"Desistir nunca, persistir sempre" é o lema de Isaquias
Conheça a carreira de Isaquias Queiroz, o atleta baiano de 22 anos que se tornou o maior medalhista brasileiro em uma mesma edição das Olimpíadas
Da Redação
Publicado em 25 de agosto de 2016 às 11h22.
São Paulo - Em Ubaitaba, no interior da Bahia , a febre é a canoagem de velocidade. Numa quadra de escola, um telão instalado pela prefeitura era palco de festas e fogos de artifício toda vez que o medalhista olímpico Isaquias Queiroz – que nasceu ali em 1994 – aparecia remando na Lagoa Rodrigo de Freitas.
Foi lá que, durante a final de modalidade nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, ele conquistou a medalha de prata ao lado de Erlon de Souza. A dupla, que liderou a competição até os 750 metros em um percurso total de um quilômetro, ficou atrás apenas dos experientes atletas alemães.
No dia 16, quando veio sua primeira medalha da Rio 2016 (prata, na categoria individual de 1.000 metros), o Brasil havia despertado para um novo ídolo e pôs-se, como Ubaitaba, a assisti-lo avidamente: nos próximos dias, ele ainda conquistaria o bronze na categoria de 200 metros.
Com a prata deste sábado, fez história ao se tornar o primeiro atleta brasileiro a conquistar três pódios numa mesma edição olímpica. No entanto, por trás da excelência demonstrada na competição e que levou a euforia aos torcedores brasileiros, existe uma história marcada por valores fortes e sonhos ambiciosos.
Trajetória
Do tupi “cidade da canoa”, Ubaitaba é banhada pelo Rio das Contas. Lá, desde pequenos, os locais aprendem a remar para atravessar as águas. Isaquias não era diferente. Mas, ainda cedo, aos 11 anos, começou a treinar a técnica visando melhoria contínua e aprimoração competitiva, por meio do programa Segundo Tempo.
“Sou grato pelo projeto social em que comecei e que me revelou”, disse. “O esporte pode mudar a vida das pessoas. Que o governo veja isso e que meu resultado e de outros possa abrir os olhos da sociedade.” O programa, apoiado pelo Ministério do Esporte, foi descontinuado em sua cidade. Quando decidiu se profissionalizar como atleta, mudou-se para São Paulo e tornou-se parte da seleção permanente, que hoje treina em Minas Gerais.
Foi para o treinador do time masculino, o espanhol Jesus Morlán, que ele dedicou sua primeira vitória olímpica – e a primeira da história do Brasil na canoagem – no Rio de Janeiro. “Em 2012, eu tinha sumido do mapa da canoagem”, explicou. “Podem falar que eu tenho talento, isso e aquilo, mas sem um bom cara para lapidar o diamante você não chega ao ponto certo para ser reconhecido e, sem ele, eu não teria ganhado essa medalha.”
O reconhecimento da equipe é característica marcante no atleta. “Não é só mérito meu, é da minha equipe toda, que está de parabéns”, fez questão de declarar à imprensa no término da prova de sábado.
Superação
O esporte, que se tornou olímpico em 1936, em Berlim, é cheio de meandros. Não há costume de marcar recordes de velocidade, por exemplo, já que fatores como vento e profundidade das águas diferem muito e, não raro, milissegundos são a diferença entre a derrota e a vitória.
Nas Olimpíadas do Rio, Isaquias competiu em três de seis modalidades na canoa. Subiu ao pódio em todas, conquistando o resultado histórico para o país. “Quando você tem chance de medalha, você imagina tudo”, disse ele, em maio. “Quero gravar meu nome no Brasil.” Sua ambição não era à toa, mas calcada em anos de trabalho, esforço, disciplina de treinos e constante superação.
Isaquias já era uma aposta entre especialistas e vinha acumulando medalhas internacionais havia algum tempo. Trouxe, inclusive, dois ouros e uma prata dos Jogos Panamericanos de Toronto, em 2015. A surpresa foi o número de vitórias no Rio: ele era favorito na modalidade em dupla, com o também baiano Erlon de Souza, e acabou subindo ao pódio em todas as provas de que participou.
E foi assim, menos de uma semana após colocar a canoagem no mapa, que Isaquias fez muita gente levantar no sábado de manhã para torcer pelo atleta e por sua mãe, presença marcante na arquibancada. As imagens de seus abraços após as corridas, assim como as comemorações de Isaquias dentro da água, conquistaram o país. O lema do canoísta é simples, mas pungente. “Desistir nunca, persistir sempre”, declarou. “Essa medalha é para todos os brasileiros que nunca desistiram dos seus sonhos.”
Objetivos
Como é comum entre esportistas, o caminho até ali teve dificuldades. Na juventude, Isaquias passou por acidentes sérios e chegou a perdeu um rim ao cair de uma árvore, aos 10 anos. Manteve o bom humor.
“Nunca deixei ninguém ganhar de mim para depois falar: ‘Eu perdi porque só tenho um rim’”, falou. “Gosto de competir de igual pra igual. O ruim é quando uma pessoa perde para mim e diz: ‘Nossa, perdi para um cara que só tem um rim!’”
Para se preparar para as provas olímpicas, enfrentou uma rotina intensa: para cada semana de folga, eram oito de atividade. E pouco mudou depois que chegou ao Rio. Após comemorar sua primeira vitória, tirou centenas de selfies com os novos fãs e logo sumiu de vista. Precisava trabalhar. “Eu saio do pódio e treino no mesmo dia. Tenho de manter o ritmo”, explicou. “Como seria bom ir pra Bahia descansar, não é?”
Na página do Comitê Olímpico Brasileiro, atualizada antes de os jogos começarem, o canoísta escreveu que seus objetivos profissionais envolviam incentivar a canoagem brasileira e ser medalhista olímpico. “Agora sabem o que é canoagem e não somos o patinho feio do Brasil”, disse. As medalhas, claro, ele já tem. Dois de dois? Nada mal para começar um legado.
*Este artigo foi originalmente publicado peloNa Prática, portal de carreira da Fundação Estudar
São Paulo - Em Ubaitaba, no interior da Bahia , a febre é a canoagem de velocidade. Numa quadra de escola, um telão instalado pela prefeitura era palco de festas e fogos de artifício toda vez que o medalhista olímpico Isaquias Queiroz – que nasceu ali em 1994 – aparecia remando na Lagoa Rodrigo de Freitas.
Foi lá que, durante a final de modalidade nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, ele conquistou a medalha de prata ao lado de Erlon de Souza. A dupla, que liderou a competição até os 750 metros em um percurso total de um quilômetro, ficou atrás apenas dos experientes atletas alemães.
No dia 16, quando veio sua primeira medalha da Rio 2016 (prata, na categoria individual de 1.000 metros), o Brasil havia despertado para um novo ídolo e pôs-se, como Ubaitaba, a assisti-lo avidamente: nos próximos dias, ele ainda conquistaria o bronze na categoria de 200 metros.
Com a prata deste sábado, fez história ao se tornar o primeiro atleta brasileiro a conquistar três pódios numa mesma edição olímpica. No entanto, por trás da excelência demonstrada na competição e que levou a euforia aos torcedores brasileiros, existe uma história marcada por valores fortes e sonhos ambiciosos.
Trajetória
Do tupi “cidade da canoa”, Ubaitaba é banhada pelo Rio das Contas. Lá, desde pequenos, os locais aprendem a remar para atravessar as águas. Isaquias não era diferente. Mas, ainda cedo, aos 11 anos, começou a treinar a técnica visando melhoria contínua e aprimoração competitiva, por meio do programa Segundo Tempo.
“Sou grato pelo projeto social em que comecei e que me revelou”, disse. “O esporte pode mudar a vida das pessoas. Que o governo veja isso e que meu resultado e de outros possa abrir os olhos da sociedade.” O programa, apoiado pelo Ministério do Esporte, foi descontinuado em sua cidade. Quando decidiu se profissionalizar como atleta, mudou-se para São Paulo e tornou-se parte da seleção permanente, que hoje treina em Minas Gerais.
Foi para o treinador do time masculino, o espanhol Jesus Morlán, que ele dedicou sua primeira vitória olímpica – e a primeira da história do Brasil na canoagem – no Rio de Janeiro. “Em 2012, eu tinha sumido do mapa da canoagem”, explicou. “Podem falar que eu tenho talento, isso e aquilo, mas sem um bom cara para lapidar o diamante você não chega ao ponto certo para ser reconhecido e, sem ele, eu não teria ganhado essa medalha.”
O reconhecimento da equipe é característica marcante no atleta. “Não é só mérito meu, é da minha equipe toda, que está de parabéns”, fez questão de declarar à imprensa no término da prova de sábado.
Superação
O esporte, que se tornou olímpico em 1936, em Berlim, é cheio de meandros. Não há costume de marcar recordes de velocidade, por exemplo, já que fatores como vento e profundidade das águas diferem muito e, não raro, milissegundos são a diferença entre a derrota e a vitória.
Nas Olimpíadas do Rio, Isaquias competiu em três de seis modalidades na canoa. Subiu ao pódio em todas, conquistando o resultado histórico para o país. “Quando você tem chance de medalha, você imagina tudo”, disse ele, em maio. “Quero gravar meu nome no Brasil.” Sua ambição não era à toa, mas calcada em anos de trabalho, esforço, disciplina de treinos e constante superação.
Isaquias já era uma aposta entre especialistas e vinha acumulando medalhas internacionais havia algum tempo. Trouxe, inclusive, dois ouros e uma prata dos Jogos Panamericanos de Toronto, em 2015. A surpresa foi o número de vitórias no Rio: ele era favorito na modalidade em dupla, com o também baiano Erlon de Souza, e acabou subindo ao pódio em todas as provas de que participou.
E foi assim, menos de uma semana após colocar a canoagem no mapa, que Isaquias fez muita gente levantar no sábado de manhã para torcer pelo atleta e por sua mãe, presença marcante na arquibancada. As imagens de seus abraços após as corridas, assim como as comemorações de Isaquias dentro da água, conquistaram o país. O lema do canoísta é simples, mas pungente. “Desistir nunca, persistir sempre”, declarou. “Essa medalha é para todos os brasileiros que nunca desistiram dos seus sonhos.”
Objetivos
Como é comum entre esportistas, o caminho até ali teve dificuldades. Na juventude, Isaquias passou por acidentes sérios e chegou a perdeu um rim ao cair de uma árvore, aos 10 anos. Manteve o bom humor.
“Nunca deixei ninguém ganhar de mim para depois falar: ‘Eu perdi porque só tenho um rim’”, falou. “Gosto de competir de igual pra igual. O ruim é quando uma pessoa perde para mim e diz: ‘Nossa, perdi para um cara que só tem um rim!’”
Para se preparar para as provas olímpicas, enfrentou uma rotina intensa: para cada semana de folga, eram oito de atividade. E pouco mudou depois que chegou ao Rio. Após comemorar sua primeira vitória, tirou centenas de selfies com os novos fãs e logo sumiu de vista. Precisava trabalhar. “Eu saio do pódio e treino no mesmo dia. Tenho de manter o ritmo”, explicou. “Como seria bom ir pra Bahia descansar, não é?”
Na página do Comitê Olímpico Brasileiro, atualizada antes de os jogos começarem, o canoísta escreveu que seus objetivos profissionais envolviam incentivar a canoagem brasileira e ser medalhista olímpico. “Agora sabem o que é canoagem e não somos o patinho feio do Brasil”, disse. As medalhas, claro, ele já tem. Dois de dois? Nada mal para começar um legado.
*Este artigo foi originalmente publicado peloNa Prática, portal de carreira da Fundação Estudar