Carreira

Embraer abre programa para engenheiros, que permite criar o próprio avião

Programa de Especialização em Engenharia completa 20 anos em 2021 e está com inscrições abertas; no fim, engenheiros projetam avião do zero

Produção da Embraer em São José dos Campos: programa já formou 1.600 engenheiros (Germano Lüders/Exame)

Produção da Embraer em São José dos Campos: programa já formou 1.600 engenheiros (Germano Lüders/Exame)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 6 de julho de 2021 às 07h00.

Última atualização em 7 de julho de 2021 às 08h25.

Nos últimos 20 anos, um dos pilares para a Embraer chegar à posição de terceira maior fabricante de aviões do mundo esteve na decisão da empresa de trabalhar ativamente na formação de engenheiros.

Em 2001, quando a empresa criou o Programa de Especialização em Engenharia a ideia era resolver o problema de falta de engenheiros aeronáuticos no mercado. Agora, ele é crucial para o preenchimento de funcionários, devido ao turnover natural da empresa e como próprio investimento em pesquisa, inovação e desenvolvimento.

Boa parte dos engenheiros são contratados pela empresa, mas ele também tem status de mestrado profissional devido a sua parceira com o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), que ajuda a fornecer algumas mais teóricas.

As inscrições para a edição de 2022 foram abertas nesta segunda-feira. Todo o processo seletivo deve acontecer neste segundo semestre. O programa tem duração de três meses.

No início, há um nivelamento teórico e prático sobre engenharia aeronáutica e possibilidades de "carreira" a serem escolhidas pelos recém-formados.

No terceiro trimestre do curso, a proposta é que grupos sejam formados e eles modelem um avião do começo ao fim, desde a análise de mercado, passando pelas questões técnicas até o plano de negócio.

Em 2020, a Embraer entregou 130 aviões de encomenda. O forte da empresa são os de pequeno e médio porte, além das unidades militares, como o KC 390.

“Eles criam uma aeronave do zero e se apropriam do projeto, com um grupo de mentores que auxiliam. Uma das coisas que a gente trata muito no PEE é que o engenheiro é dono do que ele faz. Ele precisa sentir esse senso de propriedade”, destaca Luiz Fernando Nolf, coordenador do programa. “A nossa ideia é pegar o pessoal mais jovem mesmo, com até dois anos de formado, e nosso objetivo é prepará-los melhor para trabalhar com engenharia aeronáutica dentro da Embraer porque é um ambiente multidisciplinar".

Na pandemia, o curso precisou ir para 100% para o formato remoto, mas conforme a situação sanitária melhorar a perspectiva é de um grade curricular com aulas híbridas.

Luiz Fernando também cita que a empresa tem uma preocupação em atualizar a grade curricular ano a ano para leva às salas de aula as discussões de tecnologia do momento. Entre os temas recentes que entraram na grade estão sustentabilidade e inteligência artificial.

Com previsão de formatura para o próximo mês de agosto, Marina Pintarelli, de 26 anos, é estudante da turma atual do programa. Ela conta que uma das melhores características do mestrado profissional da Embraer é a possibilidade de projetar:

“Eu acho que eu não sou engenheiro igual aos engenheiros mais tradicionais, que pensam apenas no dia a dia, mas eu gosto de estar projetando. Daqui a cinco anos, eu quero estar projetando um avião”.

A estudante, que é formada em engenharia mecânica, é natural de Santa Catarina e conheceu a empresa em uma visita durante a faculdade.

“Antes de entrar na educação, eu nem sabia que a engenharia aeronáutica era possível. O Brasil é tão grande e a gente nem pensa que o país faz tanta coisa. Foi na graduação que eu descobri que na verdade a gente faz e tem, por exemplo, a terceira maior fabricante de aviões do mundo. Eu vejo muitas empresas repetindo um padrão, e na Embraer eu vejo a pesquisa e o desenvolvimento forte”, explica Marina.

Para o vice-presidente de Pessoas da Embraer, Carlos Alberto Griner, é estratégico para a empresa trabalhar nessa capacitação de jovens engenheiros não só para suprir uma demanda, mas também para antecipar necessidades futuras.

"Não existe a oferta de talentos com a qualificação que a gente precisa, mas a empresa também usa um programa como esse para se preparar para desafios que a gente nem saber quais vão ser. Eu acredito em ir na origem, na porta de entrada. Se a gente souber investir no estudante e prepará-los para entrar no mercado de trabalho qualificado, se você puder fidelizar isso dentro da sua própria empresa, aí você tem um projeto vencedor."

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