Carreira

Sobram vagas em TI, mas falta a qualificação certa

Com muitas opções de emprego e uma demanda constante por mão de obra, pode parecer fácil fazer carreira em tecnologia da informação. Mas só se destaca quem desenvolve uma formação consistente e com conhecimentos relevantes

Fabrício Silveira, da Full Squad: "Queria trabalhar para mim mesmo, era o meu sonho" (Alexandre Battibugli / VOCÊ S/A)

Fabrício Silveira, da Full Squad: "Queria trabalhar para mim mesmo, era o meu sonho" (Alexandre Battibugli / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 19 de março de 2013 às 18h58.

São Paulo - Com uma média de crescimento anual de 10%, uma das maiores do mundo, o mercado de tecnologia da informação vive um momento especial no Brasil. Em 2011, as empresas investiram na área 60 bilhões de reais, um recorde histórico, de acordo com a consultoria IDC.

Esse crescimento acelerado leva a uma enorme carência de mão de obra especializada. A estimativa da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação diz que seriam necessários 100.000 profissionais para dar conta do trabalho existente no setor.

O cenário, porém, não é favorável para todos. O que as organizações mais querem e têm dificuldade de encontrar é gente qualificada. "É um mercado bastante exigente", resume Luiz Antonio Jóia, coordenador do MBA executivo em gestão estratégica da tecnologia da informação da FGV Management, do Rio de Janeiro.

"É comum encontrar profissionais que, apesar de ter experiência, estão estagnados nos departamentos de TI com o mesmo salário há anos", diz o professor. 

A receita para evitar a paralisia na carreira é atualizar-se. Mas, no caso da TI, é preciso saber escolher as tecnologias que realmente terão importância no mercado no médio prazo. Em linhas gerais, o foco está em buscar ser o profissional que oferece inteligência para a empresa, e não apenas um apertador de botões. Há tantas opções de formação de carreira quanto possibilidades para o sucesso.

A graduação é, sem dúvida, o primeiro passo: tanto as opções menos ortodoxas, como administração com foco em tecnologia e engenharia computacional, quanto os cursos tradicionais, como sistemas de informação e ciência da computação.

Se o primeiro passo já é confuso, quando se olha a pós-graduação, as certificações e os cursos com fornecedores, as opções vão se empilhando a ponto de enlouquecer qualquer um. Segundo pessoas da área, executivos de RH e consultorias, das muitas vertentes do mercado de TI, três oferecem as melhores oportunidades nesse momento: desenvolvimento de software, segurança da informação e gestão de projetos. 

Desenvolvimento de software

Nas fase pré-histórica da informática, gênios como Bill Gates, o fundador da Microsoft, criavam programas na garagem de casa. Hoje, o mercado é muito mais profissional. O interessado em programar e trabalhar com desenvolvimento precisa de uma estratégia de carreira muito mais cartesiana — graduação, pós e cursos de certificação.


Nessa área, uma regra importante é optar por instituições de boa qualidade, que realmente podem dar alguma distinção ao profissional num mercado saturado de ofertas de baixa qualidade em educação. "Procure escolas reconhecidas no mercado e prepare o bolso, porque vai custar caro", diz Eduardo Moura, diretor de TI da Rede Plaza de Hotéis, Resorts & SPAs e dono da consultoria Telway.

Formado em Ciência da Computação, Fabrício Silveira, de 26 anos, foi programador de um grande banco e depois passou a trabalhar com a otimização dos resultados de buscas no Google (a técnica de SEO). Depois dessas duas experiências, resolveu empreender. Com quatro amigos, ele abriu a Full Squad, empresa de aplicativos e games que já conquistou clientes como a rede de shopping centers Iguatemi. "Queria trabalhar para mim mesmo, era o meu sonho", diz. 

As certificações parecem ser inevitáveis para quem quer atuar no desenvolvimento de softwares. Além disso, buscar certificações significa fazer escolhas de carreira. Seja ao optar por uma linguagem específica, como Java ou PHP; por um modelo, como código aberto; por uma metodologia, como Scrum; ou, ainda, por um fornecedor, é preciso começar a fazer os cursos e garantir as certificações tendo em vista o caminho que você pretende seguir.

São elas que vão abrir espaço para que o candidato consiga entrar numa empresa para começar sua carreira. Mas é bom lembrar que acumular uma série de títulos de certificações não garante empregabilidade. "As certificações por elas mesmas não garantem sucesso", diz Diego Peroni, CIO da Rakuten Brasil, loja de comércio eletrônico.

"O que importa é transformar seu conhecimento em criatividade para transformar uma linha de código em mais uma venda, maiores lucros e clientes mais satisfeitos."

 Segurança da Informação

Se no início pouquíssimos sabiam o que era um vírus ou um worm, o cenário hoje está bem diferente. As pragas fazem parte da atuação cotidiana de qualquer companhia. É por isso que alguém que queira se tornar especialista em segurança da informação precisa conhecer como funciona a tecnologia por dentro para tentar proteger a empresa contra os criminosos digitais.

É possível começar a especialização na graduação, mas esse não é o melhor passo. Quem afirma é Domingo Montanaro, que deixou a vida de hacker para dar palestras sobre ética virtual no Brasil. Nessa área, diz Domingo, a pessoa precisa ser viciada em tecnologia e programação.

"Acho muito difícil o profissional de segurança da informação ser bem-sucedido sem entender a tecnologia por trás daquela informação — do impulso elétrico, passando pela linha de código do sistema operacional, até a tela do usuário", diz Domingo.  


Como a área paga bem, uma armadilha perigosa é se acomodar nos estágios iniciais. Por isso, quando um profissional escolhe se especializar em segurança, uma dose de ambição é necessária.

"Não basta aprender, é preciso aprender para aplicar no negócio da organização", diz Francisco Amaral, diretor acadêmico do Centro de Pós-Graduação da Fiap."Certificações como a Cissp podem também ajudar a garantir que o crescimento na área seja contínuo."

Gestão de projetos 

Dentro do setor de TI, a gestão de projetos é a área que oferece mais dinamismo, senso de empreendedorismo e uma relação mais próxima com o cliente. Para quem tem formação em tecnologia e visa crescer nessa especialidade, o dilema mais comum é saber a hora de buscar a certificação PMI, oferecida pelo Project Management Institute.

Uma das mais importantes do mercado, ela abre melhores perspectivas de carreira para quem quer crescer em gestão de projetos, além da possibilidade de melhor remuneração. Há, em geral, dois caminhos: a via expressa e a mais lenta. A primeira envolve os cursos preparatórios, de 30 a 90 dias, que facilitam a conquista do título e já dão indicativos sobre a atuação dentro da metodologia.

Mas o caminho mais rápido nem sempre é o mais eficiente. Se o profissional não tem urgência em obter a certificação, são mais recomendáveis os programas de pós-graduação de um ano, com duração de 360 horas de aula. Neles é possível estudar com maior profundidade as questões relativas à gestão de projetos e, ao mesmo tempo, ter contato com o conteúdo de preparação para o exame de certificação.

"As vantagens são a qualificação e a maior especialização", diz Valderes Fernandes Pinheiro, diretor acadêmico da Faculdade Impacta Tecnologia. O curso de longa duração também proporciona maior interação com professores e especialistas na área, ajudando a desenvolver a rede de contatos, fundamental nesse setor. 

Seja qual for o caminho escolhido, as perspectivas são boas para quem optar pela área de TI. Por mais que faltem números específicos sobre as vagas e os postos mais difíceis de ser preenchidos no Brasil, as conversas com CIOs deixam claro que há oportunidades.

"É muito difícil encontrar um bom gerente de projeto com certificação por uma instituição reconhecida e com fluência na língua inglesa. É uma carreira em que o jovem profissional terá espaço", diz Luis Janssen, CIO da Yara Fertilizantes. 

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