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O economista Samy Dana leva o piano para as aulas

O economista Samy Dana usa camiseta e sandálias como uniforme de trabalho, leva o piano para a sala de aula e tem a disciplina mais concorrida da FGV. Sua abordagem criativa para os temas clássicos da economia tem atraído a atenção de acadêmicos do Brasil

Samy Dana, economista da FGV de São Paulo: aulas de piano para estimular a criatividade de economistas e administradores (Raul Junior / VOCÊ S/A)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2013 às 19h03.

São Paulo - Vestindo camiseta preta e sandálias Crocs verdes, o professor Samy Dana, de 33 anos, chegou ao complexo da Fundação Getulio Vargas ( FGV ) em São Paulo, no último dia 12 de março, para ministrar uma aula especial.

Doutor em economia e especialista em finanças, seu desafio no fim daquela manhã foi um pouco diferente: ensinar música a futuros administradores e economistas, com a colaboração da pianista Silvia Goes.

Samy não mistura conceitos de finanças com teoria musical. O economista ensina as diferenças entre harmonia, ritmo e melodia e mostra o que é improviso — enquanto explicava os conceitos, ele e Silvia tocavam piano. Mas qual é o objetivo?

Octávio Augusto de Barros, estudante do último ano de economia, responde: "O objetivo das aulas é 'bater na cara' do aluno para que ele se acostume a usar o instinto criativo. Na prática, se amanhã o profissional estiver diante de uma situação em que precisa cortar custos, poderá ser mais criativo e encontrar saídas diferentes dos modelos que já existem, como o de fazer demissões".

A princípio, não há relação direta entre números, modelos administrativos e notas musicais. Mas, segundo Samy, o estudo de economia ou administração (bagagem técnica) combinado com artes (desenvolvimento do instinto criativo) é a chave para formar líderes. Se forem mais do que apenas técnicos, Samy acredita que poderão seguir a trilha dos "caras que mudaram o mundo".

“As grandes mudanças não aconteceram por técnica”, disse Samy à Você S/A, durante entrevista concedida em sua sala na faculdade, onde o piano elétrico ocupa lugar ao lado da mesa de trabalho.

“Eu desafio os alunos a criar o tempo todo, a escrever um texto que se encaixe em uma melodia, num roteiro de filme, até mesmo um molho de tomate.” É recorrendo à criatividade o tempo todo que o tão desejado ato de ‘pensar fora da caixa’ se torna um hábito”, diz Samy.


São Paulo - A matéria optativa de criatividade passou a ser oferecida desde o segundo semestre de 2012 pelo recém-criado Núcleo de Criatividade e Cultura (GV Cult), uma ideia de Samy que a FGV abraçou. A disciplina é atualmente a mais concorrida da escola. No segundo semestre do ano passado, 118 estudantes batalharam pelas 44 vagas para assistir a aulas de música, cinema, teatro e até culinária.

Formado em economia pela Fundação Armando Alvares Penteado, Samy está chamando a atenção dentro e fora da FGV. Dentro, por criar inovações como o GV Cult e por “fazer mil coisas ao mesmo tempo e todas muito bem”, diz Nelson Barth, coordenador do curso de administração.

Fora, devido ao estreitamento das relações com a imprensa, sobretudo no último ano. Em 2012, Samy foi o professor que mais gerou exposição na mídia para a faculdade, o equivalente a 32,7 milhões de reais, superando decanos como o carioca Marcelo Neri, economista da FGV do Rio de Janeiro e atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

O valor em milhões de reais corresponde ao que a instituição teria gasto em publicidade para ocupar o espaço conquistado pelas opiniões de Samy nos principais veículos de comunicação do Brasil.

Hiperativo

Dono de um jeito de falar enfático e recheado de exclamações (suas opiniões críticas quase sempre ganham um “francamente!” no final das frases), o filho de médico e professora escolheu estudar economia quase que por eliminação. "Eu não me sentia atraído por biológicas e tenho dificuldade para ler, embora goste muito de literatura."

A escolha recaiu, então, sobre economia, que ofereceria mais possibilidades de trabalho. Hoje ele tem um currículo extenso para alguém de sua idade. O mestrado em economia foi concluído no Ibmec-RJ. Logo após vieram dois doutorados — um em administração pela FGV-Eaesp e o Ph.D. na IE de Madri, na Espanha.

Fora o evidente interesse pela numeralha, a música e o desafio de desvendar comportamentos de consumo são suas outras grandes paixões. "Adoro tentar decifrar irracionalidades. Por que as pessoas não conseguem fazer regime? Ou guardar dinheiro? Isso é economia."


Em sua opinião, são problemas reais, que deveriam ser levados para as classes de economia. Além disso, ele acha o formato do ensino, em geral, ultrapassado. "O mundo mudou tanto e a gente continua tendo aula num padrão lousa e sem poder acessar a internet. Isso não cola mais."

E continua: "Não acho que eu tenha que esgotar um assunto até notar que o aluno entendeu. Eu planto a semente. Às vezes leva anos para a ficha cair, aconteceu comigo".

Mesmo crítico e muito exigente, ele caiu nas graças dos estudantes da FGV. Prova disso é que nos últimos quatro anos foi escolhido paraninfo em duas tumas de formandos e patrono em uma terceira.

"Só tem um porém em ser hiperativo: isso complica um pouco a minha vida pessoal", diz. O volume de atividades com as quais se envolve durante a semana permite que ele durma apenas três horas por noite.

Além das aulas para os cursos de graduação, pós-graduação e MBA de economia e administração na FGV, onde leciona desde 2005 e mantém contrato integral há dois anos e meio, ele está escrevendo quatro livros, colabora em espaços fixos de veículos de imprensa e cursa o terceiro ano de música da Faculdade Santa Marcelina.

Por essa lista é fácil entender por que seu passatempo aos sábados e domingos é ficar em casa tocando piano, instrumento escolhido aos 5 anos de idade. O descompasso de agendas azedou o último namoro, que durou apenas um ano. "Sou eu quem procura todas essas atividades. Vou atrás de realizar as ideias que tenho porque quero."

Novas ideias

Entre as ideias mais recentes está a criação do Índice de Cultura Empresarial (ICE), da BM&F Bovespa, projeto do GV Cult. Em fase de estudos de viabilidade, o indicador serviria como um sistema métrico de avaliação dos aportes feitos pelas companhias de capital aberto na área cultural.

Outras sacadas atuais são a elaboração de um livro infantil de finanças e uma iniciativa que poderá levar o nome de Mas, Francamente, ainda sem formato definido. Por meio dessa ideia, ele pretende mostrar os microabusos que o consumidor brasileiro vive no dia a dia por não saber avaliar se um produto ou serviço vale de fato o preço cobrado.

Samy também colabora com colunas fixas (é o mais novo colunista da Você S/A) e participa do programa Conta Corrente, exibido pela Globo News, reformulado com sua colaboração.

Enquanto as ideias brotam, o músico fã de jazz e samba — ele até já deu uma palhinha  em bares como o Blue Note, de Nova York, e o Bourbon Street, da capital paulista — faz planos para o futuro. Um deles é levar suas ideias sobre o ensino da criatividade no campo de economia, administração e engenharias para outros países.

No momento, a Universidade de Lisboa, em Portugal, a Universidade Stanford e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), ambos nos Estados Unidos, já mostraram interesse. Haja energia.

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São Paulo - Vestindo camiseta preta e sandálias Crocs verdes, o professor Samy Dana, de 33 anos, chegou ao complexo da Fundação Getulio Vargas ( FGV ) em São Paulo, no último dia 12 de março, para ministrar uma aula especial.

Doutor em economia e especialista em finanças, seu desafio no fim daquela manhã foi um pouco diferente: ensinar música a futuros administradores e economistas, com a colaboração da pianista Silvia Goes.

Samy não mistura conceitos de finanças com teoria musical. O economista ensina as diferenças entre harmonia, ritmo e melodia e mostra o que é improviso — enquanto explicava os conceitos, ele e Silvia tocavam piano. Mas qual é o objetivo?

Octávio Augusto de Barros, estudante do último ano de economia, responde: "O objetivo das aulas é 'bater na cara' do aluno para que ele se acostume a usar o instinto criativo. Na prática, se amanhã o profissional estiver diante de uma situação em que precisa cortar custos, poderá ser mais criativo e encontrar saídas diferentes dos modelos que já existem, como o de fazer demissões".

A princípio, não há relação direta entre números, modelos administrativos e notas musicais. Mas, segundo Samy, o estudo de economia ou administração (bagagem técnica) combinado com artes (desenvolvimento do instinto criativo) é a chave para formar líderes. Se forem mais do que apenas técnicos, Samy acredita que poderão seguir a trilha dos "caras que mudaram o mundo".

“As grandes mudanças não aconteceram por técnica”, disse Samy à Você S/A, durante entrevista concedida em sua sala na faculdade, onde o piano elétrico ocupa lugar ao lado da mesa de trabalho.

“Eu desafio os alunos a criar o tempo todo, a escrever um texto que se encaixe em uma melodia, num roteiro de filme, até mesmo um molho de tomate.” É recorrendo à criatividade o tempo todo que o tão desejado ato de ‘pensar fora da caixa’ se torna um hábito”, diz Samy.


São Paulo - A matéria optativa de criatividade passou a ser oferecida desde o segundo semestre de 2012 pelo recém-criado Núcleo de Criatividade e Cultura (GV Cult), uma ideia de Samy que a FGV abraçou. A disciplina é atualmente a mais concorrida da escola. No segundo semestre do ano passado, 118 estudantes batalharam pelas 44 vagas para assistir a aulas de música, cinema, teatro e até culinária.

Formado em economia pela Fundação Armando Alvares Penteado, Samy está chamando a atenção dentro e fora da FGV. Dentro, por criar inovações como o GV Cult e por “fazer mil coisas ao mesmo tempo e todas muito bem”, diz Nelson Barth, coordenador do curso de administração.

Fora, devido ao estreitamento das relações com a imprensa, sobretudo no último ano. Em 2012, Samy foi o professor que mais gerou exposição na mídia para a faculdade, o equivalente a 32,7 milhões de reais, superando decanos como o carioca Marcelo Neri, economista da FGV do Rio de Janeiro e atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

O valor em milhões de reais corresponde ao que a instituição teria gasto em publicidade para ocupar o espaço conquistado pelas opiniões de Samy nos principais veículos de comunicação do Brasil.

Hiperativo

Dono de um jeito de falar enfático e recheado de exclamações (suas opiniões críticas quase sempre ganham um “francamente!” no final das frases), o filho de médico e professora escolheu estudar economia quase que por eliminação. "Eu não me sentia atraído por biológicas e tenho dificuldade para ler, embora goste muito de literatura."

A escolha recaiu, então, sobre economia, que ofereceria mais possibilidades de trabalho. Hoje ele tem um currículo extenso para alguém de sua idade. O mestrado em economia foi concluído no Ibmec-RJ. Logo após vieram dois doutorados — um em administração pela FGV-Eaesp e o Ph.D. na IE de Madri, na Espanha.

Fora o evidente interesse pela numeralha, a música e o desafio de desvendar comportamentos de consumo são suas outras grandes paixões. "Adoro tentar decifrar irracionalidades. Por que as pessoas não conseguem fazer regime? Ou guardar dinheiro? Isso é economia."


Em sua opinião, são problemas reais, que deveriam ser levados para as classes de economia. Além disso, ele acha o formato do ensino, em geral, ultrapassado. "O mundo mudou tanto e a gente continua tendo aula num padrão lousa e sem poder acessar a internet. Isso não cola mais."

E continua: "Não acho que eu tenha que esgotar um assunto até notar que o aluno entendeu. Eu planto a semente. Às vezes leva anos para a ficha cair, aconteceu comigo".

Mesmo crítico e muito exigente, ele caiu nas graças dos estudantes da FGV. Prova disso é que nos últimos quatro anos foi escolhido paraninfo em duas tumas de formandos e patrono em uma terceira.

"Só tem um porém em ser hiperativo: isso complica um pouco a minha vida pessoal", diz. O volume de atividades com as quais se envolve durante a semana permite que ele durma apenas três horas por noite.

Além das aulas para os cursos de graduação, pós-graduação e MBA de economia e administração na FGV, onde leciona desde 2005 e mantém contrato integral há dois anos e meio, ele está escrevendo quatro livros, colabora em espaços fixos de veículos de imprensa e cursa o terceiro ano de música da Faculdade Santa Marcelina.

Por essa lista é fácil entender por que seu passatempo aos sábados e domingos é ficar em casa tocando piano, instrumento escolhido aos 5 anos de idade. O descompasso de agendas azedou o último namoro, que durou apenas um ano. "Sou eu quem procura todas essas atividades. Vou atrás de realizar as ideias que tenho porque quero."

Novas ideias

Entre as ideias mais recentes está a criação do Índice de Cultura Empresarial (ICE), da BM&F Bovespa, projeto do GV Cult. Em fase de estudos de viabilidade, o indicador serviria como um sistema métrico de avaliação dos aportes feitos pelas companhias de capital aberto na área cultural.

Outras sacadas atuais são a elaboração de um livro infantil de finanças e uma iniciativa que poderá levar o nome de Mas, Francamente, ainda sem formato definido. Por meio dessa ideia, ele pretende mostrar os microabusos que o consumidor brasileiro vive no dia a dia por não saber avaliar se um produto ou serviço vale de fato o preço cobrado.

Samy também colabora com colunas fixas (é o mais novo colunista da Você S/A) e participa do programa Conta Corrente, exibido pela Globo News, reformulado com sua colaboração.

Enquanto as ideias brotam, o músico fã de jazz e samba — ele até já deu uma palhinha  em bares como o Blue Note, de Nova York, e o Bourbon Street, da capital paulista — faz planos para o futuro. Um deles é levar suas ideias sobre o ensino da criatividade no campo de economia, administração e engenharias para outros países.

No momento, a Universidade de Lisboa, em Portugal, a Universidade Stanford e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), ambos nos Estados Unidos, já mostraram interesse. Haja energia.

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