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Em busca da perfeição com o Bolshoi, em Joinville

Conheça a dura rotina de preparação dos alunos da unidade brasileira da Escola do Teatro Bolshoi, uma das mais famosas companhias de balé profissional do mundo

Não basta vontade para um candidato ingressar na escola. A técnica, a expressividade e o talento também são observados na seleção (Patrícia Stavis / VOCÊ S/A)
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Da Redação

Publicado em 21 de março de 2013 às 13h24.

São Paulo - O despertador toca às 6 da manhã, no máximo, para os 299 alunos da Escola do Teatro Bolshoi, em Joinville, Santa Catarina. Logo cedo começa a maratona de aulas e treinamentos, que dura um turno inteiro e inclui estudos de música, história do balé, técnicas clássica e contemporânea, entre outras disciplinas da extensa grade curricular da instituição.

No período oposto ao das aulas de balé, os estudantes, que têm entre 9 e 20 anos, frequentam a escola — para permanecer na companhia o aluno precisa comprovar desempenho escolar acima da média. Em funcionamento desde 2000, a unidade catarinense é a única fora da Rússia dessa famosa companhia de balé, fundada em 1763, em Moscou, pela imperadora Catarina II.

O ideal da escola brasileira segue a tradição do Bolshoi em seu país de origem: proporcionar formação e cultura por meio do ensino da dança para que os alunos se tornem protagonistas da sociedade. Longe da família e vivendo uma rotina dura, muita gente desiste. Para os que ficam, no entanto, a promessa de educação de qualidade e profissionalizante se cumpre.

"Um olhar ou um elogio do professor faz valer a pena o esforço de um dia inteiro de treino", diz Deise Mendonça, de 20 anos, ex-aluna e hoje bailarina da Companhia de Ballet de Santiago, no Chile. Não basta vontade para um candidato ingressar na escola.

A técnica, a expressividade e o talento também são observados, mas é fundamental que ele tenha um corpo compatível com as exigências do método Vaganova (diz-se "vagânova"), ensinado na instituição, que une a busca da consciência corporal a elementos do balé francês tradicional e do balé italiano.

Para um aluno conseguir render bem no método, precisa de algumas habilidades que dependem meramente da formação de seu corpo. Se uma garota tem uma boa curvatura do pé, isso ajuda em sua classificação, por exemplo, pois facilita fazer um movimento na ponta do pé. A preocupação com o peso é uma constante também. O sobrepeso dificulta alguns movimentos e castiga articulações.


A seleção começa com uma série de medidas e pesagens, dados que serão cruzados para esclarecer a condição física dos futuros alunos. O rigor da seleção permite prever possíveis problemas físicos no futuro por causa da carga de exercício, o que pode acabar desclassificando um candidato. Essa medida é, antes de tudo, uma forma de proteger a pessoa de possíveis danos decorrentes de tamanha exigência durante os treinos.

O talento e o conhecimento técnico serão avaliados posteriormente em outras provas. "Se os olhos não dizem nada, então o corpo não dirá", diz o russo Dimitry Afanasyev, professor da escola. Para alguns, a pressão pela perfeição faz com que existam momentos em que a carreira de bailarino se torne insustentável.

Trata-se de uma vida de atleta, com todas as horas do dia dedicadas à atividade, a alimentação controlada de perto por nutricionistas e uma exigência psicológica, além da física. Vinicius Vieira Veiga, de 19 anos, que acaba de se graduar em balé clássico, chegou a abandonar a escola. "Era difícil ter que ser muito bom o tempo todo", diz.

Depois de um ano fora, candidatou-se a voltar e foi novamente aprovado na seleção. Em 2008, sentindo a necessidade de dar continuidade à carreira dos alunos, o Bolshoi catarinense criou a Companhia Jovem, que absorve os recém-formados. Isso estende o apoio dado aos alunos até o início da vida adulta, considerando que 95% deles recebem algum percentual de bolsa de estudo.

Neste ano, 12 ex-alunos terão sua primeira oportunidade de trabalho na companhia. "A cada ano tentamos aumentar o índice de empregabilidade dos nossos bailarinos. Hoje, muitos deles dançam no Brasil e no mundo", diz Pavel Kazarian, diretor da escola. "Um dos nossos maiores objetivos é pensar na carreira de cada criança que entra aqui."

Dos 104 estudantes já formados, muitos figuram em importantes companhias de dança mundo afora. O piauiense José Soares Junior foi convidado a integrar o Joffrey Ballet, de Chicago, nos Estados Unidos, antes mesmo de concluir a formação no Bolshoi. "Ter passado pelo balé Bolshoi faz com que eu esteja no mesmo nível dos outros bailarinos", diz José.

Saídos de Joinville, Mariana Gomes, de 24 anos, Bruna Gaglianone, de 20, e Erik Sowlkin, de 20, hoje são bailarinos no Bolshoi de Moscou e, naturalmente, os maiores exemplos para os demais. A rotina árdua se repete entre os profissionais. Os três têm nove horas diárias de atividades, divididas entre aquecimento, aulas, ensaios coletivos e solos, maquiagem e apresentações.

A competição existe, como em qualquer profissão, mas os bailarinos acreditam que ela é saudável e inevitável. "Somos preparados para saber nos controlar emocionalmente nas horas de pressão. Aprendemos a passar toda a emoção ao público sem deixar que nos afete", diz a maranhense Bruna, que, ao se lembrar dos anos de estudante, diz que a parte mais difícil foi ter perdido um pedaço da adolescência.

"Nunca pude me reunir à tarde com os amigos para ir ao cinema", diz. "Mas tudo vale a pena na busca do sonho de ser uma primeira bailarina." Há seis anos, passou a ser oferecida na escola a habilitação em dança contemporânea, além do balé clássico.

Alguns alunos optam por essa formação por vontade própria. Outros são encaminhados pelos professores quando entendem que a aptidão do aluno é maior para a dança contemporânea.

Luzemberg Emmanuel de Santana, de 17 anos, entrou na escola aos 9 anos, vindo da Paraíba. Ele nem sempre esteve entre os melhores da turma, mas o desempenho dos últimos anos lhe rendeu um convite para trabalhar na Companhia Jovem. "No balé, vivemos altos e baixos. Temos que lembrar que balé é superação", diz Luzemberg. A vida também é assim, por isso dizem que ela é um grande palco.

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No período oposto ao das aulas de balé, os estudantes, que têm entre 9 e 20 anos, frequentam a escola — para permanecer na companhia o aluno precisa comprovar desempenho escolar acima da média. Em funcionamento desde 2000, a unidade catarinense é a única fora da Rússia dessa famosa companhia de balé, fundada em 1763, em Moscou, pela imperadora Catarina II.

O ideal da escola brasileira segue a tradição do Bolshoi em seu país de origem: proporcionar formação e cultura por meio do ensino da dança para que os alunos se tornem protagonistas da sociedade. Longe da família e vivendo uma rotina dura, muita gente desiste. Para os que ficam, no entanto, a promessa de educação de qualidade e profissionalizante se cumpre.

"Um olhar ou um elogio do professor faz valer a pena o esforço de um dia inteiro de treino", diz Deise Mendonça, de 20 anos, ex-aluna e hoje bailarina da Companhia de Ballet de Santiago, no Chile. Não basta vontade para um candidato ingressar na escola.

A técnica, a expressividade e o talento também são observados, mas é fundamental que ele tenha um corpo compatível com as exigências do método Vaganova (diz-se "vagânova"), ensinado na instituição, que une a busca da consciência corporal a elementos do balé francês tradicional e do balé italiano.

Para um aluno conseguir render bem no método, precisa de algumas habilidades que dependem meramente da formação de seu corpo. Se uma garota tem uma boa curvatura do pé, isso ajuda em sua classificação, por exemplo, pois facilita fazer um movimento na ponta do pé. A preocupação com o peso é uma constante também. O sobrepeso dificulta alguns movimentos e castiga articulações.


A seleção começa com uma série de medidas e pesagens, dados que serão cruzados para esclarecer a condição física dos futuros alunos. O rigor da seleção permite prever possíveis problemas físicos no futuro por causa da carga de exercício, o que pode acabar desclassificando um candidato. Essa medida é, antes de tudo, uma forma de proteger a pessoa de possíveis danos decorrentes de tamanha exigência durante os treinos.

O talento e o conhecimento técnico serão avaliados posteriormente em outras provas. "Se os olhos não dizem nada, então o corpo não dirá", diz o russo Dimitry Afanasyev, professor da escola. Para alguns, a pressão pela perfeição faz com que existam momentos em que a carreira de bailarino se torne insustentável.

Trata-se de uma vida de atleta, com todas as horas do dia dedicadas à atividade, a alimentação controlada de perto por nutricionistas e uma exigência psicológica, além da física. Vinicius Vieira Veiga, de 19 anos, que acaba de se graduar em balé clássico, chegou a abandonar a escola. "Era difícil ter que ser muito bom o tempo todo", diz.

Depois de um ano fora, candidatou-se a voltar e foi novamente aprovado na seleção. Em 2008, sentindo a necessidade de dar continuidade à carreira dos alunos, o Bolshoi catarinense criou a Companhia Jovem, que absorve os recém-formados. Isso estende o apoio dado aos alunos até o início da vida adulta, considerando que 95% deles recebem algum percentual de bolsa de estudo.

Neste ano, 12 ex-alunos terão sua primeira oportunidade de trabalho na companhia. "A cada ano tentamos aumentar o índice de empregabilidade dos nossos bailarinos. Hoje, muitos deles dançam no Brasil e no mundo", diz Pavel Kazarian, diretor da escola. "Um dos nossos maiores objetivos é pensar na carreira de cada criança que entra aqui."

Dos 104 estudantes já formados, muitos figuram em importantes companhias de dança mundo afora. O piauiense José Soares Junior foi convidado a integrar o Joffrey Ballet, de Chicago, nos Estados Unidos, antes mesmo de concluir a formação no Bolshoi. "Ter passado pelo balé Bolshoi faz com que eu esteja no mesmo nível dos outros bailarinos", diz José.

Saídos de Joinville, Mariana Gomes, de 24 anos, Bruna Gaglianone, de 20, e Erik Sowlkin, de 20, hoje são bailarinos no Bolshoi de Moscou e, naturalmente, os maiores exemplos para os demais. A rotina árdua se repete entre os profissionais. Os três têm nove horas diárias de atividades, divididas entre aquecimento, aulas, ensaios coletivos e solos, maquiagem e apresentações.

A competição existe, como em qualquer profissão, mas os bailarinos acreditam que ela é saudável e inevitável. "Somos preparados para saber nos controlar emocionalmente nas horas de pressão. Aprendemos a passar toda a emoção ao público sem deixar que nos afete", diz a maranhense Bruna, que, ao se lembrar dos anos de estudante, diz que a parte mais difícil foi ter perdido um pedaço da adolescência.

"Nunca pude me reunir à tarde com os amigos para ir ao cinema", diz. "Mas tudo vale a pena na busca do sonho de ser uma primeira bailarina." Há seis anos, passou a ser oferecida na escola a habilitação em dança contemporânea, além do balé clássico.

Alguns alunos optam por essa formação por vontade própria. Outros são encaminhados pelos professores quando entendem que a aptidão do aluno é maior para a dança contemporânea.

Luzemberg Emmanuel de Santana, de 17 anos, entrou na escola aos 9 anos, vindo da Paraíba. Ele nem sempre esteve entre os melhores da turma, mas o desempenho dos últimos anos lhe rendeu um convite para trabalhar na Companhia Jovem. "No balé, vivemos altos e baixos. Temos que lembrar que balé é superação", diz Luzemberg. A vida também é assim, por isso dizem que ela é um grande palco.

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