Home office: “Eu nado para me exercitar entre as ligações. Nos fins de semana, sinto que estou de férias” (AntonioGuillem/Thinkstock)
Bloomberg
Publicado em 17 de fevereiro de 2021 às 16h38.
Quando o governador Gavin Newsom anunciou um lockdown na Califórnia ainda mais rígido em meados de dezembro, alguns residentes mais abastados correram para lugares - o mais longe possível - como a ensolarada Belize. Outros, que já antecipavam a medida, haviam partido há muito tempo.
Ao contrário da primeira onda de restrições da Covid-19, que estimulou viagens de carro e temporadas em segundas residências, a segunda onda despertou o desejo global de fugas mais permanentes, mais quentes e mais distantes.
No Reino Unido e na Europa, os ricos voaram para destinos com climas mais quentes como Dubai, Maldivas e Espanha com o objetivo de escapar do confinamento de inverno, diz Justin Huxter, fundador da Cartology Travel, com sede no Reino Unido.
Os americanos têm mais opções de bunkers tropicais: o Havaí diminuiu as restrições de viagens, e as fronteiras estão abertas no México, Costa Rica, Belize e muitas partes do Caribe.
Afinal, de que vale uma segunda casa em Lake Tahoe ou Napa, na Califórnia, quando teleféricos, vinícolas e restaurantes próximos ficam periodicamente inacessíveis, como durante boa parte de dezembro e janeiro?
“Pessoas cansadas do lockdown perceberam que podem continuar a vida em lugares com muito menos estresse e muito mais espaço para respirar”, diz Jack Ezon, fundador da Embark Beyond. Ele observa que clientes da costa leste dos EUA têm migrado para hotéis e resorts de luxo na Flórida, Carolina do Sul e nas Ilhas Turcas e Caicos, enquanto os clientes da costa oeste fogem para o Arizona e Puerto Vallarta e Cabo no México - qualquer lugar com clima igualmente bom e Wi-Fi.
O custo médio, diz, é de US$ 70 mil por mês, e a maioria dos clientes faz reservas para dois a quatro meses.
Os descontos para estadias prolongadas, a reabertura de certas fronteiras internacionais e uma maior conscientização sobre os cuidados a serem tomados ao viajar incentivaram o êxodo na segunda onda. Embora o isolamento social em um resort cinco estrelas possa ter sido novidade no início da pandemia, agora é uma necessidade para uma determinada classe de consumidores; na Tailândia, é um plano de negócios.
“Em outubro, as pessoas começaram a perceber que enfrentariam outro inverno em São Francisco, sem restaurantes, sem entretenimento, sem escritórios - realmente sem nenhum lugar para ir”, diz Leigh Rowan, fundador da Savanti Travel, na Baía de São Francisco, cujos clientes têm comprado passagens só de ida e trabalhado remotamente em vilas à beira-mar ou hotéis repletos de amenidades.
Desta vez, diz, os clientes não têm intenção de voltar até que haja a promessa de uma data para tomar a vacina.
Melanie Woods, uma designer gráfica de 39 anos, deixou São Francisco bem antes da notícia do lockdown de inverno. Desde 1º de outubro - dia em que Belize reabriu as fronteiras -, ela trabalha remotamente no resort de luxo rústico Turtle Inn, do diretor Francis Ford Coppola, onde sua mesa fica perto de uma janela com brisa do mar.
“Eu nado para me exercitar entre as ligações. Nos fins de semana, sinto que estou de férias”, diz.
Belize exige que viajantes tenham um teste para Covid-19 negativo na chegada, o que tranquilizou Woods. O hotel de 27 quartos, localizado à beira-mar em Placencia, também é quase totalmente ao ar livre, o que facilita comer e socializar em ambientes externos distantes.
Os quartos custam a partir de US$ 329 por noite, mas estadias prolongadas trazem descontos de 20% nas acomodações e na alimentação; Woods está alugando seu apartamento para compensar as despesas.
“Provavelmente não voltarei até o verão, ou quando puder tomar uma vacina”, diz.