Luanna Toniolo, fundadora e ex-CEO da TROC: “Não é fácil deixar algo que você construiu com tanta dedicação, mas chega um momento em que você precisa fazer escolhas e se manter firme no seu propósito” (Gutyerres/Divulgação)
Repórter
Publicado em 9 de janeiro de 2025 às 09h01.
Última atualização em 9 de janeiro de 2025 às 10h18.
“Todos os anos são extraídos 100 milhões de toneladas da natureza para produzir moda”, afirma Luanna Toniolo, que norteada por esse cenário decidiu em 2016 fundar a TROC, plataforma de moda circular que redefiniu o conceito de “brechó” no Brasil. Com formação em Direito, Toniolo decidiu apostar no que muitos conhecem como “empreendedorismo verde” durante um mestrado em marketing nos Estados Unidos. “Quando voltei para o Brasil grávida acharam que era uma loucura apostar tudo o que eu tinha em um brechó de alta qualidade, até porque não era um setor tão aceitável como nos Estados Unidos”, afirma.
O negócio deu tão certo que chamou a atenção do Grupo Arezzo, hoje Azzas 2154, após a fusão com o Grupo Soma. A compra da TROC pelo grupo liderado por Alexandre Birman foi anunciada em 2020, mantendo Toniolo como CEO, que aceitou a oportunidade como um novo aprendizado. “Passamos de uma mentalidade de startup para uma governança corporativa, onde cada decisão precisava ser alinhada com diferentes stakeholders. Foi um aprendizado e crescemos com essa decisão”, conta a executiva.
A TROC cresceu 800% nesses quatro anos dentro do grupo, segundo Toniolo, mas em 2025 a companhia passará por mais uma mudança de gestão. Será o primeiro ano em que a TROC não contará com a gestão de Toniolo, que compartilhou com exclusividade à EXAME a sua saída da empresa. “Não é fácil deixar algo que você construiu com tanta dedicação, mas chega um momento em que você precisa fazer escolhas e se manter firme no seu propósito”, afirma Toniolo. Para mim, a sustentabilidade não deve ser apenas uma estratégia de negócio, mas uma escolha de propósito”.
No final de novembro, o Azzas 2154 comunicou ao mercado o encerramento de quatro marcas: Alme, Dzarm, Reversa (linha feminina da Reserva) e Simples. "O grupo estava analisando o que fazer com algumas marcas do portfólio, se venderiam ou se manteriam no grupo, e uma delas seria a TROC, mesmo a companhia apresentando ótimos resultados", afirma Toniolo.
A saída oficial de Toniolo está prevista para fevereiro de 2025. Para o cargo de presidente da TROC, o grupo ainda não tem um nome definido.
Com a saída da TROC, Toniolo busca novos desafios no mercado e um deles é compartilhar o seu conhecimento de empreendedorismo com o público feminino. “Quero ajudar outras mulheres a alcançar seus objetivos, não apenas nos negócios, mas em suas vidas”, afirma. A ideia é expandir a atuação do "POMS - Educação por Inspiração", projeto criado no ano passado por Toniolo e que oferece aulas para mulheres que desejam empreender do zero, seja no setor de brechó ou em outros nichos.
Outro projeto que Toniolo irá se dedicar neste ano será a The3Percent, uma plataforma que irá receber projetos de empresas de mulheres que poderão ser impulsionados, seja por ideias ou até por aportes. O projeto foi idealizado por Toniolo, junto com Patrícia Lima, CEO da Simple Organic, e Manuela Bordasch, CEO da Steal the Look. “Vimos a oportunidade de analisar os negócios de uma forma madura e orientar os passos das empreendedoras para que elas estejam no caminho certo do crescimento.”
Após criar uma empresa e vender para um grande grupo, Toniolo busca devolver o que de bom aprendeu nesta trajetória - e aprender a ser líder foi uma das maiores lições para ela até agora.
“Liderança não é sobre fazer com que tudo dependa de você, mas sobre preparar pessoas para que o legado continue, independente de quem esteja à frente”.
Neste mês, a TROC alcançou um marco de sustentabilidade importante ao economizar 2 bilhões de litros de água desde a sua criação. Segundo Toniolo, cada peça que é produzida hoje no mercado da moda gasta no mínimo 2,7 mil litros de água. "Esse é um dos dados que mostra como o setor de brechó pode contribuir para um consumo mais sustentável", afirma.
A companhia também demonstra sustentabilidade na área econômica. Em 2024, a TROC fechou o ano com faturamento de R$ 39 milhões, apresentando um aumento de 35% em relação ao ano passado. “Crescemos 53% em EBITDA em 2024, foi o melhor ano da TROC em equilíbrio financeiro”, afirma a executiva. “A TROC é um símbolo de que sustentabilidade e desenvolvimento econômico podem caminhar juntos. É um movimento que nos lembra que um mundo mais sustentável é possível e necessário.”
Sobre o futuro da TROC, Toniolo diz que espera o melhor. Para ela, seja dentro ou fora da Assas 2154, o desejo da fundadora, e da agora ex-CEO, é de ver a companhia funcionando como uma empresa que valoriza e defende a moda sustentável.