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"Boas ideias não conhecem fronteira", afirma curador do TED

Chris Anderson esteve no Brasil divulgando a conferência global do TED que acontecerá no mês de outubro na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro


	Público assiste a uma palestra do evento TED Conference nos Estados Unidos
 (Divulgação)

Público assiste a uma palestra do evento TED Conference nos Estados Unidos (Divulgação)

RK

Rafael Kato

Publicado em 13 de julho de 2014 às 12h24.

São Paulo - A primeira coisa que é preciso saber sobre Chris Anderson é que ele não é Chris Anderson, o antigo editor da revista Wired. Essa é parte da brincadeira que faz nas redes sociais e no encontro que teve com INFO.

Mas nem seria preciso reforçar a diferença. Anderson começou a carreira como jornalista, fundou uma editora e agora, por meio de uma fundação, é curador do balado circuito de palestras TED, evento famoso por disponilizar online seus vídeos com ideias inovadoras.

Anderson esteve no Brasil divulgando a conferência global que acontecerá no mês de outubro na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.  É sobre o evento que ele conversa nesta entrevista abaixo:

A visita do senhor ao Brasil é para garantir que tudo saia corretamente com a conferência?

Minha passagem pelo Brasil é mais de divulgação. Conversar com os intelectuais, com líderes, explicando do que se trata o TED e os convidando a participar como parte da audiência. Você tem as pessoas que dão as palestras e a comunidade que escuta essas palestras. De alguma maneira, a audiência do evento é tão interessante quanto quem está no palco. É assim que o evento precisa ser.

Eu tive a oportunidade de conversar com Tom Rielly recentemente sobre o TED Fellowship. Ele comentou que era um grande desafio organizar um evento na Praia da Copacabana. Agora, o problema parece outro, que é o de encher o evento. É isso mesmo?

Não é um problema. Estará lotado e estará lotado com gente interessante e com muita coisa a dizer.

Mas que tipo de pessoas vocês estão procurando? São políticos, empresários?

Estamos procurando pessoas que amam a curiosidade, pessoas que acreditam em ideais, pessoas que pensam que o futuro poderá ser modificado para melhor. Pessoas que acreditam que nós não passamos pela vida como passageiros, mas que passamos pela vida como agentes ativos. As pessoas do TED sonham grandes sonhos pelo fato de saberem que podem torná-los realidade. Muitas pessoas vão para lá para sonhar, para pensar de maneira inteligente, para inventar coisas, para inovar.

O senhor já conversou com muitas pessoas aqui. O que tem achado desse público em potencial? Quais diferenças o senhor observa entre os brasileiros e o público de lugares como Estados Unidos e Inglaterra?

As pessoas aqui têm sido muito receptivas, entusiastas de ideia novas, animadas. Nos Estados Unidos há um sentimento de que o sistema parece quebrado, de que a política parece quebrada. Claro que há problemas aqui também, mas há projetos que querem solucioná-los. Eu percebo um nível diferente de crença de que estas questões podem ser consertadas, de que coisas boas podem ser feitas. Há um sentimento positivo no ar e isso combina bem com o TED. A razão de virmos aqui é que há tantas pessoas no Brasil que podem oferecer seus talentos para o resto do mundo. Inovação, imaginação e boas ideias.  No longo termo, a ideia do TED é a de criar uma comunidade de pessoas que podem criar um futuro melhor. Boas ideias não conhecem fronteiras.

O sociólogo italiano Domenico De Masi tem argumentado que o Brasil pode contribuir para a construção de um novo modelo de vida, que não o americano ou o Europeu. O senhor acha que isso é possível ou que o TED pode contribuir para a construção de uma nova forma de organização da sociedade?

Eu não posso opinar muito sobre isso, pois com o TED não estou muito focado no que um país pode fazer sozinho. É muito mais interessante pensar no que podemos construir todos juntos. Eu não tenho dúvida de que o que é pensado aqui no Brasil precisa fazer parte de uma solução global. Assim como as grandes ideias que surgem na China ou na África. O meu foco é na humanidade. Meu foco é em quebrar as fronteiras. Não quero saber de que lugar uma solução é, mas sim se a solução é boa ou não para todos nós.

Se eu estiver correto, a única maneira de conectar todo mundo é por meio da tecnologia. As palestras do TED, por exemplo, estão na internet e com legendas em diversas línguas feitas pelos usuários. O que o senhor acha que a tecnologia pode fazer pelo futuro?

Isto é incrível. Eu me interesso muito em espalhar conhecimento. No início da internet, só os escritores podiam compartilhar textos. Atualmente, qualquer pessoa pode fazê-lo. Isto é muito poderoso, pois você passar a fazer milhares de conexões que não eram pensadas antes. Também há um forte potencial educacional nos próximos dez anos. Isso nunca aconteceu na história da humanidade: ter distante dez centímetros da sua cara uma aula com o melhor professor do mundo pela internet. Se nós dermos conhecimento, então nove bilhões de pessoas se tornaram uma força de transformação e criatividade e não mais apenas passageiros no planeta.

O senhor está otimista em relação ao futuro do planeta?

Há muitas coisas que me preocupam. E não digo de coisas óbvias como desigualdade e aquecimento global. Eu me preocupo, por exemplo, distração na internet. É um dos experimentos que estamos fazendo com o nosso cérebro e que ninguém ainda sabe a resposta. Há muitas coisas a se fazer hoje em dia no mundo conectado e muitas dessas coisas são improdutivas. Preocupo-me com a complexidade. A complexidade pode fazer coisas estranhas, como crises financeiras. Claro, por conta de um acesso maior aos noticiários, achamos que o mundo está pior hoje do que estava antes e, claro, os jornais procuram notícias ruins. Mas as notícias ruins estão diminuindo no mundo. Temos hoje um mundo menos violento, temos menos pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, as pessoas estão vivendo mais. Eu acredito que os fatos mostram que o mundo está melhorando. Não é uma visão otimista. É um fato. E o mundo, provavelmente, irá continuar melhorando. Se eu pudesse escolher uma era para nascer, eu o futuro. Algo por volta de 2040. As coisas que estão por vir serão maravilhosas. E o mais interessante é que estamos conectados. Qualquer individuo entre os nove bilhões é uma borboleta que bate as asas e impacta o sistema inteiro. É, definitivamente, uma época incrível para se estar vivo.

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