Principal tendência de aprendizagem é método "self-service"
O aumento do protagonismo cresce entre estudantes, inclusive os brasileiros, segundo pesquisa da Pearson
Camila Pati
Publicado em 17 de setembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 20 de janeiro de 2020 às 11h51.
São Paulo – A aprendizagem na modalidade “self-service” é tendência mundial que não tem mais volta. Pesquisa global inédita realizada pela Pearson com 11 mil pessoas em 19 países mostra que o aumento do protagonismo cresce entre estudantes, inclusive os brasileiros.
O estudo Global Learner Survey, mais abrangente pesquisa de opinião de estudantes já publicada, indica que a mentalidade do faça-você-mesmo - que desloca para o estudante o controle sobre o que e como estudar - tem sido cada vez mais importante para quem quer acompanhar as rápidas mudanças no mercado.
Dos 11 mil participantes, 81% concordam com maior controle. “Esse é um dos aspectos mais fortes e 75% dos brasileiros concordam com esse processo em que o indivíduo é o principal responsável pelo aprendizado”, diz Alexandre Mattioli, gerente editorial de educação básica e ensino superior da Pearson.
Um fato que chama a atenção do executivo é que as pessoas no Brasil, China, Índia e América Hispânica estão buscando a requalificação com mais afinco e frequência do que se vê entre estadunidenses e britânicos, por exemplo. “Os brasileiros estão engajados”, diz Mattioli.
Autodidatismo e cursos mais rápidos se apresentam como complemento eficiente à educação formal na era da chamada economia de talentos, cujas principais características são a ascensão dos trabalhos freelancer, das carreiras múltiplas e do aprendizado contínuo diante de cenário de profundas e constantes inovações tecnológicas.
A pesquisa mostra que 72% dos brasileiros querem continuar ativos mesmo depois da aposentadoria buscando uma segunda carreira ou um trabalho de meio período, abrindo o próprio negócio ou tendo aulas. “Como há a tendência de que as pessoas mudem de atividades ao longo da vida profissional, elas precisam estar continuamente desenvolvendo novas habilidades”, diz Mattioli.
Entre os participantes brasileiros, 88% concordam com o fato de que o aprendizado não acaba com a formatura na escola ou faculdade. Quase a totalidade dos chineses entrevistados (96%) também concorda com essa ideia.
A pesquisa mostra que essa não é uma realidade futurística no Brasil: 46% dos brasileiros aprenderam sozinhos usando recursos da internet, quando precisaram de uma nova qualificação para o trabalho. Entre os métodos preferidos para aprender coisas novas, os brasileiros citam cursos rápidos e ferramentas online gratuitas.
Para 77% dos brasileiros, o impacto da inteligência artificial é importante na educação. “O aprendizado virtual é o novo padrão”, diz Mattioli. O estudo mostra que 83% dos brasileiros acreditam que a inteligência artificial e aplicativos são aliados dos alunos e 71% acreditam que livros didáticos impressos estarão obsoletos daqui a cinco anos.
Uma preocupação, no entanto, que surge entre 71% os brasileiros é com o papel do professor diante da inteligência artificial. Mas, Mattioli não hesitou em afirmar a EXAME que o espaço para os professores está garantido no futuro. “Temos diversas pesquisas que indicam que não existe futuro sem professor”, diz. O executivo cita outro aspecto do estudo para justificar a relevância da carreira, o fato de que são as habilidades comportamentais os diferenciais competitivos dos humanos em relação aos robôs, segundo a maioria dos entrevistados.
Globalmente, 78% das pessoas dizem que precisam desenvolver essas habilidades, que são também conhecidas como soft skills, e se referem a, por exemplo, capacidade de solução de problemas, pensamento crítico e criatividade. O foco das universidades no ensino dessas habilidades deveria ser maior, segundo a opinião de 87% dos brasileiros. “As relações humanas sem mostram importantes e os professores são essenciais. A inteligência artificial é um fator a ser incorporado para otimizar o trabalho do professor e, não, substituí-lo”, diz.