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Em cada país, um tipo de líder

O populismo, na política, e o paternalismo, nas empresas, são uma marca da cultura latino-americana. Para ser um profissional global, é preciso reconhecê-los e aprender a lidar com eles

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo - Um traço marcante dapolítica brasileira é opopulismo. De GetúlioVargas a Lula,diversos líderes caíramna tentação demisturar carisma com demagogia,de tomar medidas que são boas parao eleitor, mas ruins para o país. Noentanto, essa característica não ésó brasileira.

Em toda a história daAmérica Latina podemos encontrarlíderes populares e populistas — HugoChávez, da Venezuela, é um exemplorecente. Juan Perón, na Argentina,um exemplo clássico. O que isso tema ver com carreira global? Tudo. Nomundo das empresas, o populismoassume outro nome: paternalismo.

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Aforma de funcionamento é a mesma.O líder paternalista toma decisões quebeneficiam a equipe, para conquistarlealdade, mesmo sabendo que essasmedidas podem prejudicar os resultadosda companhia no futuro. Devidoa uma maior profissionalização dosnegócios, esse tipo de liderança temhoje formas mais amenas, mas aindase faz presente nas organizações brasileiras.

Reconhecer essa característicaé fundamental para um brasileiroque pretende fazer carreira global.A cada cultura que aparecer em seucaminho, inconscientemente, esseprofissional poderá reagir de maneiradiferente, mas sempre a partir desua formação original, que tende aser paternalista.

Esse raciocínio vale para quem vaitrabalhar fora, para quem vai liderarequipes de estrangeiros e para quemtem chefes em outros países. Quemnão compreende sua própria culturae não pratica essa reflexão se arriscaa fazer leitura errada de um ambienteglobalizado e pode acabar por não seintegrar a uma cultura corporativa diferente.

O professor Alfredo Behrens,da Fundação Instituto de Administração(FIA), de São Paulo, percebeuessa insatisfação entre seus alunosde MBA internacional: “Muitos mediziam que estavam frustrados comseus chefes estrangeiros”.

Para entender o porquê desse desagradoe mapear o estilo de liderançapreferido em cada cultura,o professor realizou uma pesquisacom 147 alunos, 73 brasileiros e 74estrangeiros.A metodologia do estudofoi inusitada. O professor Alfredopediu para que os participantesassistissem a seis vídeos com osdiscursos de diferentes líderes deempresas nacionais e internacionais.

Durante a sessão os alunos tiveramde listar adjetivos para definir cadagestor e associá-los com os seguintesanimais: coruja, águia, leão, vaca,urubu e castor. Ochefe preferido por 66% dos alunosestrangeiros e por 51% dos brasileirosfoi o coruja: um tipo cujas característicassão calma, confiança, profissionalismoe inteligência. “Esses sãoatributos básicos para uma liderançaem qualquer parte do mundo”, diz acoach executiva Ada Maria de Assis.


O que surpreendeu o pesquisador foiconstatar que 31% dos brasileiros,apesar de quererem um chefe corujapara si, acreditam que seus colegasse entenderiam melhor com um lídervaca,superprotetor e tipicamentepaternalista. “É um traço culturalmuito forte”, diz Ada.

O alemão Frank Liesner,de 35 anos, quechegou ao país em2008 para se tornardiretor financeiropara o Mercosul daHenkel, fabricante das colas Durepoxie Pritt,precisou se adaptar aesse estilopaternal de gestão.

Acostumadocom o jeito germânico deliderança, frio e assertivo, Frank tevede se ajustar às necessidades de suaequipe brasileira: “Tomei aulas decultura local e aprendi que para engajaruma equipe eu precisava ser maiscaloroso e protetor”, diz o executivo.

Essa adaptação vale também para osbrasileiros que vão assumir posiçõesde chefia lá fora — prática cada vezmais comum. “O Brasil já é referênciainternacional”, diz o professor SherbanLeonardo Cretoiu, diretor deprojetos de internacionalização naFundação Dom Cabral (FDC).

O Brasilinfluencia ainda mais a maneirade fazer negócios na América Latina,região na qual estão presentes53% das transnacionais brasileiras,de acordo com Ranking da FDC.

Teoricamente, como a cultura paternalistaestá presente em todosos países da região, a adaptação deprofissionais brasileiros seria maistranquila. No entanto, segundo outrapesquisa, ainda em fase de conclusão,também de Alfredo Behrens, daFIA, apesar da proximidade geográfica, os brasileiros têm dificuldade

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