La Casa de Papel: 2ª temporada estreou na Netflix sexta-feira 6 de abril (Youtube/Reprodução)
Camila Pati
Publicado em 7 de abril de 2018 às 06h00.
Última atualização em 20 de janeiro de 2020 às 12h04.
São Paulo – Sucesso de audiência na Netflix, a segunda parte da temporada da série La Casa de Papel acaba de estrear no serviço de streaming para alegria dos seus fãs brasileiros.
A trama viciante além de ser um prato cheio para uma “maratona Netflix” traz lições de liderança e de negociação que podem ser aplicadas no dia a dia de trabalho, dizem especialistas consultados pelo Site Exame.
Observar como o protagonista da série gerencia o grupo de assaltantes e negocia com seu time e com a polícia dá ensejo a reflexões que poderiam estar no currículo de cursos sobre esses dois temas.
“O professor é o protagonista e grande líder da série. Tem várias características próprias de um bom líder, ainda que haja algumas falhas ao longo do caminho”, diz Fernando Mantovani, diretor geral da Robert Half no Brasil, e fã da série espanhola.
Além de liderar o grupo ele é um exímio negociador, na visão de Breno Paquelet, professor do MBA em gestão de negócios da Unigranrio e especialista em negociação pela Universidade de Harvard.
“A série é muito interessante, pois mostra diferentes cenários em que a negociação está inserida e as etapas da estratégia para alcançar o resultado desejado”, diz Paquelet. De acordo com ele, negociação não é um dom e pode, sim, ser aprendida. “A melhor maneira de adquirir conhecimento nessa área é praticando”, diz.
A principal virtude de liderança o protagonista demonstrou ao montar o seu time de assaltantes. “Soube formar uma equipe diversa, aprendeu a gerenciar cada um deles. O professor não apostou em um perfil único”, diz Mantovani.
Paquelet também destaca essa característica. “O professor demonstra muito mérito em montar uma equipe multidisciplinar, com experiências, motivações e formas de atuação bem distintas e consegue, por meio de uma liderança atenta, extrair o melhor de cada um ao escolher papeis específicos dentro do plano que contemplam os pontos fortes de cada pessoa”, diz Paquelet.
É papel de um gestor saber escolher e lidar com diferentes perfis de pessoas mas muitos chefes fazem justamente o contrário. “Tendem a buscar pessoas iguais a si, com as mesmas habilidades”, diz Mantovani.
Outro destaque da atuação do professor como líder é a sua capacidade de planejamento e de leitura de possíveis cenários. “Ele anteviu muitas situações e preparou o grupo “, diz o diretor da Robert Half.
Cauteloso, o professor planejou cada detalhe do assalto à Casa da Moeda. Conhecia o negócio, sabia aonde queria chegar, tinha tudo estruturado e apostou em delegar. Essa preparação prévia o ajudou em um ponto importante para todo e qualquer líder: a estabilidade emocional.
Suas falhas também trazem insights úteis, diz Mantovani. Dois erros merecem destaque: envolvimento emocional e escolha de um gestor interno opressor (Berlim). “O professor cobrou da equipe que não houvesse envolvimento emocional e ele mesmo não cumpriu”, diz o diretor da Robert Half.
O personagem Berlim merece atenção por ser uma espécie de anti-herói da liderança. “Tenta se impor à força e não respeita o interesse dos outros na equipe”, diz Paquelet.
A série dá um show de estratégias bem elaboradas de negociação para acordos complexos, que envolvem várias partes e interesses relevantes, segundo o professor da Unigranrio.
“Mostra a importância da preparação minuciosa, com mapeamento de todos os possíveis envolvidos na negociação, seus interesses principais, motivações e alternativas que teriam a cada passo dado”, diz Paquelet.
Vale observar como o protagonista tenta contemplar todos os seus possíveis movimentos e, consequentemente, a reação que a outra parte pode ter. “Por outro lado, mesmo tendo um plano bem definido, ele sabe improvisar em situações diferentes”, diz Paquelet.
A inspetora Raquel também tem habilidades marcantes de negociação, segundo o especialista. “Ela também consegue manter uma comunicação saudável mesmo sob pressão e falar a ‘linguagem’ do professor e dos assaltantes”, diz.
Em clara desvantagem por não ter tempo para se preparar, Raquel tenta sempre recuperar essa distância e se colocar em vantagem, tentando imaginar quais seriam os próximos passos. “Como sabia o que ia acontecer, o professor está sempre tranquilo e a inspetora sempre um passo atrás dele”, diz Mantovani.
Nem todo bom negociador é, via de regra, bom líder. Mas um bom líder é, em geral, um bom comunicador, virtude que, segundo Mantovani, engloba a capacidade de negociação.
Para desempenhar os dois papéis, o “líder –negociador” precisa ser bom ouvinte, diz Paquelet. “Isso é essencial para entender o interesse do outro e buscar as soluções para as questões.”
A empatia também é qualidade indispensável. Para lidar bem com questões complexas, o “líder-negociador” precisa estar disposto a construir soluções em conjunto.