Filha de defensora de educação familiar rígida entra em Harvard
Amy Chua, que chamava as filhas de “lixo”, acredita que ocidentais falham ao dar liberdade para filhos; será que as mães chinesas são mesmo superiores?
Talita Abrantes
Publicado em 1 de abril de 2011 às 23h09.
São Paulo – O confronto ideológico entre o método chinês de educação dos filhos e o ocidental deve ficar mais apimentado. A filha mais velha da sino-americana Amy Chua, autora do livro “Battle Hymn of the Tiger Mother”, acaba de ser aceita na Escola de Direito de Harvard.
Amy, que é professora de Direito da Universidade de Yale, causou furor, em janeiro, ao publicar no Wall Street Journal um artigo com o título " Por que as mães chinesas são superiores ", com um trecho do seu livro.
O texto atingiu o ego dos americanos por argumentar que os ocidentais falharam na educação dos próprios filhos e de que, em contrapartida, o severo método chinês é a chave para que tantos chineses sejam bem sucedidos.
Os dados do último PISA revelam um pouco sobre como os chineses têm feito os americanos comer poeira em educação formal.
No ano passado, os estudantes de Xangai tiveram as melhores notas nos exames elaborados pelo PISA enquanto os americanos ficaram entre as 15ª e 31ª posições. O Brasil, por sua vez, ficou em 53ª lugar.
Depois da divulgação dos dados, o presidente Barack Obama apelidou o desempenho chinês no teste de “novo Sputnik” – em referência ao lançamento do satélite artificial russo Sputnik que, em 1957, desintegrou a supremacia americana na corrida espacial.
O método de educação chinês explicaria esse cenário? Apesar de ter escrito o texto antes dos resultados, Amy argumenta que sim.
As mães chinesas são melhores?
Em seu livro, a professora de Yale cita um estudo que mostra que 70% das mães ocidentais achavam que o estressante sucesso acadêmico não era bom para seus filhos.
“Em contraste, aproximadamente 0% das mães chinesas se sentiam da mesma forma”, escreveu a professora. “A maioria delas disse que acreditava que seus filhos poderiam ser os melhores alunos”.
Em outro ponto do livro, Amy argumenta: "Para ser bom em alguma coisa, é preciso trabalhar. E crianças nunca vão trabalhar por vontade própria. Por isso, é crucial passar por cima das opiniões delas."
Amy materializou em regras severas cada um desses conceitos. Durante toda a infância, suas duas filhas, Sophia e Louisa, foram privadas de assistir televisão, tirar notas inferiores a dez na escola ou sair com os amigos.
Em algumas situações, a Amy assumia posturas perversas. Quando a caçula, Louisa, então com 3 anos, se recusou a tocar piano da maneira correta, Amy a colocou para fora de casa para sentir o frio do inverno.
Além disso, durante os treinos de piano e violino, ela proibia as meninas de parar para ir ao banheiro ou beber água. O resultado é que, em 2007, a mais velha Sophia, que agora vai estudar em Harvard, se apresentou no Carnegie Hall.
Mesmo assim, Amy conta que nunca as elogiou em público. Em vez disso, as chamava de “lixo” sempre que era desrespeitada.
Independente do seu sucesso acadêmico (apenas 6,2% dos inscritos no processo de seleção de Harvard são aceitos), Sophia demonstrou em artigo publicado no New York Post que soube lidar bem com toda essa pressão:
“Muitas pessoas acusaram você [mãe tigre] de produzir crianças robôs que não poderiam pensar por elas mesmas. (...) Mas eu tenho uma conclusão oposta: sua educação rígida me forçou a ser mais independente.”
Veja a lista de atividades ou posturas proibidas por Amy Chua:
1. Dormir na casa de amigos
2. Sair com os amigos
3. Participar de uma peça de teatro da escola
4. Reclamar de participar de uma peça da escola
5. Assistir à TV ou jogar videogame
6. Escolher as próprias atividades extracurriculares
7. Tirar qualquer nota que não fosse 10
8. Não ser a primeira aluna em qualquer disciplina, exceto educação física e teatro
9. Tocar qualquer instrumento que não fosse piano ou violino
10.Não tocar piano ou violino