Carreira

Para Orkut, o líder deve focar na diversidade... e marcar um happy hour

Para Orkut Buyukkokten, criador da famosa rede que leva seu nome, o home office não vai substituir as interações presenciais no trabalho

Orkut Buyukkokten: "Eu recomendo passar mais tempo falando no telefone do que nas redes sociais” (Hello Network/Divulgação)

Orkut Buyukkokten: "Eu recomendo passar mais tempo falando no telefone do que nas redes sociais” (Hello Network/Divulgação)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 16 de outubro de 2020 às 07h00.

Última atualização em 16 de outubro de 2020 às 07h47.

“Toda sexta, marque uma videoconferência, faça um drink e tenha um happy hour para falar da vida, não do trabalho. Eu recomendo para todas as empresas que façam isso, mesmo estando isolados, podemos socializar”, fala Orkut Buyukkokten, CEO e co-fundador da Hello Network e criador na extinta rede Orkut.com.

Mesmo mantendo o trabalho em casa para seus funcionários até o próximo, Orkut conta em entrevista para a EXAME que nunca vai dispensar a interação pessoal, o famoso “cara a cara”.

Ele criou a primeira grande rede social que ficou popular no Brasil e fala sempre que seu propósito é conectar pessoas. No entanto, esse conceito para ele vai muito além do online.

“Manter a conexão com as pessoas não é mandar uma mensagem de feliz aniversário online, mas ligar para elas. Em outros tempos, desejar pessoalmente feliz aniversário. Eu recomendo passar mais tempo falando no telefone do que nas redes sociais”, comenta.

Assim, o ritual que ele mais recomenda no momento é marcar um happy hour virtual com a equipe. “Aqui não temos caipirinhas, mas nos encontramos online e bebemos margaritas”, diz.

Orkut também falou sobre seu propósito e como o respeito à diversidade sempre foi central na sua jornada. Ele nasceu na Turquia, mas passou parte da infância na Alemanha e mais tarde estudou na Universidade Stanford, nos Estados Unidos.

De 2004, quando fundou o Orkut, até hoje, ele vê que o tema de diversidade avançou no Vale do Silício. Para ele, um problema atual é que muitas empresas ainda não entendem o papel que devem exercer para ajudar na inclusão.

"Não adianta contar quantas pessoas estão contratando. É preciso pensar no empoderamento dessas pessoas e aceitar que elas são diferentes”, explica.

No dia 22 de outubro, ele vai falar mais sobre o tema no evento Silicon Valley Web Conference. Da mesma forma que crê em uma forma mais saudável de se conectar online, Orkut defende que o caminho para abordar diversidade das empresas começa com um passo simples: saber ouvir o outro.

Confira sua entrevista completa:

Você sempre fala que seu sonho é conectar pessoas. Qual a história por trás desse propósito? Como isso mudou ao longo da sua carreira? 

Enquanto eu estava crescendo, meus pais se mudavam muito. Eu era pequeno quando me mudei da Turquia para a Alemanha. Eu me vi numa escola cheia de gente loira. Na minha casa, com a família turca, celebrávamos o Ano Novo durante o Natal. E foi assim que cresci na Alemanha, mas depois nos mudamos de volta a Turquia. E tudo mudou de novo. Me tornei o menino com o sotaque engraçado no meu país. Essas experiências me ensinaram cedo sobre diferenças culturais e crenças. Minha exposição às diferenças me fez ter uma paixão por pessoas e aceitar isso na minha vida abriu muitas portas para mim. No mundo global de hoje, achar os pontos em comum entre todos me ajudou.  

Na escola, também comecei a me interessar por tecnologia e computadores. Meu irmão me ensinou o básico. Quando fui para os Estados Unidos me tornei mais interessado em conexões. Eu penso muito no Brasil e na primeira vez que fui aí. Lembro como as pessoas eram amigáveis e demonstravam paixão em tudo. No trabalho, com amigos, pela família, em seus churrascos. Nos Estados Unidos, eu via que as pessoas ficavam desconfortáveis em se abrir e tinha mais dificuldades para se conectar com os outros.  

E isso guiou minha carreira. Mesmo com o que acontece hoje com as redes sociais, isso ainda me inspira a ajudar as pessoas a se conectar da maneira certa. As mídias sociais têm o poder para abraçar a diversidade, mesmo com o lado negativo hoje do problema com assédio virtual.

Na Sillicon Valley Web Conference, você vai falar sobre diversidade na área de tecnologia. É um tema que chama sua atenção faz tempo? Vê que o tema evoluiu com os anos?

Eu tive sorte de trabalhar no Vale do Silício, onde as empresas são mais diversas que no resto do país, mas o tema de diversidade mudou nos últimos 5 a 10 anos. As empresas estão mais abertas sobre sua diversidade, falando com transparência de seus dados de raça e gênero, por exemplo. Empresas como o Google, Alibaba e Apple mostram seus esforços para cultivar as diferenças de gênero, raça, crenças e educação. Mas precisam melhorar.

Um dos problemas é que boa parte das empresas não entendem do que falam quando mencionam diversidade. Não adianta contar quantas pessoas estão contratando. É preciso pensar no empoderamento dessas pessoas e aceitar que elas são diferentes.

Como vê a diversidade na sua empresa? E qual seu papel como líder?

Temos uma empresa com diversidade de origens, com funcionários brasileiros, coreanos, americanos... são diferentes países em uma empresa de mídia social. Eles contribuem com suas experiências diferentes. Tento garantir que eles sentem que essas diferenças são respeitadas, que as vozes de todos são escutadas e que eles têm oportunidades para crescer. Isso é inclusão real. Na Hello, adoramos perspectivas diferentes e não buscamos por pessoas apenas inteligentes, mas diversas e com compatibilidade de cultura.

E quais são os desafios para ter ambientes de trabalho com diversidade?

Já existem pesquisas que falam que empresas mais diversas têm mais sucesso. São fatos: os times fazem um melhor trabalho para pensar fora da caixa e são mais criativos. Mais empresas perceberam a importância da diversidade. Então vemos empresas com programas de inclusão, para educar contra o viés inconsciente e aumentando a consciência de que precisam de uma ação forte de contratação.

Mas ainda vemos, por exemplo, com a morte do George Floyd e o movimento Black Lives Matter, que empresas tomam posições de tirar de seus vocabulários termos como “lista negra” para serem “inclusivas”. Qual o sentido de tirar uma palavra se a empresa não aceita seus clientes e usuários dentro de si? Ao invés de decidir pelos empregados, essas empresas precisam começar a ouvi-los para entender o que vai fazer a diferença em suas vidas. As pessoas negras não pediriam para remover a palavra “negro”, mas pediriam respeito no ambiente de trabalho e equidade nas promoções. As pessoas geralmente pensam que os outros querem o mesmo que elas. Não, antes você precisa ouvir o que elas querem e como querem ser tratadas.

Mais do nunca, o trabalho das pessoas envolve mídias sociais. Pode ser para a busca de empregos, no LinkedIn, para formar uma rede profissional, ou mesmo como sua carreira. Como você vê essa mistura de trabalho e mídia social? Tem alguma recomendação para quem trabalha com redes?

Se você olha o comportamento do consumidor, passamos do uso de laptops e desktops para o smartphone. A população está conectada pela internet e por múltiplas redes sociais. São vários caminhos para se conectar umas às outras. E também há oportunidades de usar essas redes para outros propósitos e oportunidades de negócios.

Minha recomendação para quem trabalha com mídias sociais é escolher algo que tenham paixão em fazer. No que for, é importante ter a preocupação em conectar as pessoas do jeito certo, pensando em aumentar sua felicidade e seus vínculos.

É preciso tomar cuidado ao trilhar uma carreira nessa área, pois pode ter lados negativos e efeitos sérios na sua saúde mental. Assim, escolher uma área que goste é importante nesse trabalho.

 

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