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Este é o lado perverso de ser muito resiliente no trabalho

Chamada de "competência do século", a resiliência também pode ter um lado tóxico — para sua equipe e principalmente para você mesmo

 (Nastco/Thinkstock)

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Claudia Gasparini

Claudia Gasparini

Publicado em 26 de agosto de 2017 às 06h00.

Última atualização em 26 de agosto de 2017 às 06h00.

São Paulo — Você é capaz de mobilizar recursos para se recuperar de baques emocionais no trabalho? Se sim, você tem a competência mais relevante para a primeira metade do século 21: a resiliência.

O conceito original, estudado pelos físicos, descreve a facilidade com que um material absorve um golpe sem sofrer deformações. À maneira de um metal rígido, o profissional resiliente é aquele que interage com as adversidades sem “quebrar” com o impacto das crises.

Embora seja celebrado como indispensável para sobreviver aos desafios do mercado de trabalho, esse comportamento também tem seu lado perverso, alertam Tomás Chamorro-Premuzic, professor da University College London, e Derek Lusk, psicólogo e consultor de empresas, em artigo para a revista “Harvard Business Review”.

Pouco lembrado, e ainda menos discutido, o efeito sombrio de ser resiliente demais é similar ao de exagerar na academia. Se criar uma “musculatura” robusta demais, você pode sobrecarregar o seu organismo e perder sensibilidade.

Um dos riscos mais frequentes é continuar perseguindo objetivos que já se provaram inalcançáveis. A pesquisadora Janet Polivy, professora da Universidade de Toronto, estudou e até batizou o comportamento como “síndrome das falsas esperanças”.

“Confiança excessiva e um grau exagerado de otimismo podem fazer as pessoas desperdiçarem energia em tarefas sem sentido”, dizem Premuzic e Lusk no artigo para a HBR. “Embora indivíduos que ‘sonham grande’ costumem ser celebrados, normalmente é mais eficaz ajustar objetivos para níveis mais realizáveis”.

Flexibilidade ou passividade?

Resiliência demais também pode criar pessoas excessivamente tolerantes com a adversidade. Em termos práticos, isso significa aguentar chefes tóxicos, tarefas monótonas e empregos desmoralizantes por mais tempo do que seria saudável.

Embora seja quase inevitável engolir situações negativas em tempos de crise e desemprego, também é importante estabelecer limites para não atropelar a própria saúde física e mental.

“Se as pessoas fossem menos resilientes, talvez tivessem mais chance de melhorar suas condições de trabalho”, argumentam os especialistas.

Má notícia para quem é chefe

Ser resistente às diversas pressões do trabalho é um atributo obrigatório para qualquer líder, mas em excesso a força vira fraqueza. O chefe resiliente demais pode ficar parecendo um super-herói de quadrinhos: duro como um muro de tijolos, frio como uma lâmina de aço.

Para não se dobrar frente às adversidades, esses líderes aparentemente destemidos criam mecanismos agressivos que inflam seus próprios egos. Além de se tornarem insensíveis às necessidades emocionais da equipe, eles perdem a capacidade de se autoanalisarem.

O problema é que enxergar a si mesmo é, segundo Premuzic e Lusk, uma condição básica para guiar a própria carreira e trazer bons resultados para a empresa. “Diversos estudos sugerem que líderes muito ‘corajosos’ não enxergam suas limitações e supervalorizam suas habilidades e seu desempenho”, explicam eles.

O resiliente "super-herói" se torna, então, uma pedra no caminho da companhia, dos seus liderados e até de si mesmo. Isso porque ele se blinda contra informações “dramáticas” que seriam fundamentais para corrigir os problemas vividos no dia a dia de uma empresa. 

“Líderes assim não são necessariamente bons para o grupo, assim como bactérias e parasitas são muito mais problemáticos quando são mais resistentes”, comparam os autores.

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