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"Retomar os projetos não foi fácil"

O presidente da Michelin no Brasil conta como foi substituir o colega morto em um acidente e revela seus planos para 2011

Jean-Philippe Ollier, presidente da Michelin no Brasil: foco no crescimento (André Valentim/EXAME.com)

Jean-Philippe Ollier, presidente da Michelin no Brasil: foco no crescimento (André Valentim/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo - Quando a direção do Grupo Michelin pediu ao francês Jean-Philippe Ollier, de 50 anos, que assumisse a presidência da empresa na América do Sul, no segundo semestre de 2009, ele sentiu um misto de alegria e tristeza. Jean-Philippe já havia trabalhado no Brasil de 1998 a 2005 e gostou muito. Mas o desafio era substituir o colega Luiz Roberto Anastácio, de 50 anos, que em maio de 2009 morreu em um acidente aéreo da Air France. “Nunca pensei que voltaria ao Brasil, mas não tinha como dizer ‘não’”, diz o executivo francês.

Jean-Philippe encontrou uma empresa que sofria com a crise econômica mundial. No primeiro semestre de 2009, o faturamento da principal unidade de negócio da Michelin na América do Sul caiu 40%. Isso é passado. Este ano, a múlti francesa pretende recrutar 250 funcionários. “Vamos usar o Brasil para crescer na China”, diz. Essa e outras revelações você acompanha a seguir, na entrevista de Jean-Philippe à VOCÊ S/A.    

VOCÊ S/A - O senhor chegou em um momento crítico para a Michelin. O que encontrou?

Jean-Philippe Ollier - Deparei-me com um cenário de tristeza. As pessoas estavam abaladas. Assim que cheguei, sabia que minha primeira missão era trazer energia e mostrar que teríamos força para continuar, para que os funcionários não se desestruturassem.   

VOCÊ S/A - Quais foram suas primeiras medidas para reverter a situação?

Jean-Philippe Ollier - A primeira atitude foi me aproximar dos empregados, entender a situação e incentivar a todos, para que a vida continuasse. Procurei manter à risca os planos que haviam sido traçados. Tocar os projetos não foi fácil. Foi preciso focar, escolher os assuntos e avançar. Assim, os profissionais foram voltando a trabalhar normalmente. Todos nós crescemos juntos. 

VOCÊ S/A - Que dicas o senhor daria a alguém que se vê diante de uma situação parecida?

Jean-Philippe Ollier - Não existe uma fórmula, mas, para mim, deu certo a humildade e a preocupação em ouvir e entender o que os funcionários precisavam. No meu caso também havia uma vantagem, que era a de já ter morado no Brasil. Conhecia muita gente e era como se estivesse chegando em casa.  

VOCÊ S/A - Como francês, qual é a experiência de dirigir uma companhia no Brasil?

Jean-Philippe Ollier - A Michelin, mesmo sendo francesa, possui uma cultura única. Há, no entanto, diferenças em relação ao perfil dos profissionais brasileiros. Eles têm uma espontaneidade que não se acha com muita facilidade em nenhum lugar do mundo. Aqui, é fácil e rápido engajar o pessoal, porque para os brasileiros tudo é possível e não há limites.


Se você apresenta um novo projeto a um europeu, por exemplo, primeiro terá de explicar bem, ele vai analisar, avaliar os riscos. Para o brasileiro, não. Ele já vai buscar formas de colocar aquilo em prática e, se não der certo, arranjará novas maneiras de fazer dar certo. Com isso, o processo ganha agilidade, dinamismo. É mais fácil canalizar essa energia, se necessário. Sem contar que aqui também achamos as competências técnicas de que precisamos. Podemos usar qualquer tecnologia. O que falta é quantidade, e não qualidade.      

VOCÊ S/A - Quais são os planos da Michelin no Brasil para os próximos anos?

Jean-Philippe Ollier - O Brasil é uma das prioridades do Grupo Michelin no mundo. Até 2012 vamos investir cerca de 500 milhões de dólares na construção e na ampliação de fábricas. O objetivo é dobrar o número de vendas de pneus na América do Sul, a região pela qual a operação brasileira responde. Para isso, contratamos 600 colaboradores em 2010 e devemos contratar outros 250 neste ano.   

VOCÊ S/A - Vocês estão enfrentando dificuldades para contratar? 

Jean-Philippe Ollier - Existe uma forte demanda por profissionais qualificados no mercado mundial e as pessoas estão procurando cada vez mais se capacitar. Para não enfrentar, no futuro, problemas com contratação, investimos todos os anos entre 5 milhões e 10 milhões de reais para treinar e desenvolver um grupo de 50 profissionais que passam de um a três anos se preparando para assumir cargos específicos na companhia daqui a alguns anos — tanto executivos quanto técnicos. E a ideia é aumentar esse número para 100 profissionais. Dessa forma, nos antecipamos e temos um celeiro de talentos que nos ajuda a preparar o nosso crescimento acelerado no Brasil.

VOCÊ S/A - Eles são pagos para estudar?

Jean-Philippe Ollier - Sim. Basicamente eles passam esse período se capacitando, dentro ou fora do país, para assumir cargos que mapeamos como estratégicos e que sabemos que vamos precisar no médio e longo prazo. Mas, além desse grupo, 5% das horas trabalhadas de todos os nossos funcionários são voltadas para treinamento. Para a fábrica que vamos montar até 2012, por exemplo, já temos 40 profissionais fora do país se capacitando nas tecnologias que usaremos.  

VOCÊ S/A - O que há de diferente no Brasil hoje em relação à sua primeira temporada por aqui?

Jean-Philippe Ollier - O Brasil está crescendo. Vejo que a vontade de trabalhar das pessoas, o engajamento e a disposição são os mesmos, mas hoje elas têm orgulho de seu país, que está se desenvolvendo rapidamente.

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