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Lições de Carreira com Tiago Abravanel: Como é possível ter sucesso em carreiras diferentes?

Ele levou a sério o conselho do apresentador e avô Silvio Santos, e foi conquistando diferentes papéis na vida como ator, cantor, empreendedor e agora diretor de um musical que será lançado em julho; veja como Tiago conquistou o seu espaço e a sua marca para além da família

Tiago Abravanel: "Hoje não me vejo apenas como artista, mas também em outros papéis, como empreendedor" (Nanica/Divulgação)

Tiago Abravanel: "Hoje não me vejo apenas como artista, mas também em outros papéis, como empreendedor" (Nanica/Divulgação)

Publicado em 8 de junho de 2024 às 11h48.

Última atualização em 10 de junho de 2024 às 00h59.

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Tiago Abravanel, inicialmente conhecido por ser o neto do famoso apresentador Silvio Santos, conquistou com o tempo o seu espaço e sua marca no mundo artístico. Passando por peças famosas como “Tim Maia” e “Miss Saigon”, Tiago ouviu um conselho do seu avô que acabou levando a sério em sua carreira.

"Eu tinha pouquíssimas trocas com o meu avô, infelizmente. Mas a mais valiosa que eu tive com ele foi uma conversa em que ele falou assim: 'Tiago, você é um artista e eu sou um vendedor. Saiba que como artista você tem milhares de possibilidades, inclusive de ser vendedor, para que você se renove a cada dia'. Esse encontro me fez ir longe", diz Tiago.

O conselho de Silvio Santos fez com que Tiago não apenas levasse aquela sugestão para a carreira de artista, mas também para outras áreas que vão além do teatro. "Hoje me enxergo como um ator, cantor, dublador, produtor, empreendedor e agora diretor de um musical", diz Tiago que também é um ex-BBB.

Em julho, Tiago lançará no Rio de Janeiro o seu primeiro teatro musical sob sua direção. Em setembro, a peça chegará em São Paulo. “Dirigir o musical ‘Hairspray’ é um sonho de muito tempo e que eu estou conseguindo realizar de uma maneira muito intensa, ocupando o lugar de ator, diretor e produtor.”

Com exclusividade à EXAME, Tiago Abravanel conta os desafios, as lições de carreira e como é possível ter sucesso apostando em profissões diferentes.

Quando foi que você descobriu o seu talento como ator e cantor? De alguma forma a sua família te influenciou a seguir a vida artística?

Com certeza tive a influência da minha família. Eu nasci dentro desse universo do teatro. Ao contrário do que as pessoas imaginavam de ligarem à minha família com a televisão, a minha mãe era administradora do Teatro Imprensa quando eu era mais novo, e desde os oito anos de idade eu tenho contato com esse mundo. O teatro era como se fosse o meu playground. Eu saía do colégio e ia para o teatro.

Tive a oportunidade de trabalhar em várias áreas do teatro, desde entender como é que funcionava a bilheteria, a bomboniere, a coxia, o camarim, o backstage como um todo, até eu chegar na possibilidade de atuar.

Como você se preparou para ser um ator?

Fiz alguns cursos de teatro musical. O primeiro curso foi o Teenbroadway (grupo de Teatro Musical fundado por Maiza Tempesta), que existe até hoje em São Paulo. E a partir daí eu fui me envolvendo com esse universo do teatro musical, que é algo que eu sempre amei e admirei, e comecei a enxergar isso como uma possibilidade de trabalho. Aos 17 anos eu fiz meu primeiro trabalho profissional, o musical “Avoar” de Vladimir Capella. E a partir daí fui emendando um trabalho no outro, mesmo estudando ainda, mas já sabendo o que eu queria da minha vida, que era entrar no mercado atuando.

Qual foi a peça que mais marcou a sua carreira?

Acho que todos os trabalhos, de alguma forma, me impulsionaram para uma nova fase. Mas talvez o mais marcante que, de fato, mudou a minha vida foi o musical do Tim Maia, sem dúvida nenhuma. Foi o musical que me trouxe para um entendimento como artista. Foi ali que me tornei uma pessoa conhecida, além do neto do Silvio Santos, mesmo já tendo feito outros trabalhos grandes. Foi o momento em que o Tiago Abravanel ficou conhecido.

Não imaginava que eu pudesse fazer esse musical, mesmo tendo uma ligação por eu gostar de cantar as músicas do Tim Maia no karaokê e de ter uma proximidade com o estilo vocal, mas passei no teste. Na época, eu estava fazendo uma novela no SBT e tive que sair da novela para fazer a peça, porque o musical ensaiava no Rio e a novela era gravada em São Paulo.

Apesar de ter sido o marco na minha carreira, hoje, com certeza, não teria nem feito o teste para viver o personagem, por causa desse movimento social que entende que as oportunidades não iguais para todo mundo. Sabemos que as oportunidades para negros e brancos ainda não são iguais. Então hoje, eu não teria feito o musical, mesmo tendo sido um marco em minha carreira.

É normal dar ainda aquele frio na barriga quando vai se expor para a plateia? Você tem alguma dica para diminuir essa tensão e ansiedade quando um profissional precisa se apresentar?

A pressão e a ansiedade continuam. A cada trabalho, elas se renovam. Mas, eu acho que todo artista que se propõe a fazer isso, ele já tem um desejo de exposição. Se você sobe no palco, é porque você quer ser visto, então, é inevitável que isso aconteça. É importante que a gente esteja muito preparado tecnicamente para fazer os trabalhos de exposição.

Além disso, como artista, é essencial ter uma saúde mental para lidar com as frustrações, porque a vida nos palcos não oferece uma carreira linear, uma hora você tem um trabalho, outra hora você não tem. O ofício pode ser o mesmo, mas a mudança de projetos faz com que a sua vida não tenha uma rotina e pouca segurança. Então, é preciso ter muita saúde mental para saber lidar com as frustrações, com o sucesso e com o fracasso.

Qual foi o maior desafio da sua vida pessoal e profissional?

O maior desafio da minha vida, que envolve o pessoal e o profissional, foi lidar com o fato de eu ser neto de uma pessoa muito conhecida e depois construir a minha carreira independente dessa pessoa.

Não é fácil você ser comparado, não é fácil saber se você vai seguir o mesmo caminho ou não, se existe identificação artística ou não. Então, esse lugar no início da minha carreira foi a minha maior dificuldade. Depois que eu fui amadurecendo e fui entendendo que o Tiago, o artista, era independente do sobrenome que ele carregava, isso foi deixando com que as minhas escolhas fossem mais próximas do Tiago do que da família dele.

Você se inspirou em algum ator e cantor para ser o Tiago Abravanel que conhecemos hoje?

Dentro do teatro musical o ator Marcos Tumura sempre foi a minha inspiração, infelizmente ele não está mais entre nós. Eu tive a oportunidade de ser substituto dele no “Miss Saigon” e isso para mim foi um mega desafio. Do lado de comunicador não tinha como não me inspirar no meu avô, como a alegria e diversão que ele se sempre se apresentou.

Vejo também, ao mesmo tempo em que me inspiro em outras pessoas, que existe um lugar do Tiago pessoa física que é o meu diferencial: o afeto. Eu sou uma pessoa que se a emoção e o afeto não estiverem presentes no meu trabalho ele não faz sentido. Eu não me vejo como um cantor que sobe no palco e que não troca com a plateia. Eu não me vejo como um empreendedor que não consegue entender a evolução dos meus funcionários por meio do amor, do respeito e da alegria. Então acho que a minha personalidade fez com que os meus trabalhos tivessem esse diferencial ligado a essa conexão afetuosa e acho que isso faz total diferença no meu trabalho.

Você se sente realizado com o seu trabalho ou tem algo que você ainda não realizou?

Acho que são os dois. Eu me sinto muito realizado, porque eu consigo colocar em prática os meus sonhos, mas eu sou um cara que não para de sonhar. Por exemplo, agora eu estou vivendo um dos maiores sonhos da minha vida que é produzir e atuar dentro do musical Hairspray, sou produtor, ator e diretor - são três funções completamente diferentes dentro de um mesmo sonho que me dá muito trabalho. É uma mistura de emoções, mas tudo isso faz com que eu esteja realizado.

Só que isso não elimina o fato de eu continuar sonhando com novas coisas.

Como você consegue ter sucesso apostando em carreiras diferentes?

O sucesso é algo muito relativo e particular. Muitas pessoas ligam o sucesso a ganhar dinheiro, likes ou visibilidade. E eu acredito que o sucesso é quando você consegue realizar na sua plenitude pessoal. O ganhar dinheiro e ser reconhecido é uma consequência. Então, na minha visão, esse sucesso ele está muito mais ligado a conseguir me realizar tecnicamente e emocionalmente. E se isso der certo, sucesso!

Como você consegue conciliar trabalho e família com diferentes empregos sem rotina? Você consegue colocar limite no seu dia a dia ou é muito difícil?

Na grande maioria do tempo, não consigo conciliar, mas sempre tento lembrar que existe um ser humano executando todas essas tarefas que acontecem dentro do meu trabalho. Apesar de não ser muito organizado, tento sempre distribuir a minha energia entre trabalho e vida pessoal, no sentido emocional, na fé, família e amigos.

Precisamos tomar cuidado para não se perder nesse lugar. Então, eu toda hora, eu me cobro. Tipo, qual é a hora que vou estar com as minhas irmãs e a minha mãe fazendo um churrasco? Qual é a hora que eu vou me sentar com o meu marido e falar sobre alguma coisa que aconteceu que eu não gostei dentro da nossa relação? Isso tem que fazer parte também dessa rotina. Ter que renunciar esse lado da vida para conseguir ser uma grande estrela, essa grande estrela eu não quero ser.

O teatro é uma prática que muitos executivos costumam fazer para perder a vergonha de falar em público. Quais outros benefícios que o teatro pode trazer para um profissional que não necessariamente é um artista?

Para fazer teatro, mesmo que seja um monólogo, você nunca consegue fazer sozinho. Existe uma pessoa que vai cuidar da luz, outra do som, existe uma pessoa que vai arrumar o seu camarim, outra que vai montar o palco, enfim, existe um monte de coisa e existe você. O que que eu quero dizer com isso? O teatro me deu uma visão do todo para que o indivíduo esteja seguro.

O teatro pode ajudar, portanto, tanto numa comunicação mais segura e assertiva para um público, quanto a saber trabalhar em equipe, afinal você precisa respeitar ali papéis diferentes.

O Silvio Santos chegou a te dar algum conselho de carreira ao ver que você estava indo para o mundo artístico?

Eu tinha pouquíssimas trocas com o meu avô, infelizmente. Mas eu acho que talvez a mais valiosa que eu tenha tido com ele foi uma conversa que eu tive só eu e ele, sem mais ninguém por perto. E ele falou assim: “Tiago, você é um artista e eu sou um vendedor. Saiba que como artista você tem milhares de possibilidades, inclusive de ser vendedor, para que você se renove a cada dia.”

Eu perguntei para ele o que ele achava de eu ser um comunicador. E lembro que ele, mesmo sendo uma pessoa que atuava por um longo tempo nesta área, me disse que o comunicador às vezes tem o seu tempo. O ator não necessariamente tem, afinal você pode ser um personagem quando criança, adolescente, adulto e idoso.

Foi muito doido você ouvir de uma pessoa tão experiente analisar a própria carreira dessa maneira. Mas eu acho que o que mais me inspirou foi justamente ele ter percebido que esse artista pode ser o que ele quiser. Só que quando ele falou isso, ele estava falando da atuação, e eu levei isso para minha vida e hoje me enxergo como um ator, um dublador, um produtor, um diretor e um empreendedor.

Em 2022 você se desafiou ao ir para o BBB. Por acaso, se arrependeu de ter participado? O programa de alguma forma te ajudou em sua carreira?

O meu objetivo com o programa era uma realização pessoal. Eu queria que as pessoas conhecessem o Tiago. O Tiago que tem estria, que conversa com todo mundo, que chora muito, que é sensível e que gosta de buscar o melhor do outro. E eu acho que eu consegui fazer isso. O que me atrapalhou foi que eu só percebi lá dentro que tudo era um jogo.  E a hora que eu entendi que eu precisava jogar, eu entendi que eu não sabia jogar aquele jogo e não queria aprender.

Quando eu vi que era preciso apontar o dedo e falar que não quero que fulano esteja aqui, eu me questionava se era o Tiago jogador ou o da vida. Quando eu comecei a duvidar de quem eu era, eu falei, não faz mais sentido eu estar aqui. Decidi, então, sair e eu não me arrependo nem de ter entrado e nem de ter pedido para sair.

Será lançado no Rio de Janeiro e em São Paulo o musical Hairspray. Você já fez parte deste elenco quando ele foi dirigido por Miguel Falabela. O que muda com a sua direção? E quais novos projetos podemos esperar do Tiago nos próximos anos?

Dirigir o musical Hairspray é um sonho de muito tempo e que eu estou conseguindo realizar de uma maneira muito intensa, ocupando o lugar de ator, diretor e produtor.

É espetáculo foi escrito em 2002 e se passa na década de 60. Quando a gente fala de uma época, a gente fala do ponto de vista sobre aquele tempo. A novidade deste espetáculo é que conseguimos trazer um final diferente, trazendo o movimento que pensamos nos dias de hoje, como o combate à gordofobia e ao racismo e a importância de acreditar em si mesmo e na luta por direitos.

Ou seja, conseguimos uma mudança inédita no texto original do espetáculo criado lá dos Estados Unidos, algo que não teve em nenhum lugar do mundo e que provavelmente a partir de agora essa mudança acontecerá em muitos países, por conta desse movimento que vamos fazer aqui no Brasil.

Parte do elenco do “Hairspray”, dirigido por Tiago Abravanel. Musical será lançado em 4 de julho no Rio de Janeiro e em 5 de setembro em São Paulo (Tiago Abravanel/Divulgação)

Em 2019, ano em que você apresentava o programa “Família Frente a Frente”, você também se tornou sócio do da marca “Nanica”, expandiu a marca de pijamas “Tjama” e anos depois se tornou sócio da Carmel’s Pipocas. O que fez você ter vontade de ter esse novo papel de empreendedor?

A vontade de empreender aconteceu justamente por eu sonhar e buscar a possibilidade em como ser o Tiago em outras áreas, sem que eu precisasse estar presente fisicamente. Como representar a minha personalidade sem que eu esteja no local. Então, cada vez que eu ouço alguém falando que o Nanica é delicioso, isso me traz felicidade, porque faz parte de mim.

Eu sou um cara descolado, leve e doce e gosto de ser lembrado como o cara que une as pessoas. Como é que eu busco essa doçura e a união das pessoas? A torta. Como é que eu busco esse entretenimento e essa delícia de quero mais? A pipoca.

Tenho vontade de investir em outras coisas, mas sempre com esse objetivo: em ser o Tiago presente. O empreendedor nasceu desse lugar.

Qual outro projeto você tem em mente em empreender nos próximos anos? Já pode dar algum spoiler?

Tem um projeto que eu nem comecei, mas que eu sei que é algo que eu vou fazer, que é o meu parque de diversão. A minha “Abravalândia.”

As pessoas falam que a minha casa é um pouco desse começo. Dentro dela tem bonecos espalhados, uma máquina de bichinho de pelúcia, um elefante gigante. Enfim, minha casa é meio um parque de diversão. Eu ainda não comecei a executar esse planejamento. Mas é um projeto que eu sempre tive vontade e que ainda vai acontecer lá para frente. Agora eu estou bem focado no musical.

Em quase 20 anos de carreira, quais dicas você daria para quem deseja seguir principalmente a área artística e empreendedora?

Acho que o maior conselho é olhar para dentro para poder saber com certeza o que você quer para fora. É muito importante saber quem você é, conhecer os seus medos, os seus sonhos, as suas frustrações e os seus desejos, só assim o caminho fará sentido, seja empreendendo ou atuando.

Olhe para dentro para poder caminhar fora, só assim vai conseguir atingir o seu sucesso.

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