Carreira

O adeus à vida executiva

Pedro Parente, de 61 anos, explica por que tomou a decisão de deixar o cargo de presidência da Bunge, empresa de agronegócio e alimentos, e conta quais são os seus planos para o futuro.

Pedro Parente (Fabiano Accorsi / VOCÊ S/A)

Pedro Parente (Fabiano Accorsi / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 13 de março de 2014 às 06h00.

VOCÊ S/A - Por que o senhor decidiu deixar o cargo de presidente da Bunge no Brasil?

Pedro - A decisão aconteceu porque, chegando aos 60 anos, cada ano da vida se torna mais importante. Quero ser o senhor do meu tempo, o que é impossível quando se é um CEO.

A função de executivo toma muito tempo. Tirando o pouco tempo que você dedica à sua família, se for cuidadoso, não há tempo para se dedicar a atividades que podem ser muito importantes para você. Eu quero viajar mais, me dedicar a iniciativas de contribuição social e fazer coisas que nunca fiz. Sempre sonhei em pilotar aviões e acho que agora vou tentar aprender.

VOCÊ S/A - O cansaço da rotina da carreira executiva influenciou a decisão?

Pedro- Um pouco. Eu estava cansado de não ter total controle sobre a minha agenda. Mas a minha disposição aos 60 é a mesma dos meus 40 anos. Por isso não vou parar de trabalhar, apenas mudar o foco da minha atuação para ter mais qualidade de vida. .

VOCÊ S/A - Como foi a negociação de sua saída?

Pedro - Foi muito tranquila. Eu conversei, em junho de 2013, com o CEO global da Bunge e disse que gostaria de parar mesmo em 2014, como definia o meu contrato. Esse período poderia ser estendido se nós concordássemos, mas eu teria que ficar por um ciclo de mais quatro anos e achei que era o momento certo de parar.

A única coisa difícil foi não poder falar com os funcionários da Bunge sobre o assunto até o início desse ano – foi um pedido da direção mundial que guardássemos segredo. Isso foi complicado para mim, pois sou muito transparente.


VOCÊ S/A - E como está sendo o processo de sucessão?

Pedro - A empresa está entrevistando candidatos internos e externos para a vaga. Eu participo, mas a decisão final não é minha, é do CEO global.

VOCÊ S/A - Quais são seus planos concretos para o pós-carreira?

Pedro - Pretendo dividir meu tempo entre algumas atividades. Devo me dedicar mais à administração da Prada Assessoria, empresa da minha esposa da qual também faço parte, e que cuida de fortunas de 20 famílias. Também quero participar de conselhos empresariais, mas no máximo cinco.

Já participo de três hoje e iria para mais dos — gosto do mundo corporativo e quero contribuir com as empresas de alguma maneira. Por ter sido ministro da Casa Civil [durante o governo Fernando Henrique Cardoso], eu tenho vontade de atuar socialmente, só que não quero voltar para a vida pública, por isso estou montando um projeto de inovação na área educacional junto com meu filho.

VOCÊ S/A - O senhor acredita que atingiu o auge do sucesso?

Pedro - Eu entendo que, para muitos, ocupar uma posição máxima de executivo em uma grande empresa é o ápice do sucesso. Mas eu não acredito que tenha chegado ao auge da minha vida. Existe uma história que é muito emblemática e explica bem a busca pelo sucesso.

Certa vez, o embaixador Marcos Azambuja estava conversando com Camilo Penna [ex-ministro da Indústria e Comércio durante o governo de João Figueiredo. Azambuja disse que se mataria quando chegasse ao auge do sucesso e perguntou o que Penna faria. Ele disse que ia pensar sobre o assunto.

Alguns dias depois, perguntou ao Azambuja: “Como é que você vai saber que chegou mesmo ao auge para tomar a decisão de se suicidar sem arrependimento?”. Azambuja respondeu que, de fato, não tem como saber se já alcançamos o sucesso — e, ainda bem, porque ele já estava arrependido dessa história de suicídio.

Essa é uma anedota, mas que me ajudou a pensar que nunca sabemos quando chegaremos ao auge das nossas vidas e é isso que nos mantém vivos. 

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