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Sem olho no olho: veja como manter relações de confiança no "home office"

Com a adoção de reuniões on-line por causa da pandemia, empresas e empregados criam formas de manter entrosamento

Home office: reuniões demandam uma nova linguagem corporal (Alistair Berg/Getty Images)

Home office: reuniões demandam uma nova linguagem corporal (Alistair Berg/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 14 de junho de 2020 às 17h34.

Sem o olho no olho no escritório ou o bate-papo no cafezinho, manter relações de confiança entre colegas, chefes e clientes tem sido uma das principais dificuldades no mundo corporativo desde que a pandemia levou muita gente para o home office.

Convertidas em videoconferências, as reuniões demandam uma nova linguagem corporal para se alcançar a mesma persuasão das interações pessoais. E muito mais atenção. Captar a reação do interlocutor sem ver direito sua expressão ou disputar espaço entre diferentes pontos de vista nos encontros on-line são novos desafios na era digital acelerada pelo coronavírus.

Para ajudar na adaptação e manter o entrosamento, muitas empresas estão promovendo oportunidades para os empregados fazerem social, de café da manhã virtual a happy hour, festas de aniversário e até coral on-line.

Patrícia Coimbra, vice-presidente de Capital Humano da SulAmérica, diz que é preciso preservar a humanidade nesse mundo profissional digital, com grande parte das pessoas isoladas em suas casas. Na empresa de seguros, vale cafezinho no meio da tarde com aplicativo de reunião ligado ou lives assistidas em conjunto pelas equipes para aproximar os funcionários.

— O que importa não é a tecnologia e sim o que a pessoa está falando. As dificuldades de entender o colega antes da pandemia podem aumentar agora. Então, o ideal é ser transparente e claro — diz Patrícia.

Trabalhar em casa não é mesmo uma tarefa fácil, admite Roberto Picino, diretor-executivo da consultoria Michael Page. Para ele, um dos principais desafios da interação por telas é estabelecer uma relação baseada na transparência, empatia e autogestão:

— A relação de trabalho vai mudar para sempre. Por isso, a melhor forma de substituir o olho no olho é dar autonomia. Conversar e ouvir são as melhores ferramentas para aumentar a produtividade.

Conversa franca e transparente é o que logo vem à cabeça de Alex Buchhein, diretor-geral da Limppano, fabricante de produtos de limpeza. Ele abriu espaço para temas pessoais e diz ter notado que, com o teletrabalho, seus funcionários passaram a se expressar de forma mais clara nas reuniões, o que vem mostrando bons resultados:

— Não foi algo planejado, ocorreu da noite para o dia. Todo mundo tem que expor suas questões de forma remota, mas as conversas estão sendo boas, transparentes. Além das demandas atuais da companhia, as pessoas colocam também suas questões pessoais, de família e de saúde, os assuntos mais comuns neste momento. Talvez ao vivo essas coisas poderiam ser mais constrangedoras.

Uma pesquisa da consultoria Gartner mostra que as reuniões virtuais caíram no gosto das empresas e aponta que, até 2024, os encontros pessoais no mundo corporativo serão apenas 25% do total. Muitas companhias já anunciaram a decisão de estender o home office após a pandemia.

É o caso da LafargeHolcim, uma cimenteira franco-suíça, que adotou de forma definitiva o teletrabalho para seus 150 funcionários administrativos no Rio.

— Nesse tipo de ambiente, e preciso ter comunicação clara e assertiva. A entrega passa a ser mais importante que a hora de trabalho. Esse distanciamento pode unir as pessoas. Happy hour e cafezinho virtual são importantes para entender melhor quem trabalha com você — diz Juliana Andrigueto, diretora de Recursos Humanos da LafargeHolcim.

O antropólogo Michel Alcoforado, sócio-diretor da Consumoteca, acredita que, por outro lado, a pandemia pode até reforçar a importância do escritório. Desde que começou o isolamento dos que podem ficar em casa, ele lembra, acabaram os momentos que criam o “contexto do trabalho”, como aquele almoço prolongado ou a conversa no corredor:

— Estamos perdendo esse contexto. E percebemos que o trabalho não é só lugar de trabalho. Por isso, é preciso saber quem é o meu chefe, onde ele vive, como é a sua família e vice-versa. Não podemos tratar todo mundo igual. Não somos máquinas.

Roberto Aylmer, psicoterapeuta e professor da Fundação Dom Cabral e Coppead/UFRJ, lembra que um dos erros mais comuns num momento como este é não demonstrar vulnerabilidade. Para ele, deixar escondido questões como ansiedade, depressão e estresse extremo, como o burn out, podem colocar em risco toda a relação de confiança no trabalho:

— Hoje, perguntar “como você está?” ganhou um novo significado. Colocar as pessoas em competição para aumentar a produtividade não funciona mais. Para a relação entre colaboradores e chefes funcionar, é preciso estabelecer novos indicadores, calcados na colaboração e no trabalho em conjunto. Ninguém vai conseguir nada sozinho. O time é o novo herói.

Em tempos de pandemia, a solução apontada por especialistas e empresas parece simples e ao mesmo tempo desafiadora diante da tecnologia: saber ouvir

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