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Eles poderiam ser políticos, mas estão nas empresas

As pessoas se afastaram dos partidos e estão exercendo a vocação política no trabalho. É ruim para o país, mas bom para a carreira

André Martins, da VB, preside um fórum de jovens executivos (Fabiano Accorsi / Você S/A)
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Da Redação

Publicado em 13 de março de 2013 às 19h24.

São Paulo - Em setembro, André Martins, de 37 anos, presidente da VB, empresa de benefícios e vale-transporte, de São Paulo, organizou em sua casa um ciclo de encontros entre os candidatos a prefeito da capital paulista com empresários para discutir temas como mobilidade urbana e empreendedorismo.

Quem observava André nos encontros via um político em ação — além da VB, ele preside o Lide Jovem, fórum de executivos de até 42 anos idade. Com habilidade para lidar com pessoas, ele circulava tranquilamente entre os convidados, esbanjava simpatia, expunha suas ideias, fazia perguntas e dava sugestões. Para André, essa atuação social é um complemento de sua carreira.

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"Não participaria de uma disputa eleitoral, pois o processo de seleção é penoso, mas quero atuar politicamente do lado de fora, contribuindo para a criação de políticas públicas e levando ao Congresso Nacional o que a sociedade precisa e quer", afirma.

Em gerações anteriores, fazer política significava estar dentro de um partido, de um sindicato ou de uma organização de classe. Hoje, a imagem negativa dessas instituições afasta profissionais competentes, que, sem a opção tradicional, vão exercitar sua vocação política em empresas, organizações não governamentais ( ONGs ) ou por conta própria.

"Política é a ciência que busca estabelecer mecanismos que permitam a construção coletiva do bem comum", diz a antropóloga Regina Novaes, do Rio de Janeiro, que no ano passado participou de uma pesquisa sobre como os jovens se organizam politicamente. "Há uma tendência mundial de fazer política fora dos espaços tradicionais", diz Regina.

Em qualquer situação em que uma pessoa conduz outras em prol de algo, pode-se dizer que há uma relação política. "Hoje, as pessoas reúnem-se em grupos, redes e movimentos sociais para discutir fatos políticos que acabam entrando nas agendas governamentais", diz Regina. Se você tem essa verve, saiba que explorá-la traz benefícios importantes para a carreira. A ação social estimula o desenvolvimento de competências de liderança e coloca o profissional diante de cenários diferentes dos encontrados no escritório.


Além da má imagem dos políticos, o excesso de partidos (no Brasil há 30 registrados no Tribunal Superior Eleitoral) pulveriza o debate e também contribui para o afastamento de interessados. "A sensação é de que o debate e as propostas não são sérios", afirma o cientista político Heni Ozi Cukier, fundador da Core Social Asset Management, consultoria de sustentabilidade e responsabilidade social, em São Paulo.

Para ele, há uma ideia generalizada de que o meio político é corrupto. "E ninguém quer trabalhar em um ambiente que tenha esse estigma negativo", diz. De acordo com o cientista político Humberto Dantas, professor de sociologia e política do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em São Paulo, há uma descrença da sociedade com a política. "Não se enxerga na máquina pública um agente suficientemente capaz de consolidar desejos, vontades e direitos da forma como se imagina", afirma.

Ele acredita que, hoje, há pessoas muito mais adeptas a causas do que dispostas a entender à risca as leis. "São indivíduos que acreditam que podem fazer algo sem intermediários e sem burocracia, já que os processos na política costumam ser lentos", diz. "É o agir organizacional paralelo ao Estado, levando em consideração o ativismo, a vontade e os desejos de uma sociedade", diz Dantas. Por causa disso, as ONGs são o destino preferencial de quem tem motivação para promover justiça social, melhorar a saúde e a educação.

Exemplo de quem faz

Para seguir uma carreira nessa área, é necessário ter disposição e vontade de lutar por uma causa. "Trata-se de um trabalho como qualquer outro, mas com uma forma de atuar diferente", diz Mario Mantovani, diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, uma das ONGs mais tradicionais do país, fundada em 1986. "As responsabilidades são as mesmas, o que muda é a mobilização e a defesa de causas", diz Mantovani, que explica que o profissional tem de saber lidar com emoções e com questões culturais e sociais.

A economista carioca Luciana Quintão, de 49 anos, por exemplo, criou há 13 anos o Banco de Alimentos, ONG de São Paulo que distribui comida para os pobres. Quando decidiu dirigir a carreira para o lado social, aos 36 anos, a executiva começou a estudar o setor, a se planejar financeiramente e a buscar profissionais que também acreditassem em sua causa.

"Fiz a mesma coisa que faria se fosse montar um negócio, mas, no lugar de colocar a criatividade e a vontade a favor de uma empresa privada, coloquei em benefício de uma causa", diz Luciana, que prefere não entrar na política tradicional por não acreditar que ela possa mudar algo. "Acredito na política, mas não da maneira como ela é feita no Brasil."


As redes sociais têm alto poder de mobilização e podem ser uma maneira de iniciar uma atividade política sem mover muitos recursos. “Muitas movimentações começam na rede”, diz a antropóloga Regina. É o caso do paulistano Pedro Markun, de 26 anos, que teve seu trabalho de ativismo hacker — “do bem”, diz ele — reconhecido em 2009 quando clonou o Blog do Planalto, página oficial da Presidência da República, e causou alvoroço no meio político. Desde então, não parou mais.

Em 2010, fundou, em parceria com uma amiga, a Esfera, empresa que pretende gerar discussão pública e ação com foco em política e internet para promover a transparência pública. "Na época, eu e minha sócia estávamos discutindo sobre como fazer política de maneira inovadora, sem passar necessariamente pelo terno e gravata de Brasília", diz Pedro.

As mídias digitais, segundo ele, têm um poder muito grande para promover transformações. Ele está envolvido em outros projetos, como a Casa de Cultura Digital, que atua por meio de ações relacionadas ao uso de tecnologias para fins sociais, e o Transparência Hackday, evento que reúne desenvolvedores, hackers, ativistas, acadêmicos e interessados em debater problemas urbanos. "A colaboração, a abertura e a liberdade fazem parte de meus ideais."

Nas empresas

Há maneiras de fazer política na empresa — seja pelas áreas de responsabilidade social, seja por meio de fundações que algumas mantêm. "Se o intuito for trabalhar em empresas, o primeiro passo é buscar uma que atue na causa em que você acredita ou onde se possa construir algo nesse sentido", diz Regina.

O engenheiro florestal André Ferretti, de 40 anos, é coordenador da Fundação Grupo Boticário e fundador do Observatório do Clima, rede brasileira de ONGs e movimentos sociais de mudanças climáticas, no Paraná. Na fundação pertencente à fabricante de cosméticos, ele desenvolve projetos de conservação ambiental e procura estabelecer uma conexão entre as entidades socioambientais que conhece e os poderes Executivo e Legislativo.

André nunca se interessou em trabalhar em empresas que restringissem seu ativismo e o impedissem de contribuir em questões ambientais. "É uma questão de visão de vida e de valores, não me vejo fazendo outra coisa", afirma.

O publicitário Denis Strum, de 35 anos, gerente de marketing da Westwing, do grupo Rocket Internet, em São Paulo, é exemplo de voluntário tradicional, que tem um emprego e se dedica a questões sociais fora do expediente. Voluntário desde os 16 anos, já atuou em diversas ONGs e, recentemente, assumiu a diretoria de desenvolvimento de marketing da União Brasileiro Israelita do Bem-Estar Social (Unibes), de São Paulo, instituição que atende cerca de 15.000 pessoas — de recém-nascidos até idosos — e desenvolve projetos socioeducativos.

"Não me dedico apenas a uma causa, atuo onde há necessidade", afirma. Denis trabalha em uma empresa privada e na Unibes, mas a ideia é dirigir sua atuação profissional somente ao Terceiro Setor. "É um projeto de longo prazo, mas já estou me planejando para isso. Trabalhar com questões sociais é uma extensão do que sou."

Os desafios são grandes e é preciso ter perfil para atuar nessa área. Não se trata de promover ações isoladas, como apenas doar alimentos. É saber mobilizar as pessoas por uma causa. "Para uma carreira dessa dar certo, é preciso ter um idealismo forte", afirma Dantas, do Insper. Habilidade para atuar em rede, influência e engajamento são essenciais. Se você tiver esse perfil, a hora de começar é agora.

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