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Antonio Carvalhal Neto, da Casa Flora: “O vinho é a bebida da pandemia”

O diretor de vendas e marketing da importadora paulistana fala sobre a alta do produto e a queda nas vendas de outras categorias de bebidas

Antonio Carvalhal Neto, diretor de vendas da Casa Flora: procura por vinho durante quarentena (Casa Flora/Divulgação)

Antonio Carvalhal Neto, diretor de vendas da Casa Flora: procura por vinho durante quarentena (Casa Flora/Divulgação)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 1 de junho de 2020 às 07h00.

De que maneira a pandemia afetou a Casa Flora?

Sempre que o consumidor é afetado a cadeia inteira é afetada. A expectativa de uma recessão fez com que o dólar atingisse valores nunca alcançados, o que impacta diretamente os produtos importados. Somos obrigados a repassar a diferença para os nossos clientes, que consequentemente precisam fazer o mesmo para o consumidor final. Esse último acabou precisando dar um passo atrás, a deixar de lado alguns produtos que estava acostumado a consumir. Mas tenho certeza de que é uma situação momentânea. Com o passar do tempo, a busca pelos importados vai voltar. Quando veio a pandemia reajustamos nossa meta para abril e ainda assim o resultado foi 10% menor. Comparando com o mesmo mês de 2019, a queda foi de 40%. Readequamos toda a nossa estratégia para 2020, no qual a Casa Flora comemora 50 anos, e fizemos alguns ajustes organizacionais.

A companhia não atua só como importadora, também distribui produtos nacionais como as cervejas da Wäls, de Belo Horizonte. A contribuição deles deve aumentar com a alta do dólar? 

Dos mais de mil SKUs de nosso portfólio, perto de 300 são nacionais. Surgiu uma grande oportunidade para eles crescerem. Mas acredito que só para aqueles que estão no mesmo patamar de qualidade dos concorrentes estrangeiros. Nunca achamos que um produto importado é necessariamente melhor. Nossa meta é levar aos consumidores o que existe de melhor, seja nacional ou importado. A qualidade das cervejas nacionais, por exemplo, cresceu muito nos últimos anos, assim como a de alguns destilados, molhos, geleias e sucos.

A venda de algum produto cresceu durante a quarentena?

Os hotéis, os bares e os restaurantes, todos praticamente fechados há dois meses, tirando os que continuaram abertos no sistema de delivery, compõem parte representativa das nossas receitas. Mas também temos vários outros clientes como as redes Casa Santa Luzia, Pão de açúcar, St. Marche, Hirota e Pastorinho, que nos ajudam a perceber algumas mudanças de hábitos. Por precisar ficar em casa muita gente agora está cozinhando e se arriscando com receitas mais elaboradas, até porque há mais tempo disponível. E quando se pensa em comida, logo se pensa em bebida. Tudo isso para falar que o vinho tem sido a grande surpresa. A gente sempre soube que é a melhor bebida para acompanhar qualquer refeição. E isso os consumidores, em geral, descobriram agora. O vinho é a bebida da pandemia. As vendas de marcas que importamos, como Santa Carolina, do Chile, e Nieto Senetiner, da Argentina, cresceram na ordem dos dois dígitos. Quando a quarentena acabar não acho que o hábito de cozinhar em casa será abandonado. E por isso acredito que o consumo de vinho per capita no Brasil deverá subir.

A Casa Flora nunca quis vender para o consumidor final. Segue decidida?

Sempre nos preocupamos em preservar a cadeia, para que nossos produtos cheguem ao consumidor final sempre pela mãos de nossos clientes diretos, os bares, restaurantes, empórios etc. Agora começamos a analisar a possibilidade de separar alguns produtos de categorias e marcas específicas para entregar diretamente ao consumidor final. Mas de maneira sadia, sem entrar em choque com a estratégia atual. Pode ser uma forma de compensar o espaço deixado pelos bares e restaurantes, que devem voltar a funcionar com encomendas menores que as de antes da pandemia.

A procura por cervejas diminuiu?

Acredito que sim. Distribuímos a cerveja Paulaner, a mais disputada da Alemanha, e estamos sentindo alguma dificuldade para apresentá-la como uma opção tão boa quanto os vinhos. Ela está ligada a situações mais despojadas, é verdade. Reclusas, as pessoas acabam preferindo o vinho, e o frio também ajuda. Mas os brasileiros, culturalmente, são grandes consumidores de cerveja. Quando as atividades estiverem mais perto do normal, daqui um mês, quem sabe, o consumo de cervejas volta automaticamente ao que era.

E a coquetelaria volta ao sucesso de antes da quarentena?

O movimento da coquetelaria teve que fazer um recuo, mas quem teve boas experiências com drinques não vai voltar ao consumo de lá atrás. A se contentar com uísque com gelo, por exemplo. A coquetelaria só está em quarentena. Passada a pandemia, volta ao pé em que estava.

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