Executivo com a mão na boca (g-stockstudio/Thinkstock)
Claudia Gasparini
Publicado em 22 de maio de 2017 às 15h00.
Última atualização em 22 de maio de 2017 às 15h00.
São Paulo — O mundo do trabalho mudou (e muito) nos últimos anos. A gestão se tornou mais horizontal, as paredes divisórias dos escritórios caíram e, consequentemente, a relação entre chefes e subordinados se tornou muito mais próxima do que no passado.
O efeito colateral disso é que, muitas vezes, a informalidade acaba sendo confundida com intimidade — e pode gerar certas distorções. Convencidos de que podem falar o que quiserem para seus gestores, alguns profissionais exageram na dose e acabam sendo inadequados.
Para Eduardo Ferraz, consultor e autor de livros sobre carreira, a maior parte dos conflitos no trabalho vem de falhas na comunicação. Uma frase mal colocada pode azedar a sua relação com o seu chefe — um componente delicado e valioso para o seu sucesso.
Mesmo quando há amizade e confiança, diz Ferraz, o relacionamento nunca prescinde de um ingrediente básico: a hierarquia. Para não atropelá-la, é preciso ser habilidoso na hora de falar com o líder e prestar atenção à forma como você estrutura as suas frases, afirma ele.
Segundo Ricardo Karpat, diretor da consultoria Gábor RH, a intensidade da convivência, por si só, também abre portas para desentendimentos. Onde há interação humana, afinal, existe potencial para conflito. Daí a importância de ser cuidadoso com o quê — e como — falamos no dia a dia.
A seguir, Karpat e Ferraz reúnem 7 frases emblemáticas que podem colocar o seu gestor contra você:
É perfeitamente válido questionar a finalidade e o sentido das suas atividades. Afinal, dizer “sim” para tudo que seu chefe pede é comprovadamente uma péssima estratégia de carreira.
Porém, recusar-se terminantemente a fazer um trabalho só porque ele não consta no seu escopo original de atividades pode soar como falta de comprometimento. “Ainda mais nos dias de hoje, quando há demissões em massa e as equipes andam cada vez mais enxutas, uma frase como essa não pega nada bem”, diz Ferraz.
Alegar que você não fará algo porque não é pago para isso dá a entender que o seu interesse no trabalho é subordinado ao salário, e só. Se você não concorda com uma tarefa, é melhor buscar argumentos melhores para não fazê-la.
Uma das experiências mais desagradáveis para um gestor é ser comparado com o seu antecessor, especialmente se o outro for referido como alguém mais sábio ou competente.
Por isso, ao fazer referência aos métodos e preferências do seu ex-chefe, é importante tomar cuidado com o seu tom. “Pode soar como um pretexto para não seguir as orientações do seu gestor”, alerta Ferraz.
Afinal, evocar antigos processos como se fossem “lei” deslegitima qualquer possibilidade de atuação do seu novo chefe. Em vez de usar a tradição como escudo, é melhor se abrir para novas práticas e pedir ajuda caso você tenha dificuldade em assimilá-las.
Na visão de Karpat, é ilegítimo apontar a situação de outras pessoas da equipe para expor as suas insatisfações com o trabalho. Você recebeu um relatório para fazer enquanto seu colega está distraído nas redes sociais? Não necessariamente ele não receberá outra tarefa quando você estiver mais tranquilo, argumenta o especialista.
Além de levianas, as comparações fazem com que você transfira a responsabilidade sobre o seu próprio trabalho. “Se você errou e o seu colega também errou, você continua sendo responsável pelo seu erro”, diz Karpat.
Protestar contra um método de trabalho só porque outro departamento opera de forma diferente também não é válido. Todos os seus eventuais argumentos devem refletir a sua realidade, e não a vida alheia.
Em reuniões de feedback, algumas pessoas se defendem de comentários negativos dos seus chefes tentando minimizá-los. Uma das formas mais comuns — e desagradáveis — de fazer isso é dizer que o gestor é o primeiro a fazer aquela observação.
Recado implícito: aquela crítica não faz sentido. “Os chefes ficam furiosos com frases assim”, diz Ferraz. Afinal, é uma forma de deslegitimar as suas opiniões e, o pior, fechar-se totalmente à mudança de comportamento pedida por ele.
A melhor forma de reagir a um feedback, mesmo que você discorde dele, é ouvir, refletir com calma e tentar extrair algo de produtivo do que foi dito. Qualquer fala que denote desprezo à visão do seu gestor pode soar como arrogância e má vontade.
Karpat e Ferraz são unânimes na avaliação de que ultimatos não são nada saudáveis na relação entre chefes e subordinados. Prêmios como aumentos ou promoções não devem ser resultado de pressões ou ameaças, mas sim angariados por mérito.
Se você quer um aumento, tenha bons argumentos, invista numa negociação inteligente e justa, mas nunca coloque a faca no pescoço do seu chefe. Além de provavelmente fadada ao fracasso, essa tática cria um clima de hostilidade e desconfiança entre as partes envolvidas.
Mesmo que o ultimato funcione e você ganhe a recompensa desejada, você deixará uma mancha na sua reputação e poderá lembrado como chantagista no futuro.
Está vivendo um momento de estagnação profissional? A responsabilidade por esse fato é compartilhada tanto pela empresa quanto por você. Dizer ao seu chefe que ele é o causador do problema denota imaturidade, segundo Karpat.
“O liderado também precisa cavar o seu espaço para ser notado e progredir na carreira”, afirma ele. “Dizer que a empresa não dá oportunidades é transferência de responsabilidade, ou seja, uma postura realmente desaconselhável”.
Se você está sentindo dificuldade para crescer, é importante conversar com o seu chefe, mas de forma equilibrada, evitando acusações. Compreender que você também é responsável por essa situação é o primeiro passo para um diálogo produtivo.
Esta frase é emblemática de outro comportamento que pode desgastar a relação com o seu chefe: pedir favores um tanto exagerados com base no poder de influência que ele supostamente tem sobre camadas hierárquicas superiores.
Para Ferraz, solicitações do tipo soam como se você estivesse tentando instrumentalizar o seu gestor para subir na carreira. Dependendo da forma como você fala, pode parecer que você está usando seu chefe como “degrau”.
Não é proibido pedir para o seu gestor interceder por você em determinadas situações ou mesmo apresentá-lo a contatos que podem fazer a diferença para o seu sucesso profissional. “Pedidos são válidos, desde que se tome cuidado com tom, contexto, timing e pertinência”, afirma Ferraz.