Engenheiros: programa tem vagas no Rio de Janeiro (LuckyBusiness/Thinkstock)
Camila Pati
Publicado em 17 de agosto de 2018 às 06h00.
Última atualização em 20 de janeiro de 2020 às 12h01.
São Paulo – Na consultoria de recrutamento Page Personnel, especializada cargos técnicos e de suporte à gestão, a demanda por alguns tipos de engenheiros em 2018 está entre 30% e 35% maior do que no ano passado.
O crescimento na procura é efeito de um movimento de reposição de funcionários, não se trata ainda de aumento nos quadros de funcionários. “Não há nada a comemorar, ainda, porque é um movimento tímido”, diz Renato Trindade, gerente da consultoria.
O momento atual segue difícil para a grande parte das áreas de engenharia no Brasil. Profissões como engenheiro civil e engenheiro naval continuam na lista das carreiras em baixa no Brasil.
Mas, a boa notícia é que a área industrial está voltando a recrutar engenheiros e técnicos, depois de anos em marcha lenta. “A partir de 2015, as áreas industriais foram muito afetadas, com menos projetos e menos vendas a queda no número de posições foi grande”, diz.
Três anos depois, os sinais de crescimento nas contratações de engenheiros vêm dos setores automotivo e químico. De acordo com Trindade, em 2018 ele recrutou mais profissionais para o setor automotivo do que em todo o ano passado.
“A indústria automotiva está retomando e há toda uma cadeia de fornecedores que tem o mercado movimentado por ela. A área química, uma das últimas a sofrer com a crise, retoma com mais força por ser base para boa parte das indústrias”, explica o executivo.
O maior volume de contratações é na região Sudeste e Trindade destaca o mercado automotivo e de metais no estado de Minas Gerais, com um polo de demanda por engenheiros. Região de Recife (PE) e a indústria de base no Sul do Brasil também têm tido mais contratações.
Confira os engenheiros mais buscados pela Page Personnel em 2018 e que devem continuar em alta pelos próximos 3 a 6 meses:
Engenheiro de Projetos
O que faz: coordena todas as etapas de um projeto, desde a concepção a implementação. Profissional multidisciplinar que atua com as mais diversas áreas da empresa.
Perfil: formação em engenharia e/ou especializações em gestão de projetos.
Salário: de 8 mil a 10 mil reais.
Por que está em alta: a retomada de investimentos e de mercado, faz com que as empresas voltem a investir em grandes projetos.
Engenheiro de Aplicação
O que faz: é o “braço” técnico do executivo de vendas porque é especialista no que diz respeito aos produtos e/ou serviços ofertados. O suporte do engenheiro de aplicação é em todas as etapas: negociação, apresentação e definição da proposta. “Ajuda na parte técnica da venda, do desenho da proposta à precificação”, diz Trindade.
Perfil: formação em engenharia, nas mais diferentes áreas.
Salário: de 8 mil a 12 mil reais.
Por que está em alta: a retomada de produção e vendas na indústria faz com que empresas busquem esses perfis com o objetivo de conquistar novos clientes e projetos. “Todas as indústrias contratam esse tipo de engenheiro”, diz Trindade.
Engenheiro de Manutenção
O que faz: toda a programação de manutenção preventiva e corretiva. Controles de KPIs e gestão junto ao time de produção para o melhor funcionamento das máquinas e toda linha de produção.
Perfil: formação em engenharia, com foco nas habilitações: elétrica, mecânica, automação e mecatrônica.
Salário: de 8 mil a 10 mil reais.
Por que está em alta: é um profissional que foi mais procurado com a crise já que as linhas de produção, em queda de produtividade, estavam livres para manutenção de rotina. A redução na aquisição de novas máquinas também exige melhor gestão do parque fabril.
Engenheiro Químico
O que faz: combina conhecimentos de química, biologia, física, computação e matemática para projetar, construir e operar plantas químicas de matérias-primas em produtos finais por meio de processos químicos.
Salário: de 8 mil a 12 mil reais.
Motivo para alta em 2018: retomada da produção coloca novamente esse perfil no radar da indústria.
Engenheiro de Segurança Contra Incêndio e Pânico
O que faz: habilita empresas, indústrias, condomínios para que possam gerenciar, projetar, bem como atuar em situações que envolvam sistemas preventivos contra incêndio e pânico.
Perfil: formação em engenharia e/ou especializações em segurança do trabalho.
Salário: de 8 mil a 10 mil reais.
Por que está em alta: os últimos eventos com incêndios nos EUA, Brasil e Londres levantaram uma atenção especial para esse assunto. O trabalho bem feito de um engenheiro de segurança pode trazer redução significativa no preço de seguro.
Apesar de confirmar a perspectiva de retomada na área de engenharia, Marcello Nitz, pró-reitor acadêmico do Instituto Mauá de Tecnologia, diz que os números da Page Personnel ainda não refletem a situação da engenharia no Brasil. “Esse aumento é interessante, mas muito otimista, ainda não reflete a média geral”, diz o acadêmico.
De acordo com ele, a preocupação com a empregabilidade em curto prazo, porém, não é o mote do Instituto Mauá. “O país vive um momento de instabilidade, mas a gente prepara o aluno para uma vida ativa de 40 a 50 anos. Nesse período, certamente ele vai ter muitas idas e vindas na trajetória profissional”, diz.
A versatilidade do profissional formado em engenharia faz com que suas possibilidades de carreira ultrapassem a fronteira da sua habilitação específica. “O engenheiro é um profissional que cabe em outros segmentos de mercado”, diz Renato Trindade, gerente da Page Personnel.
Bancos e consultorias são alguns dos setores de fora da engenharia que mais contratam os engenheiros. E é a formação acadêmica o que dá a eles um diferencial competitivo em várias áreas do mercado de trabalho.
“Engenharia é um curso muito exigente. Desenvolve uma capacidade analítica e habilidade para solução de problemas”, diz o pró-reitor acadêmico do Instituto Mauá. Por isso, ele garante que muitas tarefas que parecem difíceis para profissionais de outras áreas são executadas com naturalidade por engenheiros.
A formação ampla, segundo Nitz, dá fôlego aos engenheiros para que possam buscar outras formas de trabalho para além do emprego típico, sem ficar à mercê de ondas do mercado.
Entre os alunos do Instituto Mauá, o interesse pelo empreendedorismo tem crescido, por exemplo. “Vemos alunos engajados em projetos de inovação e também há alunos buscando oportunidades no exterior”, diz Nitz.
A capacidade de empreender e de inovar são características essencial ao novo perfil da profissão. “Ser engenheiro hoje não é a mesma coisa do que era antigamente. A base técnica fundamental da engenharia pode até ser a mesma, mas a forma de trabalhar mudou”, diz.
Uma sólida preparação técnica que acompanhe os avanços da indústria e traga qualificações adequadas às mudanças tecnológicas continua sendo essencial, mas não é mais o bastante para manter o profissional no mercado de trabalho. “Se não ele entra no mercado, mas não fica”, diz.
Seguindo a demanda atual, desenvolvimento de competências sócio emocionais, coaching, técnicas de negociação e apresentação em público são itens que já fazem parte da grade curricular do Instituto Mauá.