfe uma competição onde os atletas competem entre si enquanto equilibram as condições mutáveis da natureza”.
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