Carreira

Negócio agora vai de pai para filha

Duas executivas contam como saíram dos bastidores para assumir posições importantes nos negócios da família

Mariana Caltabiano, diretora de marketing da Caltabiano (Joene Knaus/EXAME.com)

Mariana Caltabiano, diretora de marketing da Caltabiano (Joene Knaus/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo - Se no passado a sucessão em empresas familiares estava restrita ao nascimento do primeiro herdeiro, hoje as mulheres brigam pelo mesmo espaço que já foi dos primogênitos. Incluídas na linha sucessória dos negócios, elas investem na carreira e mostram que são importantes, sim, nas tomadas de decisão da família.

“Não há mais dúvida de que elas são fundamentais em todos os setores. Elas têm mais sensibilidade para lidar com problemas do dia a dia e isso é de muito valor no ambiente de trabalho”, diz Amy Schuman, coautora de A Woman’s Place: The Crucial Roles of Women in Family Business (“O lugar da mulher: os papéis cruciais em empresas familiares”, ainda não lançado no Brasil).

Estudos recentes mostram que a quantidade de filhas e netas em cargos de liderança cresceu nas organizações de família em todo o mundo. De acordo com o instituto americano Family Firm, o número quintuplicou desde 1997 e deve crescer cada vez mais. Especialistas afirmam que as mulheres têm mais competência para lidar com possíveis divergências familiares.

“Este é um movimento natural da sociedade. Mais preparadas, as mulheres cada vez mais ocupam os cargos altos nas empresas, sendo elas familiares ou não. Com os pais mais jovens, isso tende a acontecer com mais naturalidade ainda. Hoje, a preferência é pelo mais competente, independentemente do sexo”, diz Eliana Dutra, coach e proprietária da Pro-Fit, do Rio de Janeiro.

A administradora paulista Luciana Salton, 30 anos, foi a primeira do clã a ocupar um cargo na diretoria da empresa da família, fundada em 1910. Para chegar lá, ela investiu nos estudos — fez pós-graduação em administração com ênfase em marketing pela Fundação Getulio Vargas — e antes deu duro em outras empresas.

Trabalhou como caixa de um banco e analista de marketing de uma multinacional do ramo farmacêutico. “Eu sou muito agitada e adoro trabalhar. Quando era adolescente, nas férias costumava trabalhar na lojinha de vinhos da Salton em São Paulo, mas nunca imaginei que que iria ser a primeira mulher a ter um cargo na diretoria”, diz a executiva. Foi por insistência do pai, Angelo, que Luciana foi bater ponto na empresa da família, há cinco anos.

“Meu pai sempre respeitou minha decisão de ter experiências fora da Salton e nunca me forçou a trabalhar aqui. Mas ele acompanhava meu desempenho por onde passei e, num determinado momento, achou que meu perfil só somaria para o crescimento da nossa empresa”, diz Luciana. A Salton é líder na comercialização de espumantes e responsável por alguns dos vinhos mais premiados do país. 


A executiva confessa que nos primeiros dias de trabalho ficou com receio desse movimento de carreira. “Senti uma ponta de insegurança e apreensão de imaginar que trabalharia para sempre na Salton, mas não me arrependo dessa mudança. Gosto demais do que eu faço e aprendo todos os dias”, diz ela.

Em São Paulo, Luciana comanda uma equipe de oito funcionários das áreas de marketing e suporte de vendas e supervisiona outras áreas como a de compras, RH, financeira, expedição e controladoria. Ela encontra a mãe e a irmã todos os dias na Salton e evitam conversar sobre assuntos pessoais. “Depois da morte do meu pai [vítima de infarto em 2009], senti uma responsabilidade maior. Quero contribuir para que essa história de mais de 100 anos de sucesso continue por muitos e muitos anos”, diz.

A publicitária Mariana Caltabiano, 40 anos, pensa da mesma forma. Ela é diretora de marketing de uma das maiores redes de venda de automóveis do Brasil, que tem o seu sobrenome, mas por onde pouco circulava até o começo do ano passado. Em 2007, os dois irmãos de Mariana, Pedro Augusto e João Francisco, morreram no acidente do voo 3054 da TAM.

O patriarca e então aposentado Bruno voltou e reassumiu a presidência, mas morreu vítima de problemas cardíacos, um ano e meio depois. “Foi um período muito difícil para todos. Só topei assumir o cargo para atender a um pedido da minha mãe”, conta a executiva. Até então, Mariana tinha investido seu tempo e dedicação aos estudos bem longe dos negócios da família. Além de publicidade, ela estudou cinema em Nova York, trabalhou em agências e é autora de livros, séries infantis e do filme VIPs, que conta a história do falsário que se passou por um herdeiro dos proprietários da companhia aérea Gol.

“Acabei descobrindo na empresa da família um mundo desconhecido e desafiador para mim. Até pouco tempo atrás, poderia dizer que era a pessoa que menos entendia de carros no mundo”, diz Mariana, que começou a pesquisar sobre o assunto e hoje participa das reuniões dos acionistas.

Além do marketing de 26 revendas em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, ela encontra tempo para continuar tocando a Catalbiano Criações e todos os seus projetos paralelos, como o desenho animado Gui & Estopa, que entrará na nova temporada no canal Cartoon Network. “Essas são as minhas grandes paixões e não poderia abandoná-las.”

Acompanhe tudo sobre:Edição 174EmpresasEmpresas familiaresgestao-de-negociosHerdeirosMulheres

Mais de Carreira

Concurso dos Correios: gabaritos oficiais são divulgados; acesse

Quer trabalhar de casa em 2025? Veja as vagas home office disponíveis nesta semana

Com salário médio de 4 mil euros, esse país europeu quer atrair brasileiros – veja perfil requerido

O que os líderes devem saber sobre a sustentabilidade?