Emprestou dinheiro, perdeu o amigo? Nem sempre
Evitar conflitos com parentes e colegas que pedem dinheiro emprestado pode ser simples — basta ser transparente
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2013 às 15h10.
São Paulo - Amigos, amigos, negócios à parte. O ditado é antigo, mas o dilema de separar a amizade das finanças pessoais está sempre presente no cotidiano de quem administra bem as próprias contas — e, justamente por isso, vive recebendo propostas de negócios e solicitações de empréstimos de amigos e parentes.
Para a equipe do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade Mackenzie de São Paulo, não há dúvida: é impossível ser racional quando se faz um negócio com algum amigo ou parente próximo. Os pesquisadores do Mackenzie realizaram uma experiência com 30 duplas.
Foram colocadas na tela do computador a proposta de negócio e uma foto do suposto ofertante, o que levava o entrevistado a rápidas respostas. O participante tinha quatro segundos para dar o veredicto de “justo” ou “injusto” para cada uma das ofertas.
A conclusão: as pessoas acreditam que conhecidos tendem a ser mais justos em suas ofertas, ainda que tenham recebido propostas idênticas de estranhos. O estudo foi publicado em outubro do ano passado no The Journal of Neuroscience, o que atesta a qualidade das observações dos pesquisadores.
As emoções oriundas das relações pessoais provocam alterações fisiológicas que afetam a qualidade do julgamento, explica Paulo Boggio, coordenador do laboratório e da pesquisa. Em outras palavras, diante de um pedido de empréstimo de uma pessoa querida é difícil avaliar racionalmente prós e contras.
A vontade de ajudar e o medo de criar conflitos indesejados induzem a uma resposta rápida e positiva. É aí que mora o perigo. De imediato você poderá se sentir satisfeito em tirar seu amigo ou parente da chamada pindaíba. No entanto, com o tempo, você pode perceber que fez um péssimo negócio do ponto de vista financeiro.
Desgaste emocional
Avaliados todos os riscos de um empréstimo para um amigo ou familiar, a possibilidade de um provável prejuízo financeiro avançar para o emocional também é grande. Não raro amizades se desfazem e parentes se afastam por brigas causadas por acordos financeiros malsucedidos. Para o professor e consultor financeiro Marcos Silvestre, na dúvida é melhor dizer “não”. “O tomador subentende que o amigo empresta porque tem dinheiro disponível.
Assim, naturalmente imagina que o amigo não deve esperar dele o mesmo rigor na devolução que existiria no caso de um empréstimo formal com instituição financeira”, afirma o professor. A dica é guardar essa atitude para momentos de extrema necessidade, como emergências de saúde. “Bancar o estilo de vida de terceiros, nem pensar”, diz Marcos. “Dizer ‘não’ requer pulso firme e certa frieza na largada, mas ainda em menor dose do que para fazer a cobrança depois.”
A consultora e coach financeira Regina Silva, do Gyraser, de São Paulo, recomenda uma conversa às claras, antes de qualquer argumento. Caso tenha o dinheiro, mas não se sinta à vontade para emprestá-lo, a verdade é a melhor opção. Diga que não se sente seguro e que teme pelo relacionamento.
“Todos precisam deixar claro seu limite de segurança, para a proteção do relacionamento.” Em alguns casos, a vontade de ajudar faz com que o indivíduo organizado financeiramente não se incomode em disponibilizar a verba para amigos ou parentes. Nesse caso, é fundamental fazer as contas. A probabilidade de esse dinheiro não voltar para o caixa é grande e, portanto, não é nada saudável conceder um valor que já esteja comprometido com outro evento — ainda que em longo prazo.
Contrato e prazos
Defina as regras do negócio em um contrato informal para que ambos estejam claramente cientes do compromisso. Devem constar desse documento os prazos que regem a operação, as parcelas, a forma de pagamento e, principalmente, a incidência ou não de juros, mesmo que pequenos. “Com clareza a relação fica mais leve e o diálogo sobre esse tema poderá acontecer sem culpas”, afirma Regina.
Uma vez combinada a forma de pagamento, não cobre nem espere receber quitação a partir de ganhos extras como 13o salário, bônus e prêmios. O contrato deverá prevalecer para a proteção de ambas as partes. Para quem pede emprestado, é de bom tom explicar o porquê da necessidade e informar sobre o direcionamento do dinheiro, se possível, mostrando o resultado final do empréstimo.
A hora de cobrar
Não tenha medo de lançar mão do bom e velho talão de cheques. “Peça para o seu amigo os cheques datados para o pagamento conforme combinado”, diz Regina. Diante de qualquer imprevisto, a renegociação deve ser imediata para que sempre haja regras bem definidas em curso. No entanto, a consultora aconselha: depois de cinco tentativas, desista. “Às vezes a gente não consegue fazer com que a pessoa aja de uma forma diferente e organize suas contas.”
Exatamente por isso, emprestando ou não, o mais importante é oferecer uma mãozinha amiga na organização das contas pessoais. O tempo e a dedicação acabam valendo mais do que dinheiro nessas horas. “Para ajudar mesmo, vale mais a pena você entender o que está acontecendo com seu amigo ou parente, conversar sobre dinheiro, sobre as ferramentas de organização e de compras”, diz Ricardo Pereira, sócio da Dinheirama, consultoria em educação financeira.
São Paulo - Amigos, amigos, negócios à parte. O ditado é antigo, mas o dilema de separar a amizade das finanças pessoais está sempre presente no cotidiano de quem administra bem as próprias contas — e, justamente por isso, vive recebendo propostas de negócios e solicitações de empréstimos de amigos e parentes.
Para a equipe do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade Mackenzie de São Paulo, não há dúvida: é impossível ser racional quando se faz um negócio com algum amigo ou parente próximo. Os pesquisadores do Mackenzie realizaram uma experiência com 30 duplas.
Foram colocadas na tela do computador a proposta de negócio e uma foto do suposto ofertante, o que levava o entrevistado a rápidas respostas. O participante tinha quatro segundos para dar o veredicto de “justo” ou “injusto” para cada uma das ofertas.
A conclusão: as pessoas acreditam que conhecidos tendem a ser mais justos em suas ofertas, ainda que tenham recebido propostas idênticas de estranhos. O estudo foi publicado em outubro do ano passado no The Journal of Neuroscience, o que atesta a qualidade das observações dos pesquisadores.
As emoções oriundas das relações pessoais provocam alterações fisiológicas que afetam a qualidade do julgamento, explica Paulo Boggio, coordenador do laboratório e da pesquisa. Em outras palavras, diante de um pedido de empréstimo de uma pessoa querida é difícil avaliar racionalmente prós e contras.
A vontade de ajudar e o medo de criar conflitos indesejados induzem a uma resposta rápida e positiva. É aí que mora o perigo. De imediato você poderá se sentir satisfeito em tirar seu amigo ou parente da chamada pindaíba. No entanto, com o tempo, você pode perceber que fez um péssimo negócio do ponto de vista financeiro.
Desgaste emocional
Avaliados todos os riscos de um empréstimo para um amigo ou familiar, a possibilidade de um provável prejuízo financeiro avançar para o emocional também é grande. Não raro amizades se desfazem e parentes se afastam por brigas causadas por acordos financeiros malsucedidos. Para o professor e consultor financeiro Marcos Silvestre, na dúvida é melhor dizer “não”. “O tomador subentende que o amigo empresta porque tem dinheiro disponível.
Assim, naturalmente imagina que o amigo não deve esperar dele o mesmo rigor na devolução que existiria no caso de um empréstimo formal com instituição financeira”, afirma o professor. A dica é guardar essa atitude para momentos de extrema necessidade, como emergências de saúde. “Bancar o estilo de vida de terceiros, nem pensar”, diz Marcos. “Dizer ‘não’ requer pulso firme e certa frieza na largada, mas ainda em menor dose do que para fazer a cobrança depois.”
A consultora e coach financeira Regina Silva, do Gyraser, de São Paulo, recomenda uma conversa às claras, antes de qualquer argumento. Caso tenha o dinheiro, mas não se sinta à vontade para emprestá-lo, a verdade é a melhor opção. Diga que não se sente seguro e que teme pelo relacionamento.
“Todos precisam deixar claro seu limite de segurança, para a proteção do relacionamento.” Em alguns casos, a vontade de ajudar faz com que o indivíduo organizado financeiramente não se incomode em disponibilizar a verba para amigos ou parentes. Nesse caso, é fundamental fazer as contas. A probabilidade de esse dinheiro não voltar para o caixa é grande e, portanto, não é nada saudável conceder um valor que já esteja comprometido com outro evento — ainda que em longo prazo.
Contrato e prazos
Defina as regras do negócio em um contrato informal para que ambos estejam claramente cientes do compromisso. Devem constar desse documento os prazos que regem a operação, as parcelas, a forma de pagamento e, principalmente, a incidência ou não de juros, mesmo que pequenos. “Com clareza a relação fica mais leve e o diálogo sobre esse tema poderá acontecer sem culpas”, afirma Regina.
Uma vez combinada a forma de pagamento, não cobre nem espere receber quitação a partir de ganhos extras como 13o salário, bônus e prêmios. O contrato deverá prevalecer para a proteção de ambas as partes. Para quem pede emprestado, é de bom tom explicar o porquê da necessidade e informar sobre o direcionamento do dinheiro, se possível, mostrando o resultado final do empréstimo.
A hora de cobrar
Não tenha medo de lançar mão do bom e velho talão de cheques. “Peça para o seu amigo os cheques datados para o pagamento conforme combinado”, diz Regina. Diante de qualquer imprevisto, a renegociação deve ser imediata para que sempre haja regras bem definidas em curso. No entanto, a consultora aconselha: depois de cinco tentativas, desista. “Às vezes a gente não consegue fazer com que a pessoa aja de uma forma diferente e organize suas contas.”
Exatamente por isso, emprestando ou não, o mais importante é oferecer uma mãozinha amiga na organização das contas pessoais. O tempo e a dedicação acabam valendo mais do que dinheiro nessas horas. “Para ajudar mesmo, vale mais a pena você entender o que está acontecendo com seu amigo ou parente, conversar sobre dinheiro, sobre as ferramentas de organização e de compras”, diz Ricardo Pereira, sócio da Dinheirama, consultoria em educação financeira.