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Empresas brasileiras não possuem mentalidade digital, mostra pesquisa

A transformação digital é o tema da 19ª edição da pesquisa Carreira dos Sonhos 2020

Carreira digital: (jossnatu/Getty Images)

Sofia Esteves

Publicado em 6 de julho de 2020 às 17h06.

Última atualização em 6 de julho de 2020 às 17h28.

Muito tem sido falado sobre transformação digital, principalmente após a chegada da covid-19 e seus impactos sobre os negócios do mundo todo.

No entanto, engana-se quem ainda acredita que a revolução digital diz respeito apenas aos softwares de inteligência artificial.

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Precisamos compreender que os desafios corporativos, acentuados pela pandemia, exigem mais do que somente a transferência dos negócios físicos para o modelo digitalizado, ou para a automatização de processos.

As empresas precisam de uma revolução de pensamento. O momento pede um olhar maduro sobre a importância do comportamento digital e como as companhias podem impulsionar essa mentalidade dentro das organizações.

Esse é o tema da 19ª edição da pesquisa Carreira dos Sonhos 2020, realizada anualmente pelo Grupo Cia de Talentos. O estudo entrevistou 123.579 profissionais brasileiros entre jovens talentos, média gestão e profissionais da alta liderança e descobriu que:

As empresas brasileiras não possuem mentalidade digital

Somente 35% dos jovens, 28% da média gestão e 36% dos profissionais da alta liderança acreditam que trabalham em empresas com culturas digitais.

Os dados vão de encontro aos estudos da Panorama Research, que identificou apenas 4% das empresas brasileiras com comportamento digital.

Essa realidade é percebida na forma como os profissionais sentem-se inseguros sobre o poder competitivo das empresas em que trabalham.

Apenas 38% dos jovens, 34% da média gestão e 44% da alta liderança confiam que suas empresas estão preparadas para competir com a concorrência quando o assunto é transformação digital.

Diante da retração da economia e da aceleração tecnológica, contar com colaboradores confiantes e engajados é uma grande vantagem. Percebe-se que não é essa a realidade que as empresas brasileiras estão construindo, não é mesmo? E quais são as consequências disso?

Estamos perdendo tempo — e dinheiro

O Fórum Econômico Mundial alertou que, nos próximos três anos, 54% dos profissionais do mundo vão precisar de treinamentos e requalificações para lidar com as mudanças do mercado.

Porém, apenas 3% das empresas investem no desenvolvimento dos colaboradores, de acordo com o Banco Mundial. Essa preocupante realidade também foi percebida na Pesquisa Carreira dos Sonhos 2020.

Apenas, 52% dos jovens, 44% da média gestão e 55% da alta liderança, acreditam que a empresa investe recursos no preparo dos profissionais para os desafios do futuro do trabalho.

Quando o assunto é liderança, os dados também revelam atrasos: somente 42% dos jovens, 39% da média gestão e 49% da alta liderança percebem que a empresa investe no desenvolvimento dos gestores para lidar com os desafios da era digital.

Os líderes, no entanto, são peças fundamentais para espelhar a cultura organizacional da empresa e transmitir para as equipes motivação e direções claras que assegurem os resultados que a organização necessita.

Por consequência, a falta de investimento no comportamento digital das lideranças reflete nos colaboradores.

Somente 48% dos jovens, 38% da média gestão e 53% da alta liderança sentem que seus superiores os fazem ficar entusiasmados com o futuro da transformação digital da empresa.

A boa notícia é que os talentos já entenderam a importância da transformação digital, mas a ruim é que as empresas ainda não!

A pesquisa descobriu que 92% dos jovens talentos, 89% da média gestão e 92% da alta liderança estão abertos às mudanças que o novo mundo dos negócios requer.

Mas, somente 53% dos jovens, 43% da média gestão e 52% da alta liderança percebem essa mesma postura da empresa.

As pessoas estão tomando às rédeas de seu futuro profissional, mas não contam com a valorização das organizações

Oitenta por cento dos jovens, 81% da média gestão e 85% da alta liderança investiram em capacitações no último ano para lidar com os desafios atuais e futuros do trabalho. Porém, as empresas não estão valorizando esse comportamento.

De acordo com a pesquisa, apenas 50% dos jovens, 43% da média gestão e 55% da alta liderança dizem que na organização em que trabalham as pessoas são reconhecidas por aumentarem seus conhecimentos e habilidades.

É importante compreender que o aprendizado contínuo, também conhecido como Longlife Learning, não se refere apenas à conclusão de novos cursos.

A aquisição de novos conhecimentos deve ser incorporada ao dia a dia do trabalho. O ambiente corporativo (mesmo que virtual) precisa tornar possível explorar novas mentalidades, comportamentos e maneiras de trabalhar.

Afinal, a cultura do aprendizado ocorre quando todos percebem o valor de aprender a todo o instante e quando, principalmente, os líderes estimulam e reconhecem esse movimento.

O fato de os profissionais compreenderem que também são responsáveis por cuidar do próprio desenvolvimento é uma boa notícia.

A autonomia é um valor fundamental para os profissionais do futuro e há muitos anos essa responsabilidade vinha sendo transferida apenas para as empresas.

Porém, esses profissionais têm encontrado desafios para realizar esse caminho de forma autônoma. O principal motivo, para 70% dos jovens, 67% da média gestão e 57% da alta liderança, é não ter dinheiro suficiente para investir em aprendizado contínuo.

Se, no passado, houvesse equilíbrio nesse assunto, imagine quantas conquistas os profissionais e as empresas poderiam ter obtido?

Precisamos ficar atentos. Com a redução salarial e os cortes que as organizações estão tendo de realizar devido à pandemia, o investimento no desenvolvimento tende a ser feito com mais prudência.

Mas, para que as empresas mantenham-se competitivas, é fundamental que esse tema seja percebido como prioritário.

Precisamos falar sobre transformação digital

Da mesma forma que o aprendizado contínuo não diz respeito apenas à conclusão de cursos, o comportamento digital nas empresas também não pode ser reduzido à inserção de novas tecnologias.

A transformação digital é um movimento e não uma meta: para que ela seja uma realidade concreta nas empresas, precisa ser um processo de crescimento e desenvolvimento contínuo.

É a estratégia que impulsiona a maturidade digital e não a tecnologia: logo, precisamos mudar o mindset e incorporar o “be digital” em nossa forma de pensar e agir.

A maturidade digital é uma transformação cultural: no ambiente profissional, as mudanças só ocorrem com o apoio da liderança, que também precisa do suporte e orientação da área de gestão de pessoas da empresa.

Ou seja, a transformação digital requer: aprendizado contínuo, liderança digital e cultura digital e, tão importante quanto, investimento das empresas.

Sendo assim, não há como avançarmos sem antes remodelar a cultura das empresas e parar de resistir às transformações necessárias para que as organizações façam parte do futuro.

Afinal, o futuro é digital e ele já chegou!

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