Carreira

Executivo dá um recado urgente para quem tem medo de inovar

Guga Stocco, conselheiro conselheiro na B3, Banco Carrefour, Totvs e Banco Original, explica neste artigo por que a inovação é crítica para a carreira

Medo: receio de errar atrapalha a inovação e pode arruinar empresas e carreira (foto/Thinkstock)

Medo: receio de errar atrapalha a inovação e pode arruinar empresas e carreira (foto/Thinkstock)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de setembro de 2017 às 19h00.

Última atualização em 15 de setembro de 2017 às 19h00.

Inove ou morra.

Você já parou para pensar sobre o motivo de entrarmos no trabalho às 9 da manhã? Quem, afinal, falou que somos obrigados a chegar nesse horário? Vou contar uma história, assim como fiz durante o primeiro Inniti Day, para explicar um pouco sobre inovação.

Imagine que na Idade Média havia um homem chamado Mr. Smith, o melhor sapateiro da região. Se você quisesse um sapato novo, teria de encomendá-lo. Ele iria medir seu pé, falaria para você voltar dali a duas semanas e diria o preço do seu novo calçado. No prazo estabelecido, você voltaria à loja do Mr. Smith. A pergunta que eu faço é: em qual hora Mr. Smith fez esse sapato? A resposta é simples: o sapateiro não possuía um horário definido de trabalho.

Durante a Revolução Industrial, a demanda por sapatos aumentou muito. Era preciso, então, fazer 1 milhão de pares – tarefa impraticável para Mr. Smith. Diante da limitação, foi necessário criar uma forma diferente de confecção. A solução foi desenvolver a esteira de uma linha de produção. Se Mr. Smith ocupasse a posição de um trabalhador comum na esteira, o sapateiro com certeza performaria bem menos em relação a seus colegas. O motivo é que, se uma ideia ocorresse à mente criativa de Mr. Smith, atrapalharia toda a linha de produção. Além disso, com a divisão de tarefas entre os trabalhadores, se uma única pessoa chegasse atrasada no trabalho, atravancaria todo o processo de produção e o prejuízo seria enorme. Por isso, todo mundo deveria chegar às 9 da manhã e sair às 5 da tarde.

Por que, afinal, os pais deixam os filhos na escola às 7 da manhã? Porque é o horário antes do início da linha de produção. E para fazer uma série de fábricas, é preciso criar escolas para formar as pessoas que trabalharão nelas no futuro. No entanto, se você formar uma pessoa muito criativa, ela vai atrapalhar a esteira, assim como o Mr. Smith. Por isso, precisamos de pessoas construídas apenas para executar – e não para pensar.

Mais uma pergunta: quem disse que todos são obrigados a trabalhar oito horas por dia? Durante a Revolução Industrial, a carga de trabalho era de 17 horas por dia. Após várias mortes provocadas pelas péssimas condições oferecidas pelas fábricas, um acordo foi feito entre os donos das linhas de produção e os funcionários: oito horas foram designadas ao trabalho, oito horas à recreação e oito horas ao sono. Não havia nada de científico por trás da decisão.

Esse modelo de organização ficou no século passado.

Nesse tempo, todo o conhecimento adquirido na escola já era perdido ao longo do tempo. A partir de certo momento, as pessoas passaram a repor esse conhecimento por meio de mestrados, doutorados e cursos. O trabalho se tornou uma nova fonte de conhecimento.

No século em que estamos hoje, o cenário ficou um pouco mais complexo. Tudo o que se aprende na escola, simplesmente não serve para nada. É preciso aprender tudo de novo, mais do que foi aprendido no começo da escola. E, se você não errar muito, mas muito mesmo, você não vai adquirir o conhecimento que precisa para se diferenciar.

Sim, eu disse errar. Se você não errar, não aprende. Na fábrica da Revolução Industrial, se uma pessoa errasse, atrapalharia toda a produção. Agora, seja bem-vindo a um mundo orgânico, onde você deve errar o tempo todo se quiser avançar.

Quais são as empresas que estão em sintonia com este ‘mundo orgânico’?

A Netflix, segundo minhas estimativas, já deve faturar em torno de R$ 2 bilhões, o equivalente ao dobro do faturamento do SBT. Na América Latina, a empresa de streaming de filmes e séries possui apenas 15 funcionários, que têm autonomia suficiente para fazer comentários nas redes sociais da empresa sobre política brasileira. Quem não se lembra do tuíte de House of Cards sobre os escândalos políticos nacionais? Afinal, se a empresa tem um executivo de marketing muito bom, por que precisa de alguém para supervisioná-lo? Isso apenas faria com que a companhia perdesse agilidade. E se ela perder agilidade, perderá mercado.

Outro exemplo é a Amazon, que emprega 340 mil pessoas, enquanto o Walmart emprega 2,3 milhões. No entanto, a Amazon não trabalha só com varejo, mas também com dados, webservices e vários outros serviços. E vale o dobro do Walmart.
Por sua vez, o Uber tem apenas três anos no Brasil. São Paulo é o maior mercado em corridas do mundo e o terceiro maior em faturamento. Em São Francisco, o Uber fatura três vezes mais do que toda a indústria de táxi.

Decidi contar tudo isso para trazer um aviso. Você não quer tomar riscos? Você não quer mudar? Você quer continuar engordando a empresa e perdendo agilidade? O mundo está mudando, e está mudando rápido. Os maiores modelos de negócio estão sendo criados um atrás do outro. Quando as transformações começam a correr, é preciso sempre dar um passo para trás e olhar para a estratégia. Segundo Michael Porter, professor da Harvard Business School nas áreas de administração e economia, estratégia é sobre fazer escolhas. Temos de fazer escolhas e ser diferentes.

Mesmo o Uber precisa fazer sua transformação digital em até três anos – ou então irá acabar. A Universidade de Columbia fez uma análise e percebeu que 9 mil carros autônomos substituem 150 mil táxis em Manhattan. O Uber, que foi criado como uma empresa de design de serviço para competir com o serviço de táxi, agora precisa ser uma empresa de tecnologia para concorrer com o Google. Não são as mesmas pessoas, não é o mesmo processo e não é a mesma estratégia do início de sua operação que fará a diferença daqui para a frente.

É por isso que na sede do Facebook, atrás da placa da empresa, ainda está a placa da Sun Microsystems 9“ (a Sun, antiga ocupante do prédio, fez sucesso nos anos 90; depois entrou em crise e acabou comprada pela Oracle em 2009). Mark Zuckerberg a deixou lá de propósito para mostrar o que acontece com aqueles que estão no topo e deixam de inovar.

 

Guga Stocco é cofundador das empresas de venture capital Koolen & Partners e Domo Invest, além de conselheiro na B3, Banco Carrefour, Totvs e Banco Original. Por cinco anos, gerenciou a equipe de desenvolvimento de novos negócios da Microsoft Brasil e foi vice-presidente do Buscapé. Em 2014, a convite de Henrique Meirelles, ajudou a montar a operação do Banco Original.

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