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Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2013 às 15h00.
São Paulo - Avista da mesa de trabalho da engenheira mecânica carioca Ana Zambelli, de 37 anos, presidente da unidade brasileira da Schlumberger, uma das maiores fornecedoras mundiais de produtos para exploração de petróleo, é espetacular.
No vigésimo andar de um prédio no centro do Rio de Janeiro, ela pode enxergar toda a Baía de Guanabara. Ana, no entanto, tem pouco tempo para admirar a paisagem de cartão-postal.
Chama mais a atenção um quadro branco na parede ao lado, onde estão escritos a pincel atômico os nomes de seus principais clientes e também dos lugares das suas próximas viagens, como Texas e Oriente Médio.
A franco-americana Schlumberger desenvolve e fornece tecnologia de ponta para a indústria de óleo e gás. Opera em 88 países e emprega 77.000 pessoas de 140 nacionalidades. No ano passado, faturou 22,7 bilhões de dólares. Nos últimos anos, com os anúncios do campo de Tupi e do pré-sal, a operação brasileira, que Ana lidera, vem ganhando atenção especial.
A unidade, com sede no Rio de Janeiro, tinha 1.100 profissionais em 2005, passou para 1 400 em 2008 e hoje tem cerca de 1 700. Em Macaé, no norte do estado, a empresa está investindo 65 milhões de dólares na construção de uma nova base, prevista para ser entregue neste mês, que poderá abrir até 500 novos postos de trabalho.
O número de vagas pode aumentar ainda mais, prevê a executiva. A Schlumberger tem uma política apelidada de “recrutamos onde trabalhamos”, que consiste em manter a proporção entre a origem do faturamento e a nacionalidade do funcionário.
Se, por exemplo, 10% da receita vem da América Latina, a empresa tenta fazer com que 10% de seus funcionários sejam nascidos na região. Com a expectativa de que o pré-sal mude a importância do Brasil no mercado de petróleo, pode-se prever novas vagas para os profissionais locais.
A gestão de Ana merece ser observada por outras razões. A que mais chama a atenção, obviamente, é o fato de ser uma mulher na presidência de uma organização importante desse setor no Brasil.
Além disso, a executiva é relativamente jovem para o cargo, num mercado em que os presidentes costumam ter mais de 50 anos. “Acho que minha carreira foi um pouco acelerada mesmo”, diz Ana, que fez toda sua trajetória dentro da Schlumberger, onde está há 15 anos.
Formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ana fez estágio e foi contratada como engenheira de campo. Trabalhou em plataforma de petróleo em Sergipe. Depois, foi para os Estados Unidos, passou pela área de treinamento no Texas e voltou à operação como gerente de campo de petróleo na Louisiana.
Mudou-se para Angola, de onde gerenciava operações em oito países africanos. Passou um ano na Escócia, onde fez mestrado em engenharia de petróleo na Heriot-Watt University, de Edimburgo, título que ela considera fundamental para seu crescimento na carreira.
“Ganhei uma base técnica importante para crescer na companhia”, diz. De volta ao Rio, cuidou de clientes na Argentina, na Bolívia e no Chile. “Passar por áreas operacionais e de suporte e por muitos países deu consistência para chegar à presidência da empresa”, diz Ana.
Antes de assumir a operação brasileira, foi responsável pela área mundial de planejamento de carreira, em Paris. Essa experiência em recursos humanos tem sido importante num momento em que o mercado de óleo e gás está preocupado com a escassez de profissionais.
“Os talentos estão sendo disputados”, diz a headhunter Jaqueline Resch, do Rio de Janeiro, que atualmente trabalha 11 vagas no setor. Diferentemente de colegas da área, Ana não está preocupada com a escassez de mão de obra. Para ela, isso é um problema que pode vir a ocorrer no futuro.
Essa aparente tranquilidade vem da filosofia de carreira da Schlumberger, que recruta profissionais ainda na faculdade e dá uma formação intensa em engenharia de petróleo nos três ou quatro anos iniciais da vida profissional de seus funcionários.
Mestres e doutores
Essa visão faz a Schlumberger ser reconhecida como escola de profissionais para o setor de petróleo — um papel semelhante ao que GE e IBM também fazem em seus mercados. Para trazer talentos, Ana tem formado parcerias com faculdades. Em março deste ano, inaugurou um laboratório de pesquisas na Universidade Santa Cecília, em Santos.
O maior investimento da Schlumberger nessa área está no campus da UFRJ, no Rio, onde está investindo 30 milhões de dólares num centro de pesquisa, que abrigará cerca de 300 pessoas. “A intenção é contratar mestres e doutores brasileiros”, prevê.
A fama de escola atrai jovens profissionais, também desperta a atenção de concorrentes. Na gestão de pessoas, o que mais preocupa Ana é o assédio que a companhia sofre sobre seus profissionais que têm entre 28 anos e 40 anos e estão num estágio intermediário de carreira. Essa mão de obra, que toca a operação, é a mais escassa no mercado brasileiro de óleo e gás atualmente.
“O valor de mercado dessas pessoas está aumentando rápido e é preciso pensar em como mantê-las de uma forma que tenham atrativos de carreira e financeiros”, constata Ana.
Perder um funcionário jovem significa prejuízo: o profissional já recebeu bastante treinamento, mas o retorno do investimento para o negócio só se dá lentamente. A retenção é mais complicada quando a proposta parte das empresas de extração — os clientes da Schlumberger. “O profissional do prestador de serviço deseja ter a experiência da operação e aí é mais difícil segurar”, diz Patricia Gibin, diretora da Fesa, empresa de seleção de executivos.
Foi o que ocorreu no ano passado quando a norueguesa Statoil fez um grande investimento no Brasil e agitou o mercado, levando profissionais de concorrentes, parceiros e de fornecedores, inclusive da Schlumberger.
A receita de Ana para reter os talentos é conhecida: evitar cair numa discussão baseada exclusivamente em salário. “Mostramos que aqui o profissional vai ter oportunidade de desenvolvimento e de fazer carreira internacional”, diz a presidente, ela mesma um exemplo disso. Uma volta pelos corredores da Schlumberger comprova que carreira internacional é uma realidade por lá.
Há nomes estrangeiros nas portas das salas e gente falando inglês com os mais variados sotaques. Outro fator de retenção, aponta Ana, é a possibilidade de transitar entre áreas técnicas e gerenciais. “Isso alivia uma angústia da maioria dos profissionais que não gostam de renunciar ao talento técnico para assumir posições de gestão”, diz Ana.
Até o momento, o discurso tem funcionado. Segundo um consultor de carreira do Rio, os funcionários da Schlumberger adoram a companhia. “Headhunter sofre para tirar um executivo de lá”, diz. O tempo dirá se Ana precisará oferecer mais para seus cobiçados profissionais.