COVID-19: dupla jornada aumenta vulnerabilidade das mulheres, diz ONU
Cerca de 70% das equipes de trabalho em saúde são formadas por mulheres, que também realizam a maior parte dos afazeres domésticos
Rodrigo Caetano
Publicado em 23 de março de 2020 às 17h26.
Última atualização em 23 de março de 2020 às 17h29.
A pandemia causada pelo novo coronavírus pode acentuar os efeitos da desigualdade de gênero e piorar a vida das mulheres. O alerta foi dado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), organismo da ONU responsável por questões populacionais.
Segundo a UNFPA, as mulheres estão mais expostas ao COVID-19 por estarem na linha de frente no combate à epidemia. Cerca de 70% das equipes de trabalho em saúde e serviço social são compostas por profissionais do sexo feminino. A conta inclui os trabalhos de enfermeiras, parteiras e trabalhadoras de saúde da comunidade.
O fechamento de escolas é um fator adicional de preocupação, pois o trabalho doméstico recai, tipicamente, sobre as mulheres. Dados da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, apontam que a taxa de realização de trabalhos domésticos, em 2018, era de 92,2% para as mulheres e 78,2% para os homens. Em média, as mulheres dedicam 21,3 horas para essas atividades, enquanto os homens dedicam 10,9 horas.
No Brasil, existem cerca de 35 milhões de lares chefiados por mulheres, ainda segundo o IBGE. “Hoje, a pandemia pelo coronavírus poderia causar um impacto significativo nos meios de subsistência das mulheres”, afirma a UNFPA.
O estresse provocado pelo confinamento também pode aumentar o risco de abuso doméstico e outras formas de violência baseadas em gênero. A orientação da UNFPA é que os formuladores de políticas públicas incluam a perspectiva das mulheres no planejamento e na tomada de decisões sobre a pandemia.