Dizer a verdade, toda verdade da empresa e do funcionário?
São Paulo - A verdade é um fator que contribui para a construção de uma sociedade justa. Ao contrário da mentira, que destrói a convivência social. Contudo, dizer a verdade não significa ser sempre obrigado a dizer toda a verdade — a todas as pessoas. Posso achar uma pessoa feia mas, se tiver um mínimo de […]
Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2013 às 18h38.
São Paulo - A verdade é um fator que contribui para a construção de uma sociedade justa. Ao contrário da mentira, que destrói a convivência social. Contudo, dizer a verdade não significa ser sempre obrigado a dizer toda a verdade — a todas as pessoas. Posso achar uma pessoa feia mas, se tiver um mínimo de boa educação, não lhe direi isso, e ninguém pensará que estou agindo mal.
Mentir é se exprimir, com palavras ou ações, de maneira intencionalmente falsa com relação ao que se pensa, a fim de induzir ao erro alguém que tem o direito de conhecer a verdade. Nas relações trabalhistas, ocorrem várias situações nas quais se coloca a pergunta: até que ponto a empresa tem o direito de saber a verdade sobre seus funcionários? Ou o contrário: até que ponto os funcionários têm o direito de conhecer a verdade sobre a situação da companhia?
Para determinar em cada caso o que deve ser dito ou não, é preciso levar em consideração o direito que o interlocutor tem de conhecer, ou não, a verdade. E, para isso, é preciso analisar o contexto, os agentes e o assunto.
Há casos, porém, em que, mesmo escondendo-se a veracidade, ninguém pode sentir-se enganado. Todos sabem que na redação de currículos, por exemplo, nas entrevistas de emprego ou ao recomendar um colega, tendemos a exagerar o que dizemos. É uma forma de ocultar a verdade, mas ninguém pode se sentir enganado por isso.
Outros casos são mais complexos. Por exemplo, um conflito entre o direito à privacidade das pessoas e o direito da empresa de conhecer casos relevantes para o posto de trabalho que o candidato galga. Alguns dados pessoais a organização não tem o direito de conhecer, mas outros, sim, pois afetam diretamente o desempenho do funcionário.
A verdade e a confiança estão relacionadas. A falta de confiança provoca o medo — e o medo leva ao silêncio ou à mentira. Ao contrário, quando há confiança, dizemos as coisas claramente, diretamente, sem enganar. A verdade gera confiança — e um ambiente confiável favorece o diálogo verdadeiro. Também quando há confiança, em momentos de dificuldade as empresas se atrevem a dizer a verdade a seus funcionários, pois sabem que eles não fugirão. A mentira dilui. A verdade, em troca, cria compromissos.
Joan Fontrodona é doutor em filosofia e mestre em administração pela Universidade de Navarra, professor de ética empresarial, diretor do departamento de ética empresarial e diretor acadêmico do Center for Business in Society, do Iese Business School
São Paulo - A verdade é um fator que contribui para a construção de uma sociedade justa. Ao contrário da mentira, que destrói a convivência social. Contudo, dizer a verdade não significa ser sempre obrigado a dizer toda a verdade — a todas as pessoas. Posso achar uma pessoa feia mas, se tiver um mínimo de boa educação, não lhe direi isso, e ninguém pensará que estou agindo mal.
Mentir é se exprimir, com palavras ou ações, de maneira intencionalmente falsa com relação ao que se pensa, a fim de induzir ao erro alguém que tem o direito de conhecer a verdade. Nas relações trabalhistas, ocorrem várias situações nas quais se coloca a pergunta: até que ponto a empresa tem o direito de saber a verdade sobre seus funcionários? Ou o contrário: até que ponto os funcionários têm o direito de conhecer a verdade sobre a situação da companhia?
Para determinar em cada caso o que deve ser dito ou não, é preciso levar em consideração o direito que o interlocutor tem de conhecer, ou não, a verdade. E, para isso, é preciso analisar o contexto, os agentes e o assunto.
Há casos, porém, em que, mesmo escondendo-se a veracidade, ninguém pode sentir-se enganado. Todos sabem que na redação de currículos, por exemplo, nas entrevistas de emprego ou ao recomendar um colega, tendemos a exagerar o que dizemos. É uma forma de ocultar a verdade, mas ninguém pode se sentir enganado por isso.
Outros casos são mais complexos. Por exemplo, um conflito entre o direito à privacidade das pessoas e o direito da empresa de conhecer casos relevantes para o posto de trabalho que o candidato galga. Alguns dados pessoais a organização não tem o direito de conhecer, mas outros, sim, pois afetam diretamente o desempenho do funcionário.
A verdade e a confiança estão relacionadas. A falta de confiança provoca o medo — e o medo leva ao silêncio ou à mentira. Ao contrário, quando há confiança, dizemos as coisas claramente, diretamente, sem enganar. A verdade gera confiança — e um ambiente confiável favorece o diálogo verdadeiro. Também quando há confiança, em momentos de dificuldade as empresas se atrevem a dizer a verdade a seus funcionários, pois sabem que eles não fugirão. A mentira dilui. A verdade, em troca, cria compromissos.
Joan Fontrodona é doutor em filosofia e mestre em administração pela Universidade de Navarra, professor de ética empresarial, diretor do departamento de ética empresarial e diretor acadêmico do Center for Business in Society, do Iese Business School