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Quatro amigos fundaram o site Buscapé com 300 reais e negociaram a venda da empresa por 600 milhões de reais. Veja o que aprenderam com a experiência

EXAME.com (EXAME.com)

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José Eduardo Costa

Publicado em 29 de novembro de 2013 às 14h12.

São Paulo - Colegas de faculdade, os engenheiros paulistanos Romero Rodrigues, Rodrigo Borges e Ronaldo Takahashi, todos na casa dos 30 anos, fundaram o site de comparação de preços Buscapé, em 1999, antes mesmo de concluírem o curso.

O investimento inicial foi baixo, de 300 reais, mas bastou para o site atrair a atenção de investidores (E-Platform, Unibanco, Merrill Lynch e Great Hill Partners) que aportaram mais de 3 milhões de reais na ideia dos jovens empreendedores, em 1 999. De lá pra cá, eles passaram por diversas etapas.

De garotos populares ao estouro da bolha da web, em 2003. “Nas rodas de negócios, as pessoas nos tratavam como se tivéssemos uma doença contagiosa”, diz Romero, presidente do Buscapé. Há dois meses, os engenheiros voltaram ao estrelato, com a venda de 91% da empresa por 600 milhões de reais para o grupo de comunicação sul-africano Naspers, detentor de 30% da Editora Abril, que publica VOCÊ S/A.

O que torna o Buscapé uma companhia bem-sucedida é uma conjunção de fatores. Seus fundadores desenvolveram uma tecnologia própria de buscar e categorizar informações, fizeram um plano que identifica como rentabilizar o negócio e, por fim, criaram uma empresa com cultura meritocrática.

Cerca de 12% dos 348 funcionários do Buscapé têm stock options. Da sede da empresa, em São Paulo, os três fundadores do Buscapé deram a seguinte entrevista a VOCÊ S/A. O quarto fundador, o administrador Mario Letelier, fica no Rio de Janeiro e não participou da conversa.

VOCÊ S/A - Quais os planos para o Buscapé?

Romero: O primeiro é integrar as nove marcas que hoje compõem o Buscapé, algo que já estamos fazendo. O segundo é a internacionalização. Devemos lançar até o final do ano o serviço de consulta de preços do Buscapé em 28 países na América Latina, Península Ibérica, África e Ásia.


VOCÊ S/A - Quando vocês perceberam que a empresa estava se tornando grande?

Ronaldo: Para mim o grande marco foi o desenvolvimento do sistema Spider, em 1998, que tornou possível acessar o site das lojas, preços e condições de pagamento. É uma tecnologia 100% nossa.

VOCÊ S/A - E vocês ganham dinheiro com isso?

Rodrigo: As lojas nos pagam alguns centavos de real cada vez que recebem um clique do internauta. Ganhamos também com a publicidade no site.

VOCÊ S/A - Foi difícil negociar a venda de um projeto que vocês conceberam?

Romero: Não foi simples, mas consideramos quatro fatores: primeiro, os sócios fundadores queriam continuar na companhia. Segundo, o Naspers é um investidor estratégico, que quer estar na empresa pelos próximos anos, que permite que a gente toque o negócio como vinha tocando.

Terceiro, nosso objetivo sempre foi criar uma marca que mudasse para melhor a vida das pessoas e que todo mundo conhecesse — com o Naspers, a marca Buscapé continua. Quarto, o Naspers tem as maiores empresas de tecnologia do mercado russo, chinês, indiano e africano, e é fantástico para a gente poder acessar esse conhecimento.

VOCÊ S/A - Como vocês definiram quem ocuparia que posto na empresa?

Rodrigo: A decisão da posição foi por necessidade e perfil. No começo, como nós três somos engenheiros e a empresa precisava se estruturar, fizemos programação e o Mario [Mario Letelier, sócio fundador que atualmente ocupa a área comercial e fica no Rio de Janeiro], que é administrador de empresas, assumiu a área administrativa.

Com o tempo, o Mario foi deslocado para a área comercial e para o lugar dele destacamos o Ronaldo, que é o mais organizado de nós três. Apesar de o Ronaldo não ter background [formação e competência específica para tocar a área], ele foi lá e aprendeu a gerir a parte administrativa, que envolve o jurídico e o contábil.

Hoje, eu cuido da área de novos produtos, o Ronaldo cuida da área de distribuição e o Romero é quem tem a visão do todo e ocupa o posto de presidente.


VOCÊ S/A - Vocês discutem no dia a dia?

Ronaldo: Sim, bastante. Mas eu acho que cada um de nós foi capaz de enxergar as deficiências e os pontos positivos do outro e soubemos aproveitar o que cada um tem de melhor.

VOCÊ S/A - Como vocês avaliam a qualidade da mão de obra para contratar?

Romero: É um mercado novo, então não tem tanta mão de obra disponível do ponto de vista técnico. É uma grande oportunidade para quem quer aprender e acompanhar o desenvolvimento dessa indústria.

VOCÊ S/A - Vocês ainda entrevistam pessoas para os cargos abertos?

Todos: Sim. Existem 33 vagas no momento, principalmente para tecnologia, webdesign e produto.

VOCÊ S/A - O que é importante na hora de contratar alguém?

Romero: Se adaptar à nossa cultura, que é aberta, sem hierarquia rígida nem burocracia, e muito dinâmica. Tem que ter paixão pelo que faz e querer construir a empresa junto conosco. O que temos visto, principalmente nos jovens da Geração Y, é um imediatismo muito grande.

Eu ouvi um candidato, durante uma entrevista de emprego que fizemos, dizer: "Seis meses é muito tempo para mim". Vejo hoje cada vez mais currículos de profissionais que passaram por cinco empresas e não ficaram mais de um ano em cada uma delas. Eu acho isso uma característica ruim, considerando até o ponto de vista de carreira dessa pessoa.

Ela está perseguindo a coisa errada. Ou ela foi para uma empresa e não se apaixonou pelo projeto, ou ela foi, gostou e se desencantou muito rapidamente. Tem ainda quem está procurando apenas ganhar dinheiro. Esse cara, que se importa só com as finanças, não serve pra gente.

Nós estamos há 11 anos no mesmo projeto e ainda temos um baita tesão pelo que fazemos. Há características maravilhosas nos jovens da nova geração, mas nós evitamos a todo custo recrutar quem tem perfil imediatista. 

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