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A invasão asiática cria empregos para você

Chineses, coreanos e mais japoneses. As multinacionais do Oriente voltaram a investir pesado no Brasil. Logo, logo, você pode estar trabalhando em uma delas

Sam Shang, diretor da XCMG: estatal chinesa investe em duas fábricas no Brasil de olho na América do Sul (Tiago Lubambo/EXAME.com)

Sam Shang, diretor da XCMG: estatal chinesa investe em duas fábricas no Brasil de olho na América do Sul (Tiago Lubambo/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 28 de março de 2013 às 19h28.

São Paulo - No ano passado, o Brasil ficou em 5º lugar entre os países que mais receberam investimento estrangeiro direto. Em 2009, o país figurava na 15ª posição. Um dos efeitos desse maior fluxo de recursos financeiros é o aumento da oferta de vagas nas multinacionais, sejam elas grandes ou pequenas.

Somente no estado de São Paulo, 85 projetos estão em análise na Investe São Paulo, agência paulista de promoção de investimentos.

Em tese, essas iniciativas podem gerar 42 000 empregos diretos, estima a agência paulista com base nos prospectos dos investidores, que são europeus (31% dos projetos) e americanos (27%) em sua maioria. Há, porém, um terceiro grupo de estrangeiros interessados em aportar por aqui: os asiáticos.

Mesmo sendo apenas 23% dos projetos, atrás dos empresários e investidores europeus e americanos, as empresas asiáticas são as que têm maior potencial empregador, com 47% do total de vagas. Há neste momento 18 projetos de multinacionais, que incluem chinesas, coreanas e japonesas, em andamento apenas em São Paulo. Juntas, essas empresas anunciaram 17 000 vagas, que já começaram a ser preenchidas. 

O interesse das companhias asiáticas, inclui-se aí a Índia, vem se intensificando nos últimos cinco anos. E não está restrito a São Paulo. Estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Ceará e Pernambuco também estão no radar delas.

O ramo de atuação das múltis orientais são os mais diversos. Há fábricas de automóveis, de pneus, máquinas pesadas, empresas na área de óleo e gás, linhas de transmissão elétrica, tecnologia da informação, saúde e agronegócio.

A lógica por trás dessa invasão asiática é fugir das incertezas quanto ao futuro dos Estados Unidos e da Europa. Luciana Pazos, chefe da divisão de gestão de fortunas da sul-coreana Mirae Asset Securities, um dos maiores grupos financeiros asiáticos, com cerca de 75 bilhões de dólares sob gestão em todo o mundo e que administra no Brasil 2 bilhões de reais, sabe disso.

“A gente veio aqui porque entende que o Brasil vai ter uma série de oportunidades.” Entre suas tarefas está atender clientes asiáticos interessados em operações de fusões e aquisições aqui no país. Apenas da Coreia do Sul estima-se que cem organizações de vários setores estudem ou negociem sua instalação aqui. 

Os coreanos da Hyundai estão montando três novas empresas no Brasil: a Hyundai Motor Company, do segmento automobilístico, a Hyundai Elevadores, na área de construção, e a Hyundai Heavy Industry, fabricante de máquinas pesadas para atuar no segmento de infraestrutura. 

Essa última, em sociedade com a brasileira BMC, deve começar a produzir mais de 32 modelos de escavadeiras, retroescavadeiras e carregadeiras a partir do segundo semestre de 2012, na primeira fábrica fora da Ásia, que está sendo construída na cidade fluminense de Itatiaia. As contratações estão em aberto.

“O investimento especulativo é até necessário para impulsionar a economia, mas o investimento em processo fabril significa um degrau para o amadurecimento do país”, diz Felipe Cavalieri, presidente da BMC.  


A Hyundai Elevadores se instalará no Rio Grande do Sul, mas a escolha do local e o montante dos recursos ainda não são conhecidos. Já a Hyundai Motor começou há dois meses a contratar profissionais para a sua primeira fábrica, que está sendo construída em Piracicaba, no interior paulista, e deverá estar pronta no fim de 2012. A cada duas semanas são admitidos cerca de 50 novos colaboradores.

Os escolhidos para algumas funções técnicas passarão 40 dias no centro de treinamento mundial da Hyundai, na Coreia do Sul. Com a filial brasileira, a companhia completa sua estratégia de produzir automóveis nos quatro principais países emergentes — Brasil, Índia, China e Rússia.

O projeto é ambicioso e o objetivo é alcançar 10% do mercado local no primeiro ano de operação. Junto com outros nove fornecedores coreanos de peças e componentes que se instalarão na região, a previsão é gerar cerca de 5 000 empregos diretos. 

Mais setores

O setor automotivo é, por sinal, um dos que mais deverão empregar nos próximos 12 meses. O Brasil tem hoje 45 marcas diferentes operando de alguma forma no país ou estudando o mercado brasileiro. Pelo menos três chineses e uma japonesa estão investindo na construção de uma primeira fábrica por aqui.

A japonesa Suzuki começará a montar carros em Itumbiara, Goiás, até o fim de 2012. Numa primeira fase, serão criados 600 novos empregos. Destes, 280 já estão preenchidos.

Com tantos concorrentes, Luiz Rosenfeld, presidente da Suzuki Brasil, admite que terá dois desafios pela frente: encontrar e reter os talentos. “O que nós temos feito é recrutar pessoas mais experientes com o objetivo de atrair os mais juniores pelo lado do aprendizado.” As chinesas Chery e Lifan têm fábricas previstas para iniciar operação em 2012 e 2013.

A JAC Motors também, como a VOCÊ S/A havia antecipado, na edição de abril, quatro meses antes do anúncio feito no mês passado.

E se o assunto é carro, pneu também faz parte da conversa. Apostando nessa leva de novas montadoras e de mais automóveis nas ruas e estradas, a fabricante japonesa de pneus Sumitomo Rubber oficializou recentemente sua vinda ao Brasil, mais precisamente para a região metropolitana de Curitiba, no Paraná.

No entanto, as primeiras contratações só devem começar em outubro, quando o executivo Ippei Oda virá do Japão para assumir a presidência da filial brasileira e iniciar o projeto. Até as companhias que estão aqui há mais tempo pegam carona nessa onda para reforçar a imagem. 

É o caso da nipônica fabricante de equipamentos de impressão Ricoh, presente no país há 30 anos, que planeja dobrar seu quadro de funcionários no Brasil, em 2012, de 200 para 400 profissionais nas áreas de vendas, marketing, suporte de produto e gerenciamento de pós-vendas.

A Toyota também se prepara com uma nova fábrica, em Sorocaba, no interior paulista. A maioria das 1 500 vagas será preenchida a partir de novembro.


Na área de construção e infraestrutura, além da sul-coreana Hyundai Heavy Industry, o Brasil ganha duas chinesas. A Sany, com uma fábrica no interior paulista, e a gigante estatal XCMG, que constrói, em parceria com sua representante Êxito, uma linha de montagem de carregadeiras e retroescavadeiras no porto de Suape, em Pernambuco, e uma fábrica própria em Pouso Alegre, Minas Gerais, para a construção de outros modelos a partir de 2013.

“O Brasil tem uma grande demanda por esse tipo de equipamento, e produzir aqui significa entregar mais rápido não somente para o mercado brasileiro mas também para a América do Sul. Essa é nossa intenção”, afirma Sam Shang, diretor comercial para América e Oceania da XCMG. 

As indianas também estão de olho no Brasil. Até o momento, 28 empresas operam no país, segundo a Câmara de Comércio Índia-Brasil. A mais recente é a Micromax, que já estuda a vinda de uma unidade de produção de aparelhos celulares. A organização começou no mês passado com a venda de alguns modelos no Nordeste.

Até o fim do ano, chega às outras regiões. Fundada em 2008, alcançou 10% de marketshare na Índia. “Os diretores entenderam que precisavam expandir para países com consumo similar ao da Índia”, diz Mauro Federici, gerente-geral da Micromax Brasil. Três locais já foram identificados para a fábrica, mas, por enquanto, é segredo. 

Concorrência de mão de obra

Com o maior fluxo de investimentos estrangeiros, o Brasil não só gera emprego e renda como também passa a ser vitrine para profissionais qualificados de outros países.

Em um país com sérios problemas de ensino e de geração de mão de obra capacitada em quantidade suficiente para atender ao mercado, a dica é se preparar para a concorrência. Uma pesquisa com estudantes da Universidade Harvard apontou o Brasil como o terceiro país em que eles gostariam de trabalhar, atrás de China e Índia.

Desde 2008, as autorizações concedidas para estrangeiros com contrato de trabalho de até dois anos cresceram de 2 339 para 4 052, em 2010. Até junho deste ano, o número era de 2 429. “O Brasil está vivendo um momento em que é preciso mais do que nunca investir na qualificação profissional e se preparar para essa disputa com estrangeiros aqui dentro”, diz o professor Michel Fleuriet, da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. 

Além de não encontrar emprego em seu país de origem, caso de americanos e europeus, os estrangeiros são atraídos pelos salários. Os executivos brasileiros estão entre os mais bem pagos do mundo. “As empresas no país estão muito agressivas, principalmente as startups, que chegam a dobrar ofertas de salário no mercado”, diz Marisabel Ribeiro, da consultoria Mercer.

Se as análises de mercado estiverem corretas, a crise financeira mundial vai continuar e os países emergentes terão um papel mais determinante na economia global. Se quiser aproveitar essas oportunidades, a chance é agora. 

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