Como fazer seu dinheiro render agora
Está mais caro comprar hoje do que há seis anos, mas isso não é motivo para suspender o consumo. A dica é rever gastos e buscar bons descontos, para impedir que a inflação corroa seu salário
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2013 às 13h24.
São Paulo - A <strong><a href="https://exame.com/noticias-sobre/inflacao">inflação</a></strong> no Brasil atingiu, no ano passado, a maior alta dos últimos seis anos. A taxa de 5,91% não se compara aos índices astronômicos de duas décadas atrás, que chegavam a mais de 70% ao mês. No entanto, os preços ficaram acima do esperado, superaram a meta do <strong><a href="https://exame.com/noticias-sobre/banco-central">Banco Central</a></strong> (BC), que era de 4,5%, e começaram a corroer parte da renda da população. </p>
Os alimentos aumentaram 10,39%. Feijão, carne, leite e açúcar foram os produtos que mais encareceram. Já o setor de serviços, que vai de cabeleireiro a consultas médicas, respondeu por quase 30% da subida da inflação, obrigando os consumidores a rever gastos e tirar a calculadora da gaveta.
“Inflação boa é aquela que passa despercebida e não entra na conta das pessoas”, define Maílson da Nóbrega, economista, ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria Integrada, em São Paulo .
O impacto da inflação varia de acordo com os hábitos de cada consumidor e pode ser diminuído se você souber gerir bem seu orçamento, se identificar o que pesa mais no dia a dia e se fizer as mudanças necessárias. “Cada família tem a sua própria inflação, e o primeiro passo para combatê-la é ter consciência da evolução das suas despesas”, diz Gustavo Cerbasi, consultor financeiro, de São Paulo.
Nascido em uma família simples, não é de hoje que o publicitário Alexandre Corazza, de 32 anos, gerente da importadora VCT, em São Paulo, sabe como driblar os preços altos. Por meio dos sites de compras coletivas, ele consegue descontos de até 70% em restaurantes.
Em casa, já trocou a carne mais cara por frango, peixe e linguiça. Com a economia, ele consegue aplicar todo mês 30% do salário em ações, já pagou um MBA, montou um pequeno negócio e planeja financiar um apartamento. Alternativas para economizar não faltam para quem está atento aos preços. A internet está cheia delas.
Os sites de compras coletivas, como Peixe Urbano (www.peixeurbano.com.br) e QPechincha (www.qpechincha.com.br), são uma boa opção para quem quer pagar menos, já que os descontos chegam a 70%. No site de pesquisa de preços Buscapé (www.buscape.com.br), a diferença de valor entre produtos idênticos também pode chegar a 70%.
As maiores discrepâncias estão em itens semi-industrializados, como vinhos, móveis, brinquedos, roupas e artigos para bebê. Os eletrodomésticos, que subiram 4,63% , variam até 30%. “Quanto mais tempo o produto tem de mercado, maior a variação. Se for um lançamento, não passa de 5%”, diz Rodrigo Borer, diretor de operações do Buscapé.
Além de pesquisar, é bom pensar seriamente em pagar à vista. Uma das consequências da inflação é a elevação da taxa de juros, que serve para encarecer os financiamentos. Em janeiro, o BC subiu os juros em 0,5 ponto percentual — de 10,75%para 11,25% ao ano. A ideia é segurar o crédito para tentar diminuir o ritmo do consumo dos brasileiros e, assim, conter o aumento dos preços.
Para o consumidor, as prestações ficarão mais difíceis de caber no bolso. “É hora de diminuir o endividamento. Não existe parcelamento sem juros, eles estão embutidos nas prestações”, diz Márcia Pedroza, professora de macroeconomia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Por isso, tente economizar para pagar pelo produto no ato e batalhe por um bom desconto.
Subiu por quê?
A alta dos preços surgiu na vida das pessoas porque os brasileiros estão comprando mais e também pela falta de produtos no mercado. Lá fora, problemas climáticos em países produtores de commodities agrícolas tiveram impacto direto no preço dos alimentos. Além disso, a crescente demanda dos asiáticos por produtos agrícolas contribuíram para elevar os preços no mundo todo.
Por aqui, a expansão do emprego e da renda estimulou o consumo, o que fez com que os aumentos se espalhassem por diversos produtos e serviços. Cerca de 60% dos itens pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram alta em 2010. Enquanto isso, o desemprego caiu para 5,7% em novembro, o menor nível desde 2002, e a renda média do brasileiro aumentou cerca de 7% no ano.
“Em torno de um quarto da população brasileira dobrou seu poder aquisitivo e está comprando mais carne, fazendo financiamentos de carro, imóvel e eletrodomésticos”, diz Mauro Calil, consultor do Centro de Estudos e Formação do Patrimônio Calil & Calil, em São Paulo.
Como esse cenário não deve se alterar neste ano, os preços continuarão a subir nos próximos meses. “Além disso, a inflação de 2010 vai realimentar a de 2011 por causa da indexação de vários serviços, como aluguel, condomínio, escola e serviços médicos”, avalia Tatiana Pinheiro, economista do Grupo Santander, em São Paulo.
É hora, portanto, de proteger seu dinheiro. Mesmo quem teve aumento de salário acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial usado pelo Banco Central para medir a inflação, deve ficar atento para preservar integralmente esse ganho.
Transporte
Saiba como baixar o custo com locomoção
O s transportes subiram 2,41% em 2010, uma das menores altas no ano. No entanto, como em 2012 haverá eleições municipais, neste ano o setor deve ter reajustes acima da inflação, principalmente no transporte público. Em São Paulo, as tarifas de ônibus e de táxi subiram em janeiro 17,4% e 18%, respectivamente. O preço dos carros deve aumentar 1,57% em 2011. Pode parecer pouco, mas os brasileiros já pagam caro por um automóvel.
Segundo o professor de finanças Ricardo Torres, da Brazilian Business School (BBS), um Citroën C3, que no Brasil não sai por menos de 39 000 reais, custa 41% mais barato na Inglaterra e 30% menos nos Estados Unidos. Sem falar que o modelo vendido por aqui tem design antigo e menos recursos tecnológicos.
Culpa dos pesados impostos embutidos no produto. Mas, pior do que o preço, que pode ser financiado no longo prazo, é o custo para manter o automóvel. Um carro consome cerca de um quarto do seu valor a cada ano, somando gastos com manutenção, combustível, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), seguro, juros do financiamento e taxa de depreciação.
É um verdadeiro ralo de dinheiro, especialmente para quem tem dois veículos na garagem. Faça o teste. Deixe seu carro em casa durante uma semana e use um táxi. Depois, multiplique o valor gasto pelas 52 semanas do ano, descubra quanto gastaria em um ano e compare com as despesas do veículo.
Se a distância da sua casa até o trabalho não passar de 20 quilômetros, é bem provável que o táxi seja uma opção mais barata. Você também pode economizar alternando o deslocamento com ônibus, metrô, bicicleta ou pegando uma carona.
Desse jeito até dá para diminuir o estresse com o trânsito das grandes cidades, que muitas vezes se converte em baixa produtividade. “Ter um segundo carro, em 80% dos casos, não vale a pena”, diz o consultor Mauro Calil. Se você só tem um veículo e ainda quer diminuir custos, troque por um modelo mais simples, como fez a psicóloga Érica Oiwa, de 28 anos, que economizou 40% no valor do seguro.
Tenha atenção também na hora de estacionar. O preço dos estacionamentos subiu 10,65% no ano passado. Centralize seus compromissos em uma mesma região, ande a pé e mantenha um talão de estacionamento de rua no porta-luvas. Por fim, o carro pode ajudar a reduzir suas dívidas. Venda o seu, pague seus débitos e, se for o caso, financie um novo veículo popular (mais barato) com juro mais baixo.
Alimentação
Preços salgados exigem revisão do cardápio
O item alimentos e bebidas, que absorve quase um quarto do orçamento das famílias brasileiras, foi o que mais encareceu em 2010. Sozinho, ele respondeu por 40% da inflação.
O feijão, que teve duas colheitas perdidas no ano passado por causa do mau tempo, subiu 51,49%. O açúcar, também com quebra de safra e aumento da demanda externa, teve alta de 22%. Mas o produto que mais pesou no bolso do consumidor foi a carne. Um quilo de filé-mignon custa hoje 70% a mais do que no início do ano passado.
Os preços dos alimentos sofreram influências internas e externas. Lá fora, a pressão veio dos problemas climáticos em países produtores e da cotação elevada das commodities agrícolas. Aqui dentro, o que empurrou foi o consumo, aquecido pelo aumento da renda da população.
“Esses mesmos fatores continuarão a pressionar os alimentos este ano”, avalia Tatiana Pinheiro, economista do Grupo Santander, em São Paulo. Para reduzir o impacto das altas dos produtos, além de fazer pesquisa de preços, substitua produtos por outros mais baratos e evite as compras por impulso.
Uma pesquisa da Wharton School, da Universidade da Pennsylvania, nos Estados Unidos, aponta que cerca de 20% do que os consumidores colocam no carrinho não é planejado. Esse volume chega a 44% se a pessoa vai de carro ao supermercado. Experimente ir às compras a pé e leve sempre uma lista bem definida de produtos.
Permita-se extrapolar a quantidade apenas se encontrar algum item em promoção. Dependendo do desconto, vale a pena fazer um pequeno estoque. Por outro lado, leve o mínimo possível do que considerar caro ou até adie a compra, e evite produtos fora de época.
Ir a restaurantes é outra tentação que deve ser controlada. Em 2010, a refeição fora de casa subiu 10,62% e foi o segundo item de maior peso no IPCA, depois da carne. Os restaurantes de São Paulo cobram tão ou mais caro do que os de Nova York e Paris. Por isso, se não quiser derreter suas economias, contenha seus impulsos gastronômicos.
Saúde
Economize com cuidado
Com saúde, não se brinca. Este é um item em que se deve economizar com todo cuidado e parcimônia, para não colocar sua vida e a de seus familiares em risco. É recomendável, antes, tentar cortar os gastos em outras áreas, para garantir os cerca de 10% da renda que a saúde costuma consumir do orçamento.
No entanto, há maneiras de reduzir despesas sem comprometer a qualidade de produtos ou de serviços, que inevitavelmente encarecem todo ano por causa dos investimentos em pesquisa e tecnologia no setor. Por exemplo, nos remédios, que ficaram 3,37% mais caros em 2010.
A categoria que mais subiu foi a de analgésicos e antitérmicos: 5,22%. Neste ano, porém, o aumento deve ser ainda maior, uma vez que os preços são indexados pela inflação, que está em alta. Anualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define um teto máximo para os reajustes com base no IPCA.
Fazer pesquisa de preço ou dar aquela pechinchada nas farmácias é sempre legítimo e pode salvar alguns trocados valiosos. Os cartões de fidelidade das lojas também garantem um ou outro desconto.
Mas são os medicamentos genéricos que podem render a maior economia: até 70% por produto. Apenas certifique-se da reputação do fabricante.
Quanto ao plano de saúde, esse sim vem subindo bem acima da inflação nos últimos cinco anos e, em 2011, não será diferente. O valor do reajuste, definido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) com base nos custos das operadoras nos últimos 12 meses, deve ser influenciado pela inclusão, no ano passado, de novos procedimentos médicos obrigatórios. A previsão é de alta de 7,19%, mas já há convênios cobrando até 15% mais em novos contratos.
O melhor dos mundos é trabalhar em uma empresa que arque com os custos de um bom plano de saúde. Se não for seu caso, reunir um grupo de familiares e fechar um plano coletivo pode garantir um bom desconto. Evite os planos para pessoa jurídica, que podem se revelar um tiro no pé. Eles custam 50% menos, mas não oferecem a mesma segurança dos convênios médicos tradicionais porque as regras de defesa do consumidor não valem para eles.
Outra saída é pesquisar e mudar de operadora de saúde, uma vez que hoje muitas dispensam o período de carência para atrair novos clientes. Se isso não bastar, é hora de abrir mão da grife e do conforto que encarecem significativamente os planos.
Por um valor três vezes menor, um bom plano do tipo enfermaria pode oferecer tratamento médico de qualidade e a cobertura necessária em caso de acidentes.
“Para um casal jovem com filhos, vale a pena, mesmo tendo de pagar por serviços complementares, como o checkup anual”, avalia Gustavo Cerbasi. É sempre bom verificar se o plano escolhido oferece reembolso para consultas com profissionais não conveniados. Os atendimentos médico e dentário foram os itens de saúde que mais subiram no ano passado: 10,79% e 8,03%, respectivamente. Se você puder recuperar pelo menos parte desse dinheiro, aproveite.
Habitação
Negocie os reajustes nas prestações
O aumento de 7,42% no valor do aluguel foi o que mais pressionou as despesas com habitação no ano passado. A alta é consequência, principalmente, da explosão do mercado imobiliário, motivada pela crescente oferta de crédito no país. “Os preços dos imóveis, que servem de referência para o aluguel, subiram perto de 70%.
Hoje, um apartamento de um dormitório na cidade de São Paulo chega a custar 300 000 reais, o mesmo que um de três quartos em 2009”, compara Ricardo Torres, professor da Brazilian Business School (BBS). Além disso, os brasileiros, quando têm a oportunidade, não abrem mão de adquirir a casa própria, o que gera escassez de imóveis para alugar.
Para 2011, as expectativas também não são muito animadoras. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), que baliza a maioria dos contratos de aluguel, fechou o ano em 11,32%. “Há espaço para negociar um reajuste próximo da inflação.
Isso porque, em 2009, o IGP-M ficou negativo e assim mesmo houve aumento”, avalia Luiz Carlos Ewald, economista e professor da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro (FGV-RJ). Para quem está fechando um contrato de aluguel agora, vale propor a indexação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que oscila menos e tende a ser mais baixo no longo prazo. Já os solteiros têm a possibilidade de dividir os custos da moradia com os amigos.
O condomínio, por sua vez, teve alta de 7,11% no ano passado, pressionado pelo aumento dos custos de manutenção e da folha de pagamento de funcionários. A variação de preços, contudo, é bem elástica: chega a mais de 1 000% em São Paulo. Os condomínios mais baratos estão nos prédios de muitos conjuntos ou nos antigos que não possuem áreas de lazer.
Quanto ao aumento das tarifas de energia elétrica, cujo reajuste este ano deve superar o de 2010, não há muito o que fazer além de economizar para pagar a conta em dia. É bom lembrar que, durante a crise do apagão elétrico, em 2001, os brasileiros reduziram em 20% o consumo de luz sem grandes sacrifícios.
“Outra forma de se proteger é tornar-se sócio da distribuidora de energia comprando ações da companhia. Se o preço da energia aumentar, a empresa terá mais receita e você poderá ganhar com o rendimento dos papéis que estão na sua carteira de investimentos”, sugere Ricardo Torres, professor da BBS.
Trocar a empregada doméstica, que não sai por menos de 700 reais por mês em São Paulo, por uma diarista pode gerar uma boa economia nos gastos com habitação. O custo de se manter um funcionário tem pesado cada vez mais no bolso da classe média por causa dos sucessivos aumentos do salário mínimo. “Cortar esse gasto mensal e aplicar o dinheiro todo mês pode ser o passaporte para se tornar milionário em alguns anos”, diz Raphael Cordeiro, consultor financeiro de Curitiba.
Educação
Custo alto para estudar
Depois de subir mais do que a inflação em 2010, as mensalidades escolares ensaiam um novo salto neste ano. O reajuste médio deve ficar em torno de 7,5%, mas há casos de aumentos acima de 10%. Os preços refletem não só a inflação elevada no ano anterior como também os reajustes nos salários de professores e funcionários e, principalmente, o aumento da inadimplência.
Quem não quiser enfrentar o transtorno de trocar os filhos de escola pode tentar negociar com os colégios. As melhores instituições de ensino dificilmente negociam preço, até porque sempre existe alguém disposto a pagar o valor das mensalidades. Porém, há muitas, especialmente de nível Fundamental e Médio (que sofrem mais com os calotes), que costumam oferecer descontos de até 15% para quem quita o ano inteiro antecipadamente.
“A partir de 12% de abatimento, já vale a pena. É um ganho de rentabilidade em relação à poupança ou a qualquer outro investimento seguro”, explica Gustavo Cerbasi, consultor em finanças pessoais, de São Paulo.
Também é comum dar descontos na mensalidade ou isenção de matrícula para quem tem mais de um filho no mesmo colégio, desde que os pais sejam bons pagadores. “As pessoas têm preguiça ou vergonha de pedir o desconto e não sabem que o benefício pode chegar a 30%”, diz Luiz Carlos Ewald, economista e professor da FGV-RJ.
Com relação ao material escolar, a palavra de ordem é pesquisar. Em 2010, os produtos de papelaria subiram 6,1%. Os preços, porém, chegam a variar até 400%. Vale se reunir com um grupo de pais e comprar em conjunto, ou até no atacado, para obter vantagens que não se conseguiria sozinho.
Em 2010, os cursos de pós-graduação e de idiomas também tiveram aumentos acima da inflação: 6,93% e 6,56%, respectivamente. Hoje, uma alternativa eficiente para pagar menos é o ensino à distância, que já é oferecido pelas principais instituições do país. A graduação à distância pode custar três vezes menos que a convencional.
Também é possível fazer um bom MBA online por menos de 20% do valor de um curso presencial de primeira linha, que chega a 40 000 reais. No entanto, essa modalidade exige mais disciplina do aluno e, naturalmente, oferece menos oportunidades de contato e relacionamento entre colegas e professores.