Carreira

Eles desenham as máquinas

Conheça os homens e as mulheres que ganham (e muito) para criar os carros mais admirados do mundo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 17h51.

To bangle." Esse verbete não está no dicionário inglês-português. Nem no inglês-inglês. Tal neologismo, próprio do jargão dos designers de automóveis, significa mudar tudo, transformar, virar pelo avesso. Trata-se de uma referência a Chris Bangle, chefe de design do BMW Group. Há 12 anos, o americano foi contratado pela empresa alemã com o objetivo de modernizar os carros da marca. O resultado? Uma verdadeira revolução no visual dos automóveis -- por dentro e por fora. A princípio, Bangle foi alvo de duras críticas da imprensa especializada e dos consumidores (ainda circula na internet um site com o seguinte título, nada simpático: "Demitam Bangle"). Hoje, seu trabalho é referência para dez entre dez designers. Dono de um salário anual em torno de 1 milhão de dólares, Bangle é o expoente de uma geração de profissionais que vêm revolucionando o mercado de automóveis.

Atualmente, os estúdios de design estão entre os departamentos que mais recebem investimentos por parte das montadoras. Só para ter uma idéia, a manutenção de um estúdio bem equipado não custa menos de 100 milhões de dólares anuais. Os designers também ganharam status dentro dessas empresas. Alguns têm cargos na vice-presidência e salários que alcançam o tal milhão de dólares por ano de Bangle -- até mais, em certos casos. Além disso, são disputadíssimos. Recentemente, a Volkswagen contratou o chefe de design da Mercedes-Benz, Murat Guenak, e trouxe uma das estrelas do escritório da Alfa Romeo, o italiano Walter de Silva. A General Motors também foi buscar reforço fora. Trouxe a criativa Anne Asensio, da Renault. A razão para esse frenesi é que os modelos de cada montadora não têm grandes diferenças entre si quando o assunto é arranque, aceleração, potência, equilíbrio nas curvas ou capacidade de frenagem. Hoje, o grande diferencial está exatamente no design de cada carro (veja artigo na pág. 64).

O processo de elaboração de um automóvel vai muito além dos rabiscos na prancheta e dos coquetéis nos salões de automóveis. Depois dos primeiros esboços, em que a beleza das formas é prioridade, é preciso aliar funcionalidade, ergonomia, segurança, visibilidade interna e -- o mais importante de todos os fatores -- viabilidade financeira. Estima-se que 30% dos projetos sejam abandonados nessa fase, quando se constata que aquele carro lindão concebido no estúdio só seria viável se custasse muito mais caro do que aquele modelo consagrado da concorrência. Projetos viáveis seguem para a fase seguinte, quando são feitos os moldes em tamanho real. Se forem aprovados pela cúpula de executivos, aí é a vez dos engenheiros. São mais de 2 000 peças que devem funcionar juntas. No final, entra em ação a equipe que define os acabamentos, as cores e os tecidos. O processo todo dura, em média, de dois a quatro anos. Só então os modelos são exibidos nos salões internacionais. "Carros provocam muito mais emoção que refrigeradores. Meu trabalho atrai a atenção do público e lá estou eu, falando para as pessoas sobre meu trabalho", explica o inglês Peter Horbery, diretor executivo de design da Ford. "Sou um cara de sorte."

Horbery é responsável por projetos das marcas Ford, Lincoln e Mercury. Para chegar ao seleto grupo dos que discursam para o público e para os jornalistas, ele trabalhou duro por quase 30 anos, 11 deles como diretor da Volvo Corporation, na Suécia. Dentre os mais de 45 projetos de automóveis de que já participou, seu maior orgulho é a renovação da station wagon Volvo V70. Diferentemente dos arquite tos, no entanto, que brilham juntamente com suas obras, os designers de automóveis são pessoas absolutamente desconhecidas fora do reduto. Nesse mercado, as criações são muito mais importantes que os autores. Ou alguém já ouviu falar do italiano Giorgetto Giugiaro, de 66 anos, proprietário do estúdio Italdesign? (Não vale procurar na internet antes de responder.) Além de carros, Giugiaro também projeta máquinas fotográficas, computadores, telefones, relógios e até embalagens de cosméticos. Em seu currículo estão o Volkswagen Golf, de 1974, e o Maserati 3200 GT, de 1998 (duas obras-primas do setor). Uma das poucas exceções é o estúdio Pininfarina, uma ilha de excelência italiana. Lá são desenvolvidos os projetos de design de boa parte das Ferrari, como a 575 Maranello e a Enzo. Quem está por trás dos desenhos de sucesso do Pininfarina é o japonês Ken Okuyama, de 45 anos, diretor criativo da empresa. (Conhecidíssimo, não?)

O meio do design ainda é majoritariamente masculino. Mas já há casos de mulheres bem-sucedidas nessa área. Um exemplo é Diane Allen, chefe de design da Nissan nos Estados Unidos. Allen é a responsável pela elaboração do projeto de duas picapes da montadora. A Titan, um sucesso de vendas, e a Frontier, que triplicou o número de unidades vendidas depois que Allen fez a reformulação do carro. Quando se candidatou a uma vaga de emprego numa grande montadora em Detroit, chegou a escutar do executivo que a entrevistava que as mulheres só serviam para fazer o design da parte interior de um automóvel. Por sorte, a moça que desenhava e costurava vestidos de noiva na época da faculdade decidiu ignorá-lo. Anne Asensio, diretora de design de veículos avançados da GM, é outra que conquistou seu lugar entre os homens. Foi ela quem desenhou o Renault Scénic, outro fenômeno de vendas. "Nos Estados Unidos, quase metade dos compradores de carros é do sexo feminino. E, mesmo quando elas não pagam, 85% das decisões de compra têm influência feminina", diz Anne.

No Brasil, o departamento de design ainda engatinha, mas, pouco a pouco, vem ganhando importância. Antigamente, os carros das montadoras chegavam ao país prontos e apenas ganhavam alguns retoques. Hoje é diferente. Carros como o Fox, da Volkswagen, e o EcoSport, da Ford, foram totalmente concebidos no Brasil. E há automóveis que foram elaborados aqui e depois conquistaram outros mercados. É o caso do Meriva. Desenhado pela equipe de Wagner Dias, da GM, o monovolume tem se saído bem na Europa. Por causa de sucessos como o Meriva, o estúdio da subsidiária brasileira da GM está se expandindo e acaba de contratar cinco profissionais. Entre os designers brasileiros, o de maior destaque é Raul Pires. Ele "foi criado" nos estúdios da Volks brasileira e hoje é chefe de design da clássica Bentley, na Inglaterra. De suas pranchetas nasceu o novo modelo do Continental GT. Garoto prodígio de apenas 35 anos, chegou a receber elogios do próprio Sergio Pininfarina, herdeiro do estúdio de mesmo nome, no Salão de Paris de 2002.
 

As obras-primas
Alguns carros que se destacam pelo design

 

BMW 745I Sed
Linhas agressivas marcam o estilo dos automóveis da série 7. A tampa do porta-malas não se funde às linhas do compartimento traseiro do carro mais parece que está apoiada sobre ele. O detalhe, que apareceu na reforma comandada por Chris Bangle em 2002, ofendeu alguns críticos e admiradores da série 7.

 

Bentley Continental GT
O novo Continental GT, lançado em 2003, foi projetado pelo designer brasileiro Raul Pires e, apesar das linhas modernas e arredondadas, tem certo toque retrô, tendência em alta no mercado automobilístico: lembra os cupês da década de 50.

 

Nissan Titan
Para enfrentar o agressivo mercado das picapes nos Estados Unidos, a montadora japonesa criou a Titan, lançada em 2003. Antes de partir para as pranchetas, a equipe de designers chefiada por Diane Allen passou um mês pesquisando o universo dos usuários de caminhonetes.

 

Ferrari Enzo
A Ferrari em edição limitada que leva o nome do fundador da marca é o auge do design dos superesportivos. Do lado de fora, chega muito perto de um Fórmula 1. A carroceria dispensa os aerofólios sem trazer prejuízos à aerodinâmica. Por dentro, ergonomia e programas de computadores que fazem parecer facílimo dirigir um carro como esse.

 

Volvo V70
A perua, que tem linhas arredondadas e, ao mesmo tempo, robustas, é a preferida de seu criador, Peter Horbery. O designer foi capaz de transformar o velho Volvo, caixotão superseguro da família, em utilitário esportivo com tração nas quatro rodas.

 

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