Carreira

As academias de ginástica agora têm CEO

Academias de ginástica se transformam em redes, assumem estrutura de grandes empresas e contratam executivos de outras indústrias para crescer

Luiz Carlos Trielli, da Runner: experiência no marketing de grandes redes de varejo aplicada às academias (Omar Paixão / VOCÊ S/A)

Luiz Carlos Trielli, da Runner: experiência no marketing de grandes redes de varejo aplicada às academias (Omar Paixão / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 13 de novembro de 2013 às 07h42.

São Paulo - Academias de ginástica são ambientes onde predominam o foco nos resultados, a valorização do esforço e uma boa dose de competição. De um modo metafórico, são comparáveis ao mundo dos negócios. Até pouco tempo atrás, essas similaridades se restringiam às metáforas.

Tradicionalmente, as academias eram negócios criados por professores de educação física dispostos a empreender, mas sem grandes conhecimentos de gestão. Eram empreendimentos tocados de forma quase amadora, com perspectivas de crescimento limitadas. Mas esse quadro está ficando para trás, já que o mercado fitness no Brasil tem vivido um movimento de grande profissionalização.

No lugar das pequenas academias de bairro, começaram a surgir as grandes redes, com marcas fortes e diversas unidades espalhadas pelo país. No ano passado, o setor movimentou 2,4 bilhões de dólares no Brasil, mais do que o dobro do registrado em 2010.

E o potencial de expansão ainda é alto. Hoje, pouco mais de 3% da população brasileira está matriculada em academias. Em mercados em que o setor é mais desenvolvido, como os Estados Unidos, esse percentual chega a 15%. 

"Ainda temos um índice baixo, mas estamos crescendo muito rápido. É resultado tanto do aumento da renda da população como da maior preocupação com a saúde", diz Gustavo Almeida, diretor executivo da Fitness Brasil, empresa que organiza cursos e feiras de negócios para os empresários do setor.


Com tanto dinheiro envolvido e um potencial de crescimento tão atraente, as empresas do setor começam a buscar maior profissionalização e a mudar o perfil de sua gestão. Saem de cena os professores de educação física que improvisavam na administração e chegam os profissionais com larga experiência em áreas como marketing e finanças, vindos de setores tão diversos quanto varejo e saúde.

Susto e mudanças

Exemplo disso é o caso do executivo Luiz Carlos Trielli, de 43 anos. Ele se matriculou na Runner há mais de 20 anos, quando a rede estava distante de ter o porte que tem hoje. Apesar dessa longa relação, a ideia de trabalhar na academia nunca havia passado por sua cabeça, até o dia em que foi convidado a assumir a diretoria de mar keting. "Levei um susto", afirma.

Com experiência no comando do departamento de marketing de grandes companhias de varejo, como Mappin e Habib’s, Luiz Carlos é o responsável por criar as estratégias de divulgação da rede, tanto entre os clientes como entre os funcionários.

“Existem muitas similaridades entre o marketing voltado ao setor de fitness e o do varejo em geral. Mas a necessidade de fazer com que o cliente renove os planos de tempos em tempos é um elemento diferente, que traz um grande desafio”, diz ele, que está há um ano no cargo.

Já o Grupo Bodytech, líder de faturamento no mercado brasileiro de academias, contratou em 2011 Flavia da Justa, de 48 anos, ex- iretora de marketing da Oi, para comandar seu departamento de marketing e ajudar na construção de sua segunda marca, a Fórmula. “Acredito que minha experiência com marcas em mercados maiores, como telecomunicações, é importante neste momento, em que o setor de ftness está amadurecendo”, diz. 

Expansão robusta

Contar com profissionais como Luiz Carlos e Flavia é especialmente importante para as redes de academias num momento em que os principais players têm feito investimentos robustos na expansão. “Hoje, temos uma competição maior, o que cria uma demanda por profissionais muito diferentes dos que eram demandados nas academias de bairro”, diz Dilson Mendes, CEO da Runner.


Apenas nos últimos três anos, o número de academias no Brasil saltou de 15 500 para 23 400 unidades. Nem todo esse crescimento se deve às grandes redes, é lógico, mas elas contribuíram muito para o fortalecimento do mercado.

“Hoje, por menor que seja o investidor, ele já abre sua academia pensando em montar, pelo menos, uma pequena rede naquela região”, afirma Paulo Akiau, presidente da Body Systems, que presta serviços para o mercado fitness.

Novos cargos

Como o aquecimento do setor é relativamente recente, ainda não há muitos especialistas em áreas estratégicas, como finanças, marketing e tecnologia, formados dentro do mercado fitness. Daí a necessidade de buscar esses profissionais em outras indústrias.

"Existe uma carência desses executivos", afirma Dilson, da Runner. A criação desse universo corporativo nos bastidores das academias se deve ao surgimento de demandas que, até pouco tempo atrás, não faziam parte desses centros.

Foi o que aconteceu na rede Bio Ritmo, que no ano passado viu sua segunda marca de academias, a Smart Fit, acelerar seu ritmo de expansão. Como resultado, a rede já contabiliza 90 unidades e um parque de equipamentos — como esteiras ergométricas e aparelhos de musculação — que cresce exponencialmente. 

Para administrar a compra, a entrega e a manutenção desses equipamentos, a empresa precisou contratar um profssional para ocupar o cargo de diretor de Supply Chain. Com forte experiência na indústria de equipamentos para academias, o executivo Thiago Somero, de 37 anos, foi o escolhido para a função que, embora nova no Brasil, é muito comum nas grandes academias americanas.

A executiva Natacha Togashi, de 42 anos, atual gerente-geral de uma das unidades das academias Gustavo Borges, também é recém-chegada ao mercado ftness. Antes da academia, na qual está há quatro meses, Natacha trabalhou por 20 anos no laboratório Fleury, onde chegou a ser coordenadora de uma das unidades de negócio.

Para ela, em razão de a profssionalização do setor ser um evento muito recente, é preciso desenvolver processos ainda inexistentes, oque representa um desafo.  "É um mercado em que há muito a ser feito. Tenho certeza que muitos outros profssionais vão migrar para esse novo mundo", diz.

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