Temer, o Palmeiras e a gripezinha: três lições com erros de português
Alguns erros de português podem se tornar exemplos memoráveis de como o uso da língua pode alterar uma mensagem. Professor dá lição com os exemplos
Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2020 às 18h20.
Última atualização em 27 de outubro de 2020 às 20h36.
Leia a frase abaixo:
"O Brasil voltou, 20 anos em 2."
Esse foi o lema produzido pela assessoria do ex-presidente Michel Temer em 2018: uma infeliz sentença, sob o ponto de vista linguístico .
Explico: sem as revisões semântica (sobre o sentido) e gramatical, uma sentença solta nem sempre revelará a intenção comunicativa. O verbo "voltar" pode referir-se a "ressurgir" ou "reaparecer", mas nessa específica situação expõe mais o sentido de "retroceder". Foi uma escolha lexical lamentável.
Na escrita, a vírgula daquela forma tem o mesmo papel de dois-pontos ou do próprio travessão. Na fala, na pronúncia, está ali o grande problema: "regressar 20 anos em 2" interrompe a intenção do governo, gerando a ambiguidade, a dupla compreensão (algo jamais bem-vindo neste momento de tanta turbulência no cenário brasileiro).
O Palmeiras
Nesse baú de sentenças inadequadas, houve o dedo da Adidas, ex-patrocinadora do Palmeiras: "O bom filho à casa torna."
Sim! Um deslize gramatical em plena camisa comemorativa, para o dia 19 de novembro de 2014. Foram muitos os protestos à época, por causa de um bendito acento grave.
Explico: o termo "casa" no sentido de "lar", "lugar onde se mora", é usado sem artigo, justamente o que impede a ocorrência de crase. Apesar disso, se o termo casa fosse acompanhado de um adjetivo (um termo especificador), haveria sim crase: "O bom filho à casa dos pais torna."
Maldito diminutivo
Neste ano, um diminutivo deu o que falar: "gripezinha". A palavra fez parte de um discurso presidencial lido, à época dos primeiros casos do atual coronavírus.
Mesmo que a intenção, com o uso do termo, fosse acalmar o ouvinte, o que se via, na prática, era uma doença devastadora, infelizmente.
Por essas e outras, para evitar ruídos e polêmicas desnecessárias, a revisão textual é o grande aliado de um escritor e um comunicador. Na dúvida, é melhor esperar ou (até mesmo) não publicar.
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Diogo Arrais
http://www.ARRAISCURSOS.com.br
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Professor de língua portuguesa
Fundador do ArraisS Cursos