O primeiro emprego de 15 presidentes de empresas
Confira os primeiros passos profissionais de executivos que comandam grandes empresas hoje no Brasil e as lições de carreira que eles carregam desde esta época
Camila Pati
Publicado em 8 de agosto de 2013 às 06h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h30.
São Paulo – Office-boy, empreendedor, vendedor de assinatura de jornal, de coleções de livros, auxiliar, analista, secretária.
O começo de carreira destes 15 presidentes de grandes empresas que atuam no Brasil rende boas histórias e muitas lembranças. Confira o primeiro emprego, um pouco da trajetória profissional destes executivos que chegaram ao topo e quais lições eles carregam consigo até hoje:
O começo de carreira destes 15 presidentes de grandes empresas que atuam no Brasil rende boas histórias e muitas lembranças. Confira o primeiro emprego, um pouco da trajetória profissional destes executivos que chegaram ao topo e quais lições eles carregam consigo até hoje:
Foi dentro da Natura que Alessandro Carlucci construiu sua carreira. Entrou na empresa ainda como trainee, em 1989. “Antes disso, ainda na adolescência, com um equipamento comprado pelo meu pai, fui DJ em festas privadas e até mesmo em rádios locais”, lembra. Efetivado como funcionário, passou a trabalhar na área de vendas e marketing. “Ao longo de minha trajetória fui diretor de vendas Brasil e diretor das operações internacionais de Argentina, Chile e Peru. Em 2005 assumi a posição de diretor-presidente da Natura”, conta. O grande desafio de sua carreira, ele conta ter sido na década de 2000, na Argentina. “liderei a empresa para a América Latina em meio à crise econômica do país, um dos grandes desafios da minha vida. Aprendi como ter uma visão 360° do negócio, entender que é possível fazê-lo de um jeito diferente, ouvir mais as pessoas e ter mais desenvoltura”, lembra. Em 25 anos, Carlucci diz ter aprendido muito. “A Natura me ensinou, me ajudou a compreender que tudo está interligado que para ter a sustentabilidade na estratégia do negócio é fundamental construir uma visão ampla e sistêmica sobre a gestão, com um olhar apoiado na noção de interdependência”, diz ele.
“Comecei a trabalhar com 14 anos, vendendo coleções de livros na empresa da minha família”, conta Pedro Parente, presidente da Bunge. O primeiro emprego efetivo foi no Banco do Brasil, como auxiliar de escrita. “Quando entrei na faculdade de engenharia, prestei o concurso e esse foi meu primeiro emprego com carteira assinada”, conta. Nos dois anos em que trabalhou lá, Parente era responsável por fazer a contabilidade entre pagamentos e recebimentos realizados pelos caixas. “Eu fazia os levantamentos para ver se os dados batiam. No meu primeiro dia, o gerente me explicou que, caso os dados não batessem, ninguém iria para casa até encontrarmos o erro”, diz. Desta época ele tirou duas grandes lições. “A primeira, sobre a relevância da contabilidade e a segunda foi sobre a necessidade de haver um sistema de informações preciso baseado em contabilidade”, conta ele lembrando que era muito feliz nesse emprego. “Não levava problema para casa, meu problema se encerrava quanto batia o levantamento com os dados dos caixas”, conta.
O primeiro trabalho de Laércio Cosentino, presidente da Totvs, foi na loja do seu avô, a Mongaguá Magazine, no litoral de São Paulo. “Lá se vendia de tudo: roupas, presentes, pranchas de surf, perfumes, eletrônicos. Trabalhei na loja, no período de férias escolares, dos 10 aos 14 anos de idade. Eu ajudava nas vendas, no administrativo e na contabilidade”, lembra. O aprendizado desse período ele carregou durante toda a sua trajetória. “Despertou em mim a veia do empreendedorismo. Tive a experiência de servir pessoas, lidar com reclamações, ajudar nas decisões de compra”, diz. Aos 17 anos, entrou como estagiário da SIGA Sistemas e em um ano foi promovido a programador. “Tive uma ascensão muito rápida. Em mais um ano, virei analista. Depois, gerente, diretor e, por fim, propus sociedade ao presidente e virei sócio. A SIGA virou Microsiga, focada no desenvolvimento de softwares para microcomputadores. Era o embrião da TOTVS”, conta. Como estagiário na SIGA fazia de tudo. “Brinco que eu fazia tudo o que ninguém queria fazer. Ao ser efetivado, passei a participar mais dos processos e a ver os resultados práticos do trabalho da empresa”, diz. Para ele não é um ano ou uma experiência da carreira que definem a vida de um profissional e, sim, a soma desses momentos. “O importante é saber tirar proveito e aprender com todas as experiências ao longo da carreira”, diz.
“Meu primeiro emprego, com 23 anos, foi como analista de investimentos no Banco Bozano Simonsen, no Rio de Janeiro”, conta Nicholas Reade, presidente da Brookfield Incorporações, que é formado em economia pela Cambridge University. A primeira função no banco era técnica. “Eu lidava com abertura de capital de empresas, fusões e aquisições, entre outros assuntos. Como me interessava muito pelo tema, me dediquei e me tornei um bom técnico”, diz. O aprendizado na função foi grande, diz. “Pude aprender a ter uma visão mais analítica, observando o potencial de setores da economia, bem como diferentes companhias e os motivos de elas estarem onde estavam”, conta. Com 30 anos de carreira dedicados ao mercado financeiro, Reade considera que ser um bom técnico é essencial para o sucesso de uma posição de liderança. “Com esse bom entendimento técnico e analítico, foi promovido a gestor técnico. Como demonstrei ser um bom gestor técnico, logo fui convidado a assumir um cargo de diretoria em outra empresa, a Citicorp Leasing International”, conta
Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotels, começou a trabalhar aos 18 anos, assim que entrou no curso de secretariado. O primeiro emprego efetivo foi como secretária bilíngue. “Era formada também em inglês. Assim, fui contratada na primeira empresa onde me candidatei, logo após concluir o curso técnico. Trabalhei nesta empresa por cinco anos”, conta. Além de gostar do trabalho, ele diz ter aprendido muito. “Tinha excelente ambiente de trabalho, as chefias estavam sempre preocupadas em ensinar, orientar e apoiar o desenvolvimento”, conta. Neste período ela diz ter aprendido o comportamento que se deve ter com colegas de trabalho. “Levo ainda comigo a paciência com que todos me orientavam quando errava e também as oportunidades que me davam, desafiando para trabalhos que eu pensava estarem muito acima da minha capacidade. Tentava e conseguia, e para tanto me esforçava intensamente, trabalhando com prazer aos sábados e aos domingos em casa”, diz.
Theo van der Loo, CEO da Bayer Brasil, começou a carreira em 1980, aos 24 anos. “Depois de terminar meu MBA, comecei como management trainee na Schering-Plough no Rio de Janeiro. Um ano depois me tornei gerente de produtos”, conta. Como gerente de produtos foram 2 anos. Depois, ele foi transferido para Miami, para ser gerente de produtos para a América Latina. “Foi muito interessante e útil ter um presidente de multinacional como primeiro chefe”, diz ele que considera seu primeiro chefe um bom tutor.
O fundador e CEO da Azul Linhas Aéreas Brasileiras começou sua vida profissional vendendo pacotes turísticos para o Havaí junto com seus colegas de faculdade. “Deu tão certo que fui convidado para trabalhar na Morris Travel, uma agência de viagens em Salt Lake, em Utah, nos Estados Unidos”, conta David Neeleman. Em 1992, fundou a companhia aérea, a Morris Air, e é essa passagem que ele cita como seu primeiro emprego efetivo. “Nós implantamos pela primeira vez o sistema de E-Tickets, uma forma de gerar o check-in sem papel”, diz. A experiência de empreendedorismo com a Morris Air o ajudou a desenvolver a carreira na aviação. “Depois da, criei a Live TV, uma empresa que produz e opera um sistema de TV ao vivo especialmente para aeronaves”, lembra. Também contribuiu com a empresa Open Skies, que administra receitas, recursos e reservas de viagens, com base na internet. “Em 1996, liderei a WestJet no Canadá, sendo até hoje uma das maiores companhias aéreas do país. Três anos depois, fundei a JetBlue, nos Estados Unidos”, lembra. E, em 2008 criou a Azul Linhas Aéreas Brasileiras, hoje responsável por 30,3% do total de decolagens no Brasil.
Hoje CEO do Grupo RBS, Eduardo Sirotsky começou a trabalhar como estagiário no Banco Matone, aos 18 anos. Mas foi empreendendo que começou, de fato, a sua carreira. “Eu tinha pouco mais de 20 anos e instalei no Rio Grande do Sul a franquia da Sweet Sweet Way, uma loja de balas e doces importados, um tipo de operação que não existia por aqui”, conta. Foram 6 anos, e de acordo com ele, esse trabalho deu-lhe as bases de tudo o que ele sabe sobre empreender, trabalhar com gente e fazer a empresa crescer. “Fazia de tudo o que um empreendedor faz: estratégia, comunicação, vendas, logística, atuava na linha de frente. Eu tive quatro lojas próprias e espalhei franquias pelo Brasil”, conta. O empreendedorismo na juventude foi mesmo decisivo para sua carreira. “Assumi responsabilidades muito cedo, tomei riscos e tive coragem para enfrentar as dificuldades e a satisfação de alcançar ótimos resultados antes dos 25 anos. Foi uma experiência incrível para que eu buscasse outros projetos que atendessem às minhas ambições”, diz ele que deixou de empreender para fazer um MBA em Harvard. “Assim, quando fui convidado para assumir um desafio na RBS, percebi que havia chegado o momento que eu tanto esperava, de ingressar no grupo empresarial de minha família com o preparo profissional adequado”, conta.
Aos 19 anos, Reginaldo Zero chegou a São Paulo com um diploma de técnico em contabilidade. Era 1962 e seu primeiro emprego efetivo foi como analista financeiro na Singer Sewing Machine Co., fabricante das famosas máquinas de costura Singer. Para ele a empresa foi uma grande escola. “Conheci profissionais de primeira linha e, por já falar um pouco de inglês, tive acesso aos profissionais de origem americana, com os quais aprendi técnicas de preparação de orçamentos, análises financeiras e de operação de tesouraria, cujos princípios são aplicados até hoje”, diz. Lá também conheceu sua mulher, com quem está casado há 44 anos. “Não podia ter sido melhor”, diz. Foi gerente de custos, auditor interno e controller de uma empresa adquirida pela Singer. “Essa empresa fabricava máquinas de calcular, máquinas de escritório e computadores no exterior e exportava para o Brasil. Tornei-me CFO da empresa aos 26 anos, fato inusitado para a época”, conta. Um dos maiores aprendizados, diz, veio do contato com a cultura americana. “Há 50 anos trabalho para investidores norte-americanos e conheço muito bem sua forma de trabalho e como lidar com essa cultura”, diz ele que aprendeu também a ser um profissional financeiro voltado para dar suporte às áreas de Negócios. “Essa interação com as áreas operacionais me capacitou a ocupar a posição de CEO em outras empresas posteriormente”, conta.
Weber Porto, diretor presidente da Evonik na América do Sul, começou a trabalhar aos 21 anos, 1977. O primeiro emprego com carteira assinada foi como professor para o curso supletivo e preparação para o vestibular. “Estudava de dia e a noite lecionava para pagar a faculdade”, conta. Ele guarda boas lembranças e um carinho especial pela fase de professor. “Era gratificante poder ajudar as pessoas que estavam fazendo o supletivo e que precisavam tirar o atraso do tempo e que desejavam conquistar uma nova vida”, conta. Mesmo sendo mais jovem que grande parte dos alunos ele diz ter sido muito bem recebido e respeitado. “Fui paraninfo de várias turmas. Foi um período extremamente importante que me rendeu muita experiência para lidar com as pessoas”, lembra ele que, depois desse período, ingressou na Evonik, como assistente de marketing.
“Comecei a trabalhar com 17 anos na Elétrica Danúbio, revenda de material elétrico que pertencia ao meu pai. Tinha acabado de prestar vestibular, estudava a noite e trabalhava durante o dia”, conta Silvio Barone Jr., presidente da SIL. A loja, diz ele, foi o embrião da SIL. “Naquela época, a fabricação de fios e cabos elétricos ainda estava no início; a SIL era uma fábrica bem pequena, que produzia o suficiente para atender à demanda da Danúbio, que já tinha várias lojas”, diz. Desta época, ele guarda, principalmente, as lições que recebeu do seu pai. “Suas orientações foram o maior legado que recebi, pois me ajudaram a amadurecer e desenvolver profissionalmente”, diz. Na revenda diz ter feito de tudo: atendia aos clientes no balcão, conferia material, preenchia notas fiscais à mão, pois ainda não havia computadores. Depois foi trabalhar na parte administrativa, de cobrança e recursos humanos. “Com a faculdade de administração de empresas tive uma noção mais abrangente do negócio”, diz ele que , em seguida, passou atuar na fábrica. “Essa vivência dos dois lados do negócio, comércio e indústria, foi fundamental para a minha formação. E o contato direto com o cliente me deu uma visão mais ampla das necessidades do revendedor e hoje contribui para a gestão empresarial da SIL”, conta.
Aos 14 anos, Marcos Ribeiro começou a trabalhar em uma indústria de máquinas para fabricar tijolos em Marília (SP). “Fiz aprendizagem industrial no Senai”. Já na escola técnica, estudante de mecânica, teve seu primeiro emprego efetivo na Takaoka, que produz equipamentos médicos. “Trabalhava com desenvolvimento de produtos, fiquei 3 anos lá, gostava muito”, lembra. Para ele, mais do o primeiro emprego efetivo, foi a formação do Senai que mais contribuiu para a sua formação. Comandando a Unipac desde 2009, Ribeiro diz que atitude de presidente deve brotar desde os primeiros passos como estagiário. “O jovem devem pensar: se eu fosse presidente o que eu faria”, recomenda.
O quintal da casa de Gilberto Grosso, hoje presidente da Avant, foi uma de suas primeiras fontes de renda. “Aos 13 anos, por iniciativa própria, pedi à minha mãe que preparasse uma cesta de verduras e saía com um irmão mais novo para vender na vizinhança”, lembra. Nos anos seguintes foi ajudante em uma quitanda, em uma loja de baterias de carro, entregador em um armazém e office boy de um escritório. “Mas sempre fui aplicado na escola e escrevia redações com alguma qualidade, improvisando até roteiros de teatro”. O primeiro emprego efetivo veio aos 17 anos. “Apresentei-me, com um desses roteiros nas mãos, a um empresário local que estava montando um novo jornal. Com a promessa de que o emprego de repórter seria meu no lançamento do jornal, tive a missão de começar vendendo assinaturas”, lembra. A primeira assinatura do O Regional, de Catanduva (que existe até hoje) foi vendida por ele. “Depois de vender muitas outras assinaturas, em outubro de 1971 o jornal foi lançado e eu, com recém-completados 18 anos, ganhei meu primeiro emprego como repórter”, conta. “Em 10 anos que trabalhei na área, aprendi muito com os profissionais da imprensa, transformando o menino sem conhecimento em alguém com uma nova cultura e um novo círculo de amizades. Esse aprendizado foi a base que me deu segurança para atuar em outras áreas e em grandes empresas, como Senac, Nestlé e Philips do Brasil, e chegar onde estou hoje, como CEO da Avant”, conta.
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