homem com raiva (Andy Sotiriou/Thinkstock)
Claudia Gasparini
Publicado em 21 de outubro de 2016 às 06h00.
Última atualização em 21 de outubro de 2016 às 06h00.
São Paulo — A inteligência emocional é uma competência decisiva para sobreviver à instabilidade crescente do mercado de trabalho. No entanto, é muito difícil avaliar o seu grau de desenvolvimento dessa habilidade — ainda mais se você pretende fazer isso sozinho.
De acordo com João Marcelo Furlan, sócio-fundador da Enora Leaders, é possível fazer uma autoavaliação da sua inteligência emocional, mas a taxa de acerto costuma ser baixa. “Dificilmente você tem uma noção exata de como interage socialmente”, explica. “O ideal é que outras pessoas contribuam com suas opiniões e percepções sobre você”.
Além de complementar essa análise, diz o especialista, o próprio ato de pedir feedback a chefes, colegas e subordinados também ajudará você a desenvolver as suas habilidades comportamentais.
Embora seja difícil avaliar profundamente a sua própria inteligência emocional sozinho, certas perguntas podem estimular reflexões interessantes, diz Adriana Gattermayr, coach e consultora da Gattermayr Consulting.
Veja a seguir um roteiro de questões, sem valor científico, que pode servir como gatilho para a sua busca por autoconhecimento:
1. Quais são os sentimentos mais frequentes na sua rotina de trabalho? Você saberia dizer por que eles aparecem com tanta regularidade?
Segundo Gattermayr, a resposta indicará se a pessoa consegue perceber, diferenciar e nomear suas próprias emoções. “Quanto maior o número de sentimentos lembrados e descritos, melhor”, diz a consultora. Conseguir explicar por que aquelas emoções são as mais frequentes na rotina conta pontos extras. Quando você percebe seus padrões de comportamento, tem mais facilidade para prever e gerenciar certas reações.
2. Pense em duas situações que lhe causam medo, duas que desencadeiam raiva, duas que trazem indignação e duas que geram tristeza. Quais pensamentos e reações cada uma dessas situações provoca?
Uma das capacidades testadas por essa pergunta é, novamente, a de discernir as próprias emoções. Além disso, a questão avalia qual é o seu modelo mental. “O medo gera fuga? A raiva provoca mudez? Se você consegue reconhecer facilmente os seus mecanismos psicológicos mais típicos, isso significa que você tem um nível alto de inteligência emocional”, explica Gattermayr.
3. Quais são meus pontos fortes e fracos? Tenho confiança nas minhas próprias habilidades?
O que pretende ser medido por esse enunciado é o seu grau de autoconhecimento. Pessoas que fazem uma boa gestão das suas emoções geralmente sabem muito bem quais são seus diferenciais e suas lacunas. De modo geral, costumam ser autoconfiantes. “É diferente de ser arrogante, porque o arrogante é um autoconfiante que não sabe gerir seus próprios relacionamentos e deixa de ser apreciado socialmente”, diz Furlan.
4. Pense em alguém que o irritou ou magoou, sem que isso tenha se resolvido até o momento. Agora imagine que você é o advogado de defesa da pessoa e deve argumentar a seu favor nessa situação. O que diria?
Aqui, a resposta dará pistas importantes sobre a sua capacidade de empatia. Se você é capaz de fazer uma boa defesa de quem o magoou, provavelmente conta com alto nível de inteligência emocional. “Quem consegue se colocar no lugar dos outros e sentir as emoções alheias tem uma boa percepção social”, diz Gattermayr. Captar o que o outro está sentindo, mesmo que ele não o diga, é uma habilidade bastante rara, mas extremamente útil no mundo do trabalho.
5. Quando está numa situação de estresse ou confronto, você normalmente culpa os outros, culpa a si mesmo ou culpa a situação?
Cuidado: escolher qualquer uma das três opções depõe contra a sua inteligência emocional. Segundo Gattermayr, uma pessoa com facilidade para gerir emoções não perde tempo culpando ninguém. “Qualquer situação envolve uma responsabilidade, e não culpa, do outro, sua própria e da situação”, diz ela. “A resposta ideal é dizer que isso não importa, e que a energia deve ser direcionada para a resolução do problema”.
6. Aceito mudanças facilmente?
A sua resposta à pergunta deve ser sincera: você lida bem com as transformações mesmo quando elas tiram você da sua zona de conforto? Furlan explica que a capacidade de adaptação está diretamente ligada ao autocontrole. “Muita gente tem medo da mudança porque não sabe quais serão os seus efeitos sobre si mesmo”, diz ele. Se você é flexível e consegue acompanhar os movimentos da vida, causará menos sofrimento a si próprio e aos demais.
7. Um dos seus subordinados sempre causa brigas na equipe. Um dia, você chega ao trabalho e percebe que há outra situação de confronto. Qual a primeira coisa que faz?
Quem tem baixos níveis de inteligência emocional tende a rotular as pessoas, diz Gattermayr. “Em vez de imaginar diversas hipóteses para explicar o que aconteceu, essa pessoa vai questionar o ‘briguento’ para saber que ‘besteira’ ele fez, porque já pensa que ele é o culpado por qualquer conflito”, explica ela. Por outro lado, pessoas com uma boa gestão das emoções são mais livres de preconceitos e consideram explicações menos “dramáticas” para os problemas.
8. Ao ser atacado verbalmente, o que você faz?
Esta pergunta serve para checar a sua autodisciplina. Diante de uma agressão, a reação instintiva de qualquer um é revidar ou fugir. "Para quem tem inteligência emocional, essa resposta é mais estratégica", diz Gattermayr. "Primeiro escuta o ataque, usa a empatia para captar que tipo de emoção está por trás daquilo e então procura responder a esse sentimento do outro".