Como ter assunto com Bill Gates
Quando uma das mentes mais brilhantes da atualidade faz recomendações de leitura, você tem que parar para ler
Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2017 às 14h57.
Última atualização em 26 de maio de 2017 às 15h13.
Se você não é muito bom de puxar conversa com estranhos, este post é para você.
Hoje é mais um dia comum em que você pega o elevador do seu prédio ou do lugar onde trabalha. De repente, a caixa metálica para em um dos andares.
Bill Gates entra, ajeita os óculos quadrados sobre o longo nariz adunco, dá seu sorriso de filantropo multimilionário. Você é a única pessoa ali e ele sorriu na sua direção – um claro indício de que está permitido puxar papo.
É isso mesmo, uma das mentes mais brilhantes da atualidade está abrindo brecha para que você inicie uma conversa. E você, o que faz? Fala da chuva, do Temer, do aumento do condomínio? Não. Fala sobre os livros que ele sugeriu no Blog Gates Notes.
Hipóteses absurdas à parte, o fato é que o criador da Microsoft é um leitor ávido (já falamos por aqui sobre como ler mais ), suas recomendações literárias já viraram tradição e recentemente ele divulgou uma lista de leituras perfeitas para o verão – que começa em pouco menos de um mês no hemisfério norte.
Mas não desista pela dessincronia de estações: não são livros que precisam necessariamente ser lidos à sombra de um coqueiro com os pés na areia. Se só houver meias, mantas e lareira, a leitura não será prejudicada.
A premissa de Bill (será que posso chamá-lo assim?) é que o verão é uma época para escapar para a praia, para as montanhas ou para o universo de um bom livro.
“Os livros da lista de leitura de verão deste ano me empurraram para fora das minhas próprias experiências, e eu aprendi coisas que lançam a luz nova em como nossas vivências nos formam e onde a humanidade pode ser atingida (..)
Espero que você descubra que os outros fazem você pensar profundamente sobre o que significa realmente se conectar com outras pessoas e ter propósitos na vida”, escreveu ele.
Bom, vamos ao que interessa:
Homo deus: uma breve história do amanhã, Yuval Noah Harari
Se o israelense Yuval Noah Harari já tinha acertado no best-seller internacional Sapiens: Uma breve história da humanidade, traduzido em 40 línguas, o mais recente, Homo deus: uma breve história do amanhã, leva a ideia antes exposta de que o ser humano é um acidente para uma perspectiva ainda mais ousada.
Nesta obra, Harari explica como nossa necessidade de controlar tudo o que nos cerca está levando a humanidade para uma realidade antes só imaginada em ficções científicas ou fantasias religiosas.
O autor defende que, em um futuro próximo, com os avanços tecnológicos e, principalmente, da medicina, os limites da vida serão paulatinamente ampliados rumo à imortalidade. Um livro desafiador e bastante consistente sobre como a tecnologia pode driblar a falência humana – “muito black mirror”.
Born a Crime, Trevor Noah
A autobiografia do comediante sul-africano e apresentador do programa The Daily Show reconta histórias sobre sua infância na África do Sul pós-apartheid.
O título que, em português, significa “nascido o crime” tem tudo a ver com o contexto histórico em que Trevor cresce: ele é filho de um pai branco e sua mãe é negra, e por causa disso teve dificuldade em se adaptar nos esquemas raciais impostos na época.
Born a crime foi publicado no final do ano passado e logo encabeçou a lista de mais vendidos do The New York Times – onde também foi eleito um dos melhores livros do ano.
The Heart, Maylis de Kerangal
Talvez um dos livros mais filosóficas e emocionantes desta lista, The Heart (“O Coração”, ainda sem edição em português) é a síntese do que a existência significa quando a vida é um corpo em uma sala de cirurgia.
A narrativa se desenrola em 24 horas, após um acidente gravíssimo de carro em que uma das vítimas chega ao hospital com morte cerebral – e seu coração é doado para uma mulher prestes a morrer. A partir daí, o livro examina as reações de todas as pessoas envolvidas no transplante.
A escritora é a francesa Maylis de Kerangal, também autora de Mend the Living (“Repare os vivos”), que ganhou o mais recente Wellcome Book Prize, Prêmio Anual de Literatura da Inglaterra que celebra obras literárias de saúde e medicina.
Hillbilly Elegy, J.D. Vance
O livro que ganhou força durante a eleição presidencial americana do ano passado conta a história da infância pobre de Vance e a luta da classe operária em uma cidade decadente do interior do estado de Ohio para não se tornar invisível.
A narrativa mostra a falência dos valores da região diante do capitalismo e a ruína da família de Vance.
Com crueza de detalhes, ele narra como foi sobreviver em meio ao abuso, a violência, o alcoolismo e o abuso de drogas em sua casa, e conseguir cursar direito na Universidade de Yale.
A obra, que ainda não chegou ao Brasil, entrou na lista de mais vendidos do The New York Times em agosto de 2016 e janeiro deste ano.
A Full Life, Jimmy Carter
Com 90 anos, o ex-presidente americano e vencedor do Nobel da Paz fala francamente sobre sua trajetória militar, sua vida na presidência dos Estados Unidos, o relacionamento com a família e a importância da fé.
No livro A Full Life (algo como “Uma Vida Repleta”, outro que também não chegou ao Brasil), o democrata faz reflexões sobre espiritualidade, tolerância, decisões que hoje não tomaria, coisas que faria diferente e outras histórias – como as vezes em que quase morreu na Marinha e a influência da mãe na sua vida.
E aí, preparado para encarar um elevador com Bill Gates? Só falta ele aparecer.
A única má notícia dessa lista é que desses livros, apenas Homo deus foi publicado aqui no Brasil. Quem sabe até o nosso próximo verão.