Brasileiro compara universidades da França, Espanha e EUA
Brasileiro que passou por USP, Sciences Po, Autónoma de Madrid e Stanford explica as diferenças na seleção e nos sistemas de ensino
Camila Pati
Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 19h00.
Última atualização em 17 de janeiro de 2017 às 19h00.
O currículo de Lucas Giannini, economista de formação que se graduou na Universidade de São Paulo ( USP ), reúne experiências em três países. Logo cedo, no começo da faculdade, o brasileiro colocou na cabeça que queria se internacionalizar e foi longe, passando pela Espanha, pela França e vivendo, agora, nos Estados Unidos.
Somando a vivência no exterior ao tempo no Brasil, são quatro instituições até chegar ao mestrado e MBA em Stanford, em solo americano. O que, afinal, ele buscava nesses outros países? “Eu sentia falta de ter uma diversidade maior de pessoas ao meu redor. Uma das coisas que achei que fazia falta nas discussões em sala de aula era a perspectiva internacional”, sintetiza ele.
Sabendo que desejava ter essa vivência fora do país, Lucas buscou na USP programas que o apoiassem nesse intercâmbio e conseguiu, no começo do terceiro ano de graduação. Nessa hora, o currículo e as notas pesaram, para que ele fosse selecionado nos convênios com a francesa Sciences Po e com a espanhola Universidad Autónoma de Madrid. Mas o sucesso em tais processos para estudar no exterior não fica restrito às notas.
Antes de tudo, como fica claro pela experiência de Lucas, a palavra-chave é preparação. Como qualquer passo na carreira e na vida acadêmica, é preciso entender o que cada vivência no exterior pode proporcionar. No caso dele, por exemplo, um dos caminhos foi identificar em qual campo do conhecimento cada instituição se destacava. Enquanto estudava em Madrid, o brasileiro aproveitou para se debruçar sobre a economia espanhola. “São elementos que devem pesar. Vale aproveitar o contexto, avaliar a instituição e ver no que ela é mais reconhecida do que a sua universidade no Brasil”, explica.
Outro ponto importante é, claro, o idioma. Mesmo que já tivesse algum nível de fluência tanto em francês quanto em espanhol, Lucas dedicou-se no começo da graduação a se aperfeiçoar. “A barreira linguística não é trivial. Eu tinha uma fluência bastante razoável, mas tive dificuldade em discutir temas complexos, de passar 100% do tempo falando aquele idioma. Leva um tempo até você acostumar.”
França versus Espanha
A comparação entre França e Espanha revela perfis de ensino com abordagens diferentes. Em solo francês, os professores chegavam à sala de aula pressupondo que todos os alunos haviam lido o conteúdo. A partir daí, traziam um caso para debate, como as políticas na área de saúde na Suécia, e a discussão começava. “Em geral, você até tem algumas oportunidades para tirar dúvidas. Só que o professor não vai ficar discutindo ou repetindo o que estava no livro, mas sim propor uma reflexão sobre o tema”.
Já os espanhóis optam por passar um conteúdo teórico e, em classe, aprofundá-lo, explicando seus aspectos mais complexos. É um formato mais próximo da estrutura brasileira. Comparando os dois sistemas, Lucas vê mais vantagens nas discussões, que se tornam mais dinâmicas e exigem mais conhecimento teórico logo de início. “Boa parte dos frutos que saíam da aula vinham dos alunos”, resume.
Na França, mesmo nas matérias introdutórias escolhidas, Lucas destaca que havia mais dificuldade, para acompanhar o ritmo e as reflexões dos colegas. “Você se sente mais frágil do ponto de vista teórico, porque exige muito mais esforço para se apropriar do conteúdo. As discussões ajudam a enxergar as suas fragilidades nesse sentido”, detalha o brasileiro. Ele recorda que, mesmo ao optar por uma matéria mais básica sobre as teorias da educação, precisou de um esforço individual muito maior.
Estudar nos EUA
Depois da passagem por universidades europeias e de retornar ao Brasil, Lucas optou por tomar o próximo passo e tentar uma vaga na Universidade Stanford , nos Estados Unidos. Dessa vez, como o nível educacional era outro, a application para o MBA somado ao mestrado em Educação também mudou.
Como os candidatos possuem mais anos de experiência e já estão inseridos no mercado, os examinadores conseguem balancear fatores ligados ao sucesso acadêmico e ao trabalho na hora agá. “Essas escolas buscam o seu potencial e querem ver aonde você vai chegar. Uma parte disso vem do que você já conquistou”.
Nas cartas exigidas no processo de candidatura, é necessário demonstrar um perfil de liderança e, claro, explicar quais os planos futuros. “É a ideia deles: o passado é apenas uma parte da promessa. A outra é o que você espera fazer no futuro”.
*Este artigo foi originalmente publicado pelo Estudar Fora, portal da Fundação Estudar