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A produtora que vasculha lixo

Alexandra Alter e Brooks Barnes © 2016 New York Times News Service O filme Coin Heist (O roubo das moedas) – sobre quatro estudantes de escola preparatória que tentam roubar a Casa da Moeda dos Estados Unidos – será o primeiro grande teste de um estúdio novo que possui um modelo de negócios incomum. Sua […]

HOLLYWOOD: a Adaptative Studios tenta ganhar com roteiros esquecidos pelos grandes estúdios / Araya Diaz/ Getty Images
DR

Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2016 às 15h39.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h30.

Alexandra Alter e Brooks Barnes
© 2016 New York Times News Service

O filme Coin Heist (O roubo das moedas) – sobre quatro estudantes de escola preparatória que tentam roubar a Casa da Moeda dos Estados Unidos – será o primeiro grande teste de um estúdio novo que possui um modelo de negócios incomum.

Sua abordagem? Comprar roteiros abandonados por outros estúdios e reciclá-los para que virem novas franquias. “Estamos basicamente vasculhando o lixo atrás de material que foi descartado”, explica Perrin Chiles, sócio fundador e executivo chefe do Adaptive Studios. Chiles está exagerando, mas só um pouco.

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Os estúdios de cinema de Hollywood são famosos por comprar roteiros que nunca são produzidos e ficam guardados por anos, até mesmo décadas. Quatro anos atrás, Chiles fundou a Adaptive para mergulhar nesses arquivos de roteiros abandonados, procurando os menos piores. A Adaptive transforma os roteiros em livros – que depois adapta de novo para filmes ou séries de TV. “Queremos as coisas que não têm qualquer esperança. Pegamos as migalhas da mesa dos outros”, conta Chiles.

Aparentemente, as migalhas de um executivo podem ser o banquete de outro. A Adaptive comprou 50 roteiros, 25 da Miramax e o resto de outros estúdios, agências e produtoras. (Chiles não quis dizer quanto a empresa paga por eles.)

Por meio de seu o braço editorial, a Adaptive Books, a empresa lançou uma dezena de livros e planeja publicar mais 18 no próximo ano e meio. Entre as novelas estão Pasta Wars (A guerra das massas), uma comédia romântica para quem gosta de comida; The Silence of Six (O silêncio dos seis), um thriller de tecnologia para adolescentes; e DC Trip (Viagem a DC), uma atrevida comédia adulta de Sara Benincasa sobre uma viagem escolar para Washington que dá muito errado. Oito dos livros estão sendo transformados em roteiros para o cinema e a televisão.

A Adaptive produz alguns projetos, como Bleeding Earth (Terra sangrando), uma novela pós-apocalíptica para jovens que está sendo transformada em um filme de horror independente de baixo orçamento, e Coin Heist, feito com menos de cinco milhões de dólares. Outros foram escolhidos por produtores de fora, como a adaptação de Air (Ar), uma novela para jovens de Ryan Gattis, que despertou o interesse do músico e produtor John Legend. Os orçamentos vão de independente (poucos milhões de dólares) a intermediário (40 milhões de dólares ou mais).

A empresa também abocanhou projetos de TV falecidos. Recentemente reviveu a série de Matt Damon e Ben Affleck Projeto Greenlight para a HBO. O programa recebeu duas indicações para o Emmy em julho.

Correndo por fora

Os executivos da Adaptive dizem que vasculhar entre os textos abandonados lhes dá uma vantagem sobre estúdios maiores, que estão competindo por roteiros frescos dos escritores da moda ou brigando pelas mesmas franquias de histórias em quadrinhos.

A Adaptive controla a propriedade intelectual em todas as mídias e usa os livros para promover os filmes que por sua vez, eles esperam, ajudará a vender os livros. As novelas também oferecem uma maneira relativamente barata de testar no mercado as histórias com conceito – aquelas com um gancho simples e básico – e construir uma audiência para novas franquias, explicam os executivos da Adaptive.

Os livreiros estão gostando da ideia. Recentemente a empresa anunciou uma parceira incomum com a livraria Barnes & Noble, que está colocando em destaque os títulos da Adaptive em suas 640 lojas, e que tem direitos exclusivos de vender os livros pelos primeiros seis meses depois do lançamento.

Com o lançamento de Coin Heist, que agora entrou em fase de pós-produção, a Adaptive vai encarar seu primeiro grande teste com a audiência e os críticos.

A longa e torturada história do projeto teve início em 1998, quando o roteirista William Osborne escreveu um texto chamado The Hole With the Mint (O buraco na casa da moeda), uma comédia de ação sobre um professor britânico que recruta ex-alunos para roubar a Cada da Moeda Real. Ele vendeu a ideia na primeira apresentação para os estúdios e escreveu três versões, que depois definharam em um arquivo por 15 anos. Então, em 2013, a Adaptive comprou a história junto com um grupo de 25 roteiros moribundos da Miramax.

Os executivos da Adaptive mexeram no roteiro. Mudaram a locação e condensaram a história em uma narrativa modelo de cinco páginas. Eles fizeram um teste com cinco escritores antes de contratar Elisa Ludwig para repensar a ideia como uma novela para jovens em que história se passa em uma escola preparatória da Filadélfia.

Depois que a novela foi publicada, chamaram uma roteirista, Emily Hagins. Ela adaptou o texto para um filme sobre quatro estudantes que se unem para roubar a Casa da Moeda de Filadélfia. (Os produtores estão descrevendo o filme na língua de Hollywood como uma mistura entre Clube dos Cinco e Onze Homens e um Segredo.)

A empresa pagou para Osborne, que escreveu entre outros Irmãos Gêmeos e O Escorpião Rei, uma pequena taxa de cerca de 1.000 dólares, e mencionou seu nome nos agradecimentos do livro.

“Ele não iria mesmo a lugar nenhum e pensei: que bom que poderá ter outra vida”, explica Osborne, contando que mais de 12 roteiros seus que não foram produzidos estão arquivados em vários estúdios.

Chiles teve a ideia de montar a Adaptive quatro anos atrás depois de um insight parecido que teve enquanto trabalhava como produtor de documentários. Muitos de seus amigos em Hollywood estavam ocupados escrevendo e vendendo roteiros, mas pouquíssimos eram produzidos. Os roteiros, que com certeza eram suficientemente promissores para terem sido comprados pelos chefes dos estúdios, pareciam uma fonte vasta e inexplorada em uma indústria onde a propriedade intelectual é a moeda principal.

Chiles se reuniu com dois sócios que já trabalhavam com produção, T.J. Barrack e Marc Joubert, para lançar a Adaptive. Os dois foram consultores da Miramax, onde Joubert tinha como missão vasculhar centenas de roteiros para ver o que, se fosse o caso, poderia ser salvo.

Eles conseguiram dinheiro de vários investidores, incluindo o capitalista de risco do Vale do Silício Roger McNamee; Todd Wagner, um dos donos da Magnolia Pictures e do Landmark Theaters; e o pai de Barrack, Thomas J. Barrack, investidor do ramo de imóveis e presidente executivo da Colony Capital.

A Adaptive ainda tem muito que provar em Hollywood. O mercado do cinema está cheio de empresas que chegam com ideias bastante promissoras e nunca conseguem ir adiante. Para tornar o negócio ainda mais difícil, a Adaptive não tem uma parceria de distribuição com um estúdio importante.

Boa parte do tempo dos executivos é gasta tentando liberar o direito legal de projetos mal amados que permanecem no limbo.

E a empresa enfrenta uma pressão enorme para não deixar que os projetos caiam no esquecimento. “A última coisa que queremos é pegar esses projetos que estamos chamando de órfãos ou abandonados e mantê-los assim”, afirma Joubert, referindo-se à propriedade intelectual.

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